sexta-feira, 30 de julho de 2010

ser peão

Todos somos, em algumas ocasiões, peões na estrada. A quem conduz cabe, por experiência redobrada, adivinhar que muitas pessoas em situação de peão, abusam desse direito, nas passadeiras, porque a coberto da lei, se julgam uma espécie super-protegida, e vai daí, vez ou outra ou por hábito, em trajecto rectilíneo pelo passeio, mudam bruscamente, e sem olhar, de rota a 90 graus, e tomam de assalto a passadeira como se fosse uma meta, pois os gajos dos carros que parem. Gente estúpida essa que quase procura uma colisão, invocando o direito de intocável na passadeira, sem se capacitarem que sendo atropelados, o corpo é que paga, juntamente com a seguradora do automobilista.
Hoje, calhou-me a mim, uma senhora fazer essa manobra, e atento que estava, testei ali mesmo o ABS, colando o carro ao chão. Às palavras que a dita pronunciou não as ouvi, apenas deduzo que não eram bonitas, pois abri o vidro e disse-lhe - isso é o teu pai, e pela cara com que a deixei, a coisa ficou mais brava.
Claro que não era a menina da foto. Caso fosse, ao parar, saía do carro, estendia-lhe uma passadeira vermelha e só lhe diria coisas bonitas.

António Feio


Foi com esta cara que te conheci, na tv dos anos sessenta.
Foste chamado a pisar outros palcos.
Comovi-me quando o Nuno te ofereceu o Oscar. Tu também.
Não conseguiste matar o bicho, de tanto o fazer rir.
Como disse o Herman, a tua morte não faz qualquer sentido.
Como se outras fizessem...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Gonzo


... by request
muuuuuuuito bom!!!

pontos cardeais

Hoje, os meus horizontes, a leste, a sul, a oeste e a norte, foram apenas estes estes.
...










quarta-feira, 28 de julho de 2010

perturbador

Em fim de serão espalho-me pelo sofá e coloco este filme no dvd. O aviso é dado no início - este filme é perturbador. A ser fundamentado em dados reais, pode ser sim, embora o pouco que vasculhei aqui pela net diga que não, contudo é um filme interessante, e abrindo o campo das possibilidades da imaginação, direi que as situações relatadas são possíveis, pois não é apenas o que conhecemos,a fronteira da possibilidade. Pelo que tem de haver lugar ao crédito, não desmedido, ao que não se conhece, ao que não se vê, ao que ainda não sabemos, ao mistério.
Apesar de tudo, não me tirou o sono. Adormeci com um pensamento bem mais agradável do que a polémica do 4th kind.
Agora vou-me banhar, que um dia de folga tem sempre as horas mais curtas do que os restantes dias.

Poirot



De um serão em esplanada, com malta amiga, cometi a imprudência de tomar duas bicas, que madrugada dentro, me deixaram desperto, eu que, durmo como uma pedra. Recorro à tv, para chamar o sono, recurso eficiente tantas vezes aplicado em outras horas. Dou de caras com o Poirot, o que não deixa de ser coincidente com algumas considerações que fui fazendo ao longo da noite de espertina. Anos houveram, que devorei seguramente uns quarenta romances da Agatha Christie, e em poucos, adivinhei o desfecho. Contudo de tanto a ler, tornei-me parceiro virtual do Poirot, admirando-lhe o estilo inconfundivel, e ainda hoje tão actual, no que respeita à análise que fazemos ao comportamento e acção das pessoas. E tal como nos romances de Agatha, na vida real, tudo tem de encaixar certinho, tal como num puzzle, a lógica tem de se revelar, e a nossas constatações tornam-se óbvias. E no final do acto, tudo faz sentido. Mais - só poderia ser assim. Nem que seja por exclusão de partes.

O filme, o clássico Morte no Nilo, não o vi até ao fim. O efeito foi conseguido - adormecer-me. O outro efeito também - o de me relembrar que as pessoas se revelam e se traem nos pequenos detalhes. Agucemos o bigode, e exercitemos as células cinzentas.

terça-feira, 27 de julho de 2010

vão-se os anéis...

