sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Caim


Se me perguntassem qual a minha primeira impressão sobre a leitura concluída do livro Caim, atendendo às vociferações em tom de inquisição que se escutam, lêm, e se vêm por aí, eu diría - a montanha pariu um rato.

Aos que conhecem a escrita e estilo de Saramago, não lhes é difícil adivinhar que o autor se mantém fiel ao seu modo próprio, estilo - penso, logo escrevo, tal como penso. Saramago sempre foi, na minha modesta opinião, entre outros adjectivos, directo, claro, incisivo e mordaz. Os seus leitores sabem-no, e esperam-no assim. Por outro lado, o escritor atingiu um estatuto, idade, e refinamento, que só o podem fazer apurar esses seus particulares.

Saramago é para se gostar ou odiar. Os que gostam lêm-no, relêm-no e discutem-no, os que o odeiam, tentam, em vão, ignorá-lo e na ausência de argumentos válidos, uns por burrice mesmo, outros por ignorância, dado que lhes é auto-interditado ler ou sequer folhear-lhe os escritos. Avestruzes, portanto. Maldizentes.

No entanto, não tenho a mínima dúvida que a caravana de Saramago, continuará a sua marcha, não obstante os latidos. Assim Deus, o Deus bondoso, não vingativo e que perdoa os seus filhos, lho permita.

Da leitura do livro ficou-me uma divertida narração da interpretação do autor, sobre dada parte do livro Bíblia. Já o mesmo dissera que não inventou factos, que tudo vem escrito no livro sagrado, e não fossem realmente alguns episódios relatados, serem macabros e violentos, dir-se-ia estarmos perante uma interpretação de uma fábula ou do livro de aventuras do Super-Homem - tal como podemos imaginar que as serpentes falam, ou que os anjos existem e são dotados de forças sobre-humanas, podemos de igual modo imaginar que o País das Maravilhas é uma espécie de Éden, os ratos falam, e que o Super-Homem dotado de forças sobre-humanas afinal é um anjo, só que, com capa e sem asas.

Saramago pensou e escreveu. O que escreveu põe-nos a pensar. Esse é o receio dos seus opositores. Em Caim, são colocados para apreciação do leitor, factos narrados, os quais a serem verdade nos diriam ser possível, Adão e Eva viverem centenas de anos, que a arca de Noé existiu, e que um dilúvio cobriu o planeta terra, Everest incluído, ou que um pai tem de matar um filho para mostrar devoção ao Senhor. Por exemplo.

Outros autores, antes de Saramago, tocaram nos pergaminhos da Igreja, outros escritos já colocaram senão a dúvida, pelo menos a discussão, sobre as veracidade e autenticidade dos escritos bíblicos. Saramago limitou-se a colocar a questão - que Deus é este que manda matar, que arrasa cidades, mata crianças, vingativo? Não creio que algum ser humano saiba, o que, ou quem é Deus. Nem Saramago, nem o Papa, nem eu, nem ninguém. Acreditar ou não, naquilo que se quer, é-nos lícito. Respeitar ideias, mesmo que antagónicas, é, ou deveria ser implícito. São questões de fé, já aqui se disse duas vezes, e em questões de fé, cada um tem a sua. Respeite-se.
......
"My sweet lord
Hm, my lord
Hm, my lord
I really want to see you
Really want to be with you
Really want to see you lord
But it takes so long, my lord
My sweet lord
Hm, my lord
Hm, my lordI really want to know you
Really want to go with you
Really want to show you lord
That it wont take long, my lord (hallelujah)
Hm, my lord (hallelujah)
My sweet lord (hallelujah)
I really want to see you..."

5 comentários:

  1. Respeito? Mas existe lá conceito mais utópico, quando aplicado à Humanidade?

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  2. Tens razão CF. É utopia sim, mas continuo um pouco sonhador :)

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  3. Tenho de ler isso :):) é só uma questão de tempo...

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  4. Quem é o Saramago?
    É aquele patriota que resolveu morar em Espanha e que agora fala como os jogadores de futebol que estiveram 3 meses em Espanha?
    Ou é aquele outro que é do PCP, e depois já deixou de ser, e depois voltou a ser e agora nas autárquicas contra o PCP apoiou o Costa?
    Ou é aquele que face ao Padre Carreira das Neves se retratou esta noite?
    Não tenho inteligência para acompanhar o personagem, mas que fica bem, fica...
    Agora não juntes é o My Sweet Lord a isto, meu...

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Sputnickadelas