... ficam os dedos, dizia-se.
Hoje, podemos actualizar o ditado com variantes, tipo, ficam os dedos e as fotografias das férias, ou ficam os dedos e o lcd e o frigorífico, ou ainda, ficam os dedos, e o carrito à porta pelo menos por mais dois meses.
A notícia recente de que os portugueses estão a vender o seu ouro ao desbarato, nas lojas que poliferam por aí, anunciando a compra de ouro, revela um pouco o espelho do enorme buraco onde estamos metidos, bem como da desesperada, e em muitos casos, derradeira tentativa do pessoal manter as aparências.
Todos sabemos como tradicionalmente esse ouro vem parar às mãos das famílias. Vem dos nossos pais, que o receberam dos nossos avós, que certamente o receberam dos seus pais. Dos meus avós me foram passadas pequenas jóias, de beleza e estima, com muito mais valor do que a cotação do quilate. Imagino, porque os meus avós eram do povo, e o povo não tinha acesso aos bancos, que as suas parcas economias eram investidas no ouro.
Tristes tempos estes em que por necessidade, ou vaidade, se derrete muito mais que o valor de uns dias a banhos. Derrete-se parte do passado das pessoas, assim como quem queima uma fotografia, queima mais que quem lá está - queima os momentos, as memórias, e o respeito.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

barrete


Depois de uma segunda noite de boas músicas em esplanada, como se previa, das melhores, o domingo foi de banhos, muitos, até que ao serão de domingo, chega o momento do descanso do guerreiro, e aterro no sofá, para ver um filme - o livro de Eli. Um suposto filme daqueles apocalípticos, dos muitos em que a acção se passa, uns anos após, algo devastador ter assolado o planeta. 30 anos, diziam no filme, que parecia inspirado em parte no Ensaio sobre a Cegueira, dada a miséria, o caos, e - a cegueira.
Gosto de coerências, e se no filme é suposto retratar-se um possível cenário, três décadas depois do bummm, tem de estar tudo a preceito, o que quer dizer que não podem os personagens, alguns, vestirem bem, usar óculos RayBan novinhos em folha, e as estradas como que por inaugurar. Junte-se a isto tudo, o herói da coisa, que, por carregar uma Bíblia leva tiros e não morre, dá porrada nos outros todos, apesar de ser cego. Assim não, é barrete, dos grandes. Só admito fantasias nos filmes de animação. Além do mais, não havia necessidade de meter a Bíblia, na história. Ou havia?

dos laços


Tenho para mim que não devemos vergar-nos aos laços familiares, por que sim, só porque se é da família. Também não faço descaso. Um laço familiar, é antes de mais uma espécie de pequeno compromisso que se impõe, acima de outros laços. Mas que não seja por obrigação. Por decreto. Porque sim. Que o seja porque sentimos. Sem questionamentos, nem imposições. E quando assim acontece, tal como procuramos em outros laços, os nossos pequenos confortos, encontramos nestes, nos laços familiares, mais que um conforto, um aconchego, e uma agradável responsabilidade de ser parte desse laço, que ligado a outro laço, define na essência - a família. E quando assim acontece, os laços, formam uma rede, e transformam-se em nós, não cegos, pois de alguma fragilidade, podem regredir a laços e desfazerem-se. Que se cuidem desses laços, que são nós, com os afectos e responsabilidades que necessitam constantes e presentes. Tal como o Pequeno Príncipe cuidou da sua rosa, lá no pequeno planeta. E em troca, no mínimo, seremos brindados da recíprocidade. Só assim faria sentido.

sábado, 24 de julho de 2010

Noite fora


Entrava-se, olhando para o relógio, pela noite fora, e eis que de um grupo que começou a olhar para as ementas, já passava das 23 horas, me sai um pedido trazido num pedaço de papel, trazido pela simpática G, empregada de mesa. Nele dizia que a "A" dedicava uma música romântica ao "B". Por sugestão da G, que adora o tema que toco numa forma muito cool & bossa seria o se eu não te amasse tanto assim, música que eu já havia tocado antes.
Como não gosto de repetições, peguei na letra, na viola, sentei-me na mesa deles, e atirando um bocado ao estilo da Ana Carolina, refiz a música, vesti-a de novos argumentos, e surpreendi-me com o resultado, e também aos restantes presentes. São bons estes bocadinhos, dos quais, no final, ao arrumar a tralha, metendo a viola no saco, deixamos o pessoal feliz, e não menos importante, mimamo-nos e progredimos. Muito bom, mesmo.
Creio que hoje, em esplanada á beira Tejo, e com a noite tropical que se adivinha, inspiração e novas roupagens é coisa que não vão faltar.
Sai um Famous com 3 pedras de gelo, para o músico.

O seu a seu dono

Ligo para o VS, tenho aqui as letras das músicas que me pediu, deixo-as mais tarde lá no Seixal, ok? Não estou lá, no Seixal, responde-me, estou no Meco. No Meco, que coincidência, vou aí hoje, então levo-lhas. Bem... não é bem no Meco, estou perto, em Caixas. Ahh, pois, Caixas não é definitivamente o Meco. Pelo meio ainda temos Alfarim, terra de ilustre e destemida gente que festeja o Natal no dia 26, e consta que já quis em tempos idos, tornar-se independente de Portugal, a modos que um Mónaco, em versão rural, e reduzida. Hoje mais do que nunca entendo o sonho dos Alfarinenses - verem-se livres de Portugal.
Voltando ao Meco, recordo-me que quando por lá comecei a parar, não haviam estradas, mas caminhos. Tãopouco restaurantes, mas apenas mercearias, e tabernas, como a do Sr. Domingos, onde hoje se come um mexilhão de cebolada que sabe a pedaço de céu. Nos anos setenta a Aldeia do Meco, era uma povoação com meia dúzia de casas, rural e piscatória, com gente simples que ainda hoje conheço e reconheço, mas com um leque de praias que despertou as atenções do pessoal do lado de lá. Os da capital. E chegaram os dos jornais, e gostaram. E os da tv, e foram ficando. Os alternativos iam gostando, os campistas mais radicais, os resistentes hippies e a comunidade gay assenta arraiais no Meco. Depois vieram os tios, e as tias. Os restaurantes multiplicaram-se, e puxando bem pela carteira, a única coisa difícil é escolher onde jantar, o quê, e conseguir mesa.
Mas o Meco é ali e ponto. Não é nas Caixas, nem em Alfarim, e muito menos no espaço dos concertos da Super Bock. Do palco do Prince ao Meco, ainda são uns quilómetros, e pelo caminho encontramos a resistente povoação que um dia quis destacar-se na geografia ibérica. Respeitem-se os nomes das terrinhas, por mais in que seja invocar o Meco.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

aberturas


Ainda sobre o mote, e da polémica gerada em torno da abertura dos grandes espaços em horários até agora, não autorizados, escutei do que pude, esta manhã a Antena 1 e a SIC Notícias, e creio que no resumo de tudo existe apenas discussão estéril sobre o assunto. Indo por partes - ao pequeno comércio não faz mossa, pois mal que tinha a causar, há anos que se fez sentir - ao público, é sempre bom poder escolher, se se vão comprar as gambas e os sabonetes em tarde de domingo ao Continente, em vez da ditadura, até aqui, do Modelo, que por acaso é do mesmo dono, ou do Lidl. Aos grandes empresários, claro que são uns milhares a mais, ao fim do ano - aos empregados, fica tudo na mesma, continuarão com os seus parcos salários de turnos, e sempre no pânico do fim do contrato - mais empregos, não creio que se criem, mas sim áqueles que lá estão, ser-lhe-ão exigidas mais horas de trabalho.
No actual panorama luso, eu diria que a luta é entre os grandes monopólios de distribuição, que já se vão acotovelando, para sacar os euros aos pobres dos tugas, que cada vez que entram no espaço comercial, saem de lá com o carrinho meio vazio, e os bolsos mais que meio vazios.
Quem ganha, já todos sabemos, e não é o consumidor.
Quem perde, nem é o pequeno comércio, mas sim tudo o que gira à volta das actividades lúdicas que se vêm serem aproveitadas nos domingos, como vi por essa Europa fora, falo de visitas a museus, monumentos, actividades desportivas, passeios, e por aí fora. A acreditar num personagem que hoje debitava as suas razões na Antena 1, os portugueses são inteligentes e estão protegidos, enquanto os restantes europeus, coitados, não lhes dão direito à liberdade de consumir aos domingos, eles que, mesmo em crise, compram melhor do que nós, e nos horários à moda antiga.
Não deixei de me rir com as duas notícias consecutivas, a primeira sobre as ditas aberturas, e o aumento do consumo, e a segunda, sobre a preocupação de um ministro quanto ao facto das famílias tugas não estarem a poupar.
Poupar o quê? Quando há tantas promoções e talões e descontos, agora, das seis à meia-noite.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

legs

Se bem que em matéria do corpo da mulher tudo me é agradável, quando em harmonia, aqui me confesso adorador da perna feminina. Tanto no seu lado solar como no lado lunar, a silhueta de um par de pernas, quando perfeita, é digna do nosso olhar. Não o olhar obsceno, e ordinário, muitas vezes acompanhado de comentátios a condizer, do tipo - fazia-te isto e aquilo, comia-te toda ou o célebre e triste clássico és boa como o milho.
O olhar de que falo não é nada disso, embora não seja desprovido de tentação, logo, não inocente. No entanto é um olhar discreto, de admiração, do que é belo, pois devemos contemplar o belo. O belo foi criado para ser visto, apreciado, e porque não, ceder a um elogio. Se o belo não fosse dado à exibição, à contemplação, então as portas do Louvre fechavam, e uma túlipa não teria mais crédito que uma urtiga.
Hoje, dia de folga, e de insuspeitos óculos escuros, agradeci ao verão, aos calções, às mini-saias, e aos vestidos vaporosos, e suas donas de belas exibidas pernas, que por feliz acaso se concentraram nas ruas e esplanadas de Sesimbra. Um grande bem haja, às meninas, às moças, e às menos moças, que as mantém ali firmes e hirtas. Digo eu.

Acho bem


O governo prepara-se para colocar à responsabilidade das autarquias, a responsabilidade de autorizar a abertura dos hipermercados, nos domingos à tarde. Concordo que abram, será mais um incentivo ao consumo que se tenta travar. Contasenso e hipocrisia, mas eles são mesmo assim.
Curioso estou, e muito, para assistir às decisões dos autarcas de esquerda, que se dizem do lado dos desfavorecidos. Creio já saber o resultado, pois se bem me lembro, dos primeiros grandes espaços que Belmiro inaugurou, aqui por perto foram na Amadora e no Seixal. Força, camaradas. Conta o grande capital. De pé, ó vitimas da fome. Até já se adivinha a justificação - para travar o desemprego. Pois.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

dois pontos de vista


Recentemente li a notícia onde se constata que o crescente uso de aparelhos de ar condicionado, e de refrigeração, vai contribuir paro o agravamento do aquecimento global, dado que hoje não há edifício ou veículo que não contemple esse conforto. Apelava-se até, com alguma ingenuidade, às capacidades naturais de adaptação do ser humano, para contrariar esta tendência.
Hoje, uma das notícias que aqui me veio parar, revela o quanto ingénuo era o apelo - os americanos fazem uma previsão de procura aos ditos aparelhos, bem acima da média, o que dará um crescimento de cerca de 7%, neste mercado. Optimistas, estes, dizem ainda que dadas as previsíveis instabilidades do clima global, este número pode crescer muito mais, incluindo na lista o nosso Portugal, que verá em futuro próximo, temperaturas glaciais e infernais. Aconselham, não ingenuamente, aos agentes económicos, especial atenção, a esta área de negócio, capaz de gerar lucros impensáveis.
As fontes das notícias, claro, são diferentes, a primeira é a NG, e a segunda, da página de sector de distribuição.

terça-feira, 20 de julho de 2010

da fidelidade institucional

Longe vão os tempos em que se escolhia o Banco onde guardar os trocos, ou a Seguradora, para o resto da vida. Hoje para além das mais variadas ofertas das mais variadas instituições bancárias, temos os múltiplos assédios dos productos de seguros, das redes telefónicas, dos cartões, da net, da tv, e tudo em várias vertentes - somos bombardeados com torpedos vindos em forma de sms, mails, folhetos, telefonemas e até visitas pessoais. Tudo isto impingido, alegando serem estas ofertas as melhores do mercado, bem mais vantajosas do que as da concorrência, ao melhor estilo da venda da banha da cobra, no que se traduz naquela sensação de comprar um tapete em Marrocos, e ficarmos sempre com a sensação que regateando na tenda do lado, fariamos melhor negócio.
As circunstâncias forçam-nos a uma busca permanente, de melhores ofertas, ou seja, não nos podemos fidelizar, a quem nem sequer nos agradece a dita permanência.
Torna-se pois obrigatório mudar frequentemente os ovos dos cestos, pois a fidelidade, que se pode ler, antiguidade, não é valorizada pelos experts que elaboram as campanhas de adesão dos novos clientes, em condições sempre mais vantajosas, que as dos clientes já adquiridos, que descobrindo a traição, fazem as malas e saem de casa. Hoje corri com a PT. Nunca entenderei esta lógica, mas eles devem saber porquê.

estar bem onde não se está

Recentemente, várias pessoas amigas, umas mais, outras menos, de perfis, idades, situações díspares, de ambos os sexos, me manifestaram em conversa, tanto à laia de desabafo com em pura decisão entusiasmada, a vontade de romper a sua, diga-se suas, situação lá no estaminé. Embora cada caso seja um caso, divergindo nos personagens envolvidos, motivos, vontades, má-vontades, e todos os condimentos que sabemos têm as relações, quase me parece que algum virus, ataca implacávelmente, os castelos, até agora, aparentemente bem defendidos, alguns dos quais, com autênticas muralhas de aço, pelo menos a julgar pela brochura dos discursos mantidos. Perante estas situações de entre marido e mulher que ninguém meta a colher, ou do quem sabe da tenda é o tendeiro, verifico cada vez mais que devemos usar de certos silêncios ao invés do ponto de situação, tantas vezes, para inglês ver. A honestidade, a frontalidade, dentro dos afectos, junto com o simples acto de não se adormecer sem arrumar a casa, ajuda às pequenas vitórias diárias, que contribuem e muito ao afastamento de certas vontades, muitas delas também, para inglês ver, acrescente-se.
Colocadas as situações na música, aqui invoco o estou além do nosso Variações, e um tema muito antigo do Roberto Carlos, que por altura da sua edição, me fez ponderar, em tempos de adolescente, naquelas crises avassaladoras que nos mandam ao tapete porque o mundo todo está contra nós, e ninguém parece entender-nos.
E ponderei, e usei da minha balança, em casos de difícil escolha, no avanço ou recúo, no fico ou vou, no faço ou não faço, no corto ou não corto - à janela.
De vez em quando, escuto-a, de vez em quando toco-a, só para mim. Egoistamente.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sorry Prince


Desculpa, mas não deu para te ver. O tão esperado concerto que deste aqui tão perto - com o teu groove que incendiou a malta, pois alguns bem me disseram que bombáste - teve de ser excluído do meu programa dominical. E a razão é simples - conheço bem os espaços onde foste dar música ao pessoal, passei por lá na 5ª feira, e não me cheiraram bem os acessos, depois foi só fazer as contas, ao trânsito, à confusão para saír dali, ao pó, o pó de poeira, leia-se, e a coisa dava ali pelas 6 da matina, e bem vês, embora tenhamos a mesma idade, já me vai faltando a paciência para certas confusões tipo Festa do Avante. Pelo que me fiquei pela Troia, e fui a banhos, e ao choco frito na Carrasqueira. Quem sabe se por aqui vieres de novo, a um sítio limpinho, assim tipo Pavilhão Atlântico, eu te vá admirar, e abanar a carola. Até lá recebe lá um abraço, que não sou de dar Kisses a gajos.

domingo, 18 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

diz-me com quem andas...

... dir-te-ei quem és.
O verão propicia as esplanadas, a sexta feira antecede o fim de semana, existe uma unidade na busca de momentos de descontração saboreando os petiscos, os caracóis, os grelhados, os verdes gelados, comigo a dar-lhes música, fazendo parte do pacote envolvente. As meninas que atendem às mesas são simpáticas, e até cantarolam um ou outro refrão. Das mesas, vão chegando algumas palmas, tímidas no início, e também os pedidos, o de um casal - tem alguma do Jobim? Coloco-me em sentido, este é refinado. E o She? Mas com sotaque do Aznavour, consegue? Depois muda de estilo - vinha mesmo a calhar o Wish you were here. Para no final, já em saudável degladiação, nos ficarmos, pelo Tordo, pelo Zeca, e Carlos do Carmo, mas só as do Ary.
O que mais me surpreendeu foi a bagagem musical V idade de ambos. Contudo, já em cavaqueira noite dentro, na esplanada, e de copos na frente, se revelaram ali as ligações a músicos e à música desde tenra idade. Ficou a promessa de mais encontros destes, eles trazem outros amigos também, e eu lá estarei, às sextas, como sempre, e mais empolgado, porque a música não deixa de me trazer boas surpresas e bons momentos. Sabe bem ter gente nova e renovar as amizades, melhor ainda cativar o interesse e a atenção, dessa gente. Obrigado, Música. Que teimas em me dizer que quando canto O Primeiro Dia, afinal não vai ser assim. Como diz a letra.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sinais


De volta ao Senhor Doutor, agora de pontualidade britânica, pelo menos no que diz respeito, enquanto espero os poucos minutos, escuto o diálogo entre uma paciente que liga e a recepcionista que atende. A paciente tenta agendar uma consulta para depois das 20, e a menina diz que não pode ser, e click, desligam-se. Comenta a menina da recepção que nos últimos tempos é assim - muita gente tenta adiar as consultas, porque tem receio de faltar no trabalho, dada a insegurança instalada, e ser dispensada; ou porque não lhe$$$ calha; ou pedem a renovação das receitas pelo mesmo motivo, o que se está a traduzir numa silenciosa mas engrossante legião de pessoas que não se irão diagnosticar ou medicar, pelo mesmo motivo denominador cumum.
Estamos pobres, em todas as vertentes, esta é apenas mais uma. Seremos pobres e menos saudáveis. Pobres e podres. Das responsabilidades, todos têm a sua fatia, a começar, os que nisto mandam, terminando naqueles que não deixarão de pagar a sua conta de net ou de telemóvel, nem deixarão de se arrastar na romaria dos shoppings, em prejuízo da vigília da saúde, pois isso pode esperar, porque afinal nem se está para morrer, e neste faz de conta, tão bem conduzido pelo senhor engenheiro, se caminha, assobiando, para não sei onde.

e vão 4

Não podia ter terminado melhor um dia de boa folga sem um cineminha de descontrair. De óculos 3 D, saboreou-se mais um Shrek, com o seu amigo Burro, o meu favorito.
Gostei da singela mensagem do filme, afinal um lugar-cumum, que tantas vezes se esquece, mas que convém estar sempre presente - só damos valor aos valores que temos, quando os perdemos - e claro, não se fala aqui de valores materiais.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

in Natura

identificamo-nos com pessoas, com músicas, com cores, com aromas, com roupas, como lugares. um lugar onde me sinto integrado, como que se fazendo parte dele, é a "minha" praia, que conheço a palmo, cujos cheiros não são os de outras praias. chego ali de manhã, bem cedo, e somos eu, o mar, e as gaivotas, que se passeiam por cima em acrobáticos prodígios da natural navegação aérea, algumas até partilhando a praia comigo, como se me sabendo não hostil, pois afinal, de tantas vezes me deslocar a esta praia, quem sabe, as gaivotas me conheçam. é um local onde a praia pode ter outras componentes, tais como mergulhar tal como se veio ao mundo, porque outros olhos não há por ali, senão os dos meus amigos alados, e que me conste, não lhes atenta ao pudor a minha carcaça. ou esgravatar as rochas em busca de umas saborosas lapas, a saborear mais tarde com um Lancers gelado. ou até mesmo iniciarmos uma pequena incursão ao reino dos fósseis, dado que toda a arriba o é. estava eu, pois, neste deleite da natureza, eu, o mar, e as gaivotas, quando pelas horas convencionais chegam os humanos. as gaivotas levantaram voo, e eu comportei-me como me pertence, como um deles. foi aí que peguei no livro do Saramago, e comecei a ler.



três

À volta de duas garrafitas de Lello, se cumpriu mais um jantar de três amigos que se reconhecem desde os primários tempos do doisvezumdois,doisvezdoisquatro. Sabe sempre bem renovar a celebração deste núcleo duro, onde os assuntos transbordam, e a música não falta. O ponto alto foi o magnífico aspecto da Antígona, uiiiiiiii. Pareceste-me descarregada de dez anos. O ponto negativo foi a conta do jantar. Mas isso resolve-se. Como dizia a minha avó, sábia comerciante - só se serve mal uma vez!
Agora vamos à folga que o sol está à espreita.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Vale Vale

Foi com agrado que ontem partilhei um pouco do entusiásmo do directo de Espanha. Considerando que sempre me foi agradável, o país vizinho, desde que, quando pela primeira vez que saí aqui do rectângulo, aterrei em Madrid, até às frequentes visitas que fui fazendo de lés a lés, das quais fica sempre uma vontade de voltar. Não tenho complexo de pesetas nem de caramelos. Quando por lá, sempre sou bem recebido, come-se e bebe-se bem, são a terra do flamengo e de guitarras divinas, e do tema de arrepiar - Asturias. Não partilho pois, do ditado que diz - nem bons ventos nem bons casamentos, assimindo-me simpatizante da ideia da Ibéria, defendida por Saramago.
Ao ver aquela manifestação de alegria, descontração, loucura, alguma irreverência, dos nuestros hermanos em que todos demonstraram simplesmente alegria e patriotismo, coloquei na imaginação a imagem mais que utópica de ver tal festa em terras de Lisboa.
E realmente não seria praticável.
Os do Porto não viriam a Lisboa, ou a virem, os do Benfica hostilizavam-lhes o transporte. Não temos uma música cujo refrão seja - e viva Portugal - pelo que teriamos de cantarolar em forma de esgar e pronúncia deficiente- I got a feeling... Em vez de alegres comunicadores, expontâneos, teríamos deslavados e sonolentos discursos do Aníbal, do Sócrates, do Madaíl, do Queirós, e do Bispo de Lisboa. A equipe estaria pela metade, o CR7 estaria a dar mama ao filho, e os estrangeiros de passaporte portuga, teriam rumado de férias a terras de Vera Cruz, pelo que a ocasião seria meio deprimente, e pela metade, um pouco na linha da recente passagem do Pastor Alemão aqui pelas nossas bandas.
Pelo que conclúo que mesmo tendo perdido para a Espanha, com um golo ilegal, foi por boa causa, do que se prova que até no futebol há coisas que se fazem direito por linhas tortas. A nossa derrota foi um empurrão para o pontapé na crise espanhola, um incentivo à auto-confiança, e convenhamos eles merecem, porque têm garra. Vale. E quem mais que os portugueses, para fazer aquilo que os hermanos querem? Longa, é a tradição. Vale Vale.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pois...


Embalado pelo entusiásmo de um dia novinho para gastar, sem compromissos mais, do que estar em frente à televisão para assistir à grande final, e porque o tempo estava bom, bem cedo arranquei ruma a terras da costa vicentina, onde as águas são mais mornas sem serem chocas. Qual pato, fui mergulhando aqui e ali, desde São Torpes, Porto Côvo, até à Zambujeira, o lugar que o meu pai não dispensava nas suas férias de verão. O regresso também se fez agradável com uma paragem obrigatória em Alcácer para comprar aqueles doces que fazem babar, de pinhão e mel - as pinhoadas.
No final do dia, assumindo o meu compromisso com o sofá, a meio do jogo, relato as aventuras do dia ao meu filho, realçando o quanto diferente fora, da rotina habitual, ao que me responde, deitando-me por terra - diferente mesmo, teria sido irmos até Badajoz, abancarmos numa qualquer esplanada, comermos umas tapas, bebermos umas cañas, e festejar com os gajos, já que aqui nunca festejaremos uma final. Isso sim seria único. Na minha mente, como que saída de uma lâmpada de Aladino, afigura-se-me uma silhueta mista de Queiróz, com Madaíl. Abanei a cabeça, resignado. Pois! Tens razão. Oportunidades destas, não se apanham todos os dias.

sábado, 10 de julho de 2010

os retratos


Hoje na praia, ali pela beira-mar, encontro duas mães a fotografar os seus pequenitos. De máquinas em punho, pareciam competir. Uma afirmava ter para cima de mil fotografias no pc, e só do filho, fora as outras. Deviam ser umas três mil, com as das viajens, os aniversários, e outros acontecimentos. Ao que a outra ripostava com outros quantos milhares de fotografias, tudo dentro do computador, claro está.
Como adepto de fotografia, em todo o seu sentido, desde a sua concepção, entendo que de alguma forma, as fotografias da era pc, são efémeras e virtuais, para além de se apurar muita parra e pouca uva.
Cada fotografia tem a sua história, ou deverá tê-la. Banalizá-la, fechá-la num disco rígido, onde provávelmente se perderá, não faz sentido.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ora toma!

Chega um reforço de vizinhança macaense, para uma estada de duas semanas. Depois dos beijinhos, abraços e lembranças, eis que após o jantar se ruma ao café ali da esquina. No café ali da esquina levantam-se as cabeças intrigadas pela invasão oriental, pouco cumum.
Entre ditos e dichotes, sai-se uma vizinha iluminada, assim, para o casal de infantes - então coitadinhos dos meninos, vieram lá daquele fim do mundo, apanhar uma praia, que lá não devem ter, com aquela fumarada toda.
Não - responde a mãe dos infantes, em português irrepreensível, ou não fosse ela traductora de uma série de linguas e dialectos - a Portugal apenas vimos visitar a família, as férias fazemo-los sempre pelas ilhas do Pacífico.
Ficou por dizer, mas disse-me já a caminho de regresso, que fim do mundo é aqui, a ponta da europa, a península, onde curiosamente existe um lugar chamado Finisterra.

Cuidado

Existem pessoas que, sem se saber bem porquê, ocupam cargos, para os quais não têm qualquer aptidão, um pouco como reza a fábula do cágado em cima do poste. A prova de que são contra-eficientes, é-nos dada pelo facto de que quando entram para o dito cargo a situação pode não ser das melhores, mas estes senhores têm o condão de a deixar bem pior. Insustentável, como se diz agora, a situação. Para cúmulo, alegam que fizeram o seu melhor, que se a coisa deu para o torto a culpa não foi deles, e ainda se pagam generosamente pela porcaria que fizeram. Cuidado pois, a quem se cruzar com eles, recomenda-se que não se lhes abram as portas de casa. É que são bem capazes de partir a loiça, e dizer com a maior lata que a loiça caiu sozinha, e confiscarem-nos as pratas.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma chama viva


Encontro a T no centro comercial aqui da terra. Tu és o.... diz-me ela com semblante familiar. Sou, digo eu, de onde nos conhecemos? Pergunto. Das trazeiras das varandas de Almada! Lembras-te?
Se me lembrei. Recuei aos meus nove anos. Recuámos ambos. Das trazeiras da casa onde vivi com a minha mãe, um quarto andar, via as trazeiras dos prédios virados para a Avenida, e num terceiro andar, aparecia-me aquele anjo. Ficávamos horas a fio a conversar, a contar histórias, a cantarolar os anúncios da televisão, a contar coisas da escola. O nosso quarto deixara de existir, e só se estava bem à janela. Era um namoro, um namoro à distância, só de palavras e olhares, inocente, mesmo no dia em que ela berrou lá da varanda dela, que gostava muito de mim, e eu, corado, nesse fim de tarde não apareci mais na janela, pois não sabia o que responder. Saber, sabia, mas onde ganhar coragem para lhe dizer que também gostava muito dela. Porém, no dia seguinte lá estava eu, à espera dela, e assim foi até que um dia o encanto se quebrou, pois decidimos conhecer-nos de perto, e sem explicação, o embaraço e o desconforto foi tal, que esse momento não durou mais que cinco minutos e as aparições na varanda foram deixando de acontecer.
Mais tarde, já no Liceu, viamo-nos, pouco se dizia, quase que nos evitávamos.
Ontem, rimos disso tudo, e para terminar em beleza cantarolámos alguns anúncios da televisão. Demorámos muito mais que cinco minutos.
...
Há bilhas quebradas e fogueiras a saltar
Sardinhas assadas, mangericos ao luar
Não falta a alegria nesta festa popular
Nem falta a Gazcidla...uma chama viva, em todos os lares.
...
Olha a linda carochinha que casou com o João Ratão
Diz a história tão velhinha que caiu no caldeirão
Se fosse hoje tudo mudava, nas cidades ou nos campos
João Ratão não se queimava, pois já tinha uma Silampos
...
e havia o da Varig, o da Lusospuma, o da Molaflex, o da pasta medicinal Couto, os candeeiros bem bonitos modernos e originais....

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Rumo, mas pouco


Em certo jantar de grupo, onde as pessoas pouco se conhecem, e se puxam pelos temas da praxe, a fim de criar clima, escuto uma senhora - nós nunca viajamos com bilhete de ida e volta, compramos a passagem para um destino, e depois logo se vê.
Gosto do conceito, embora por vezes seja difícil praticá-lo.
No entanto, posso permitir-me a um esboço, já que penso fazer uma escapadela lá para meados de Agosto, e por isso, rumarei a terras de Alentejo, e depois logo se vê. É que dali a Espanha é só um pulinho. Reserve-se pois um hotel à maneira.

Portugal profundo através da Música

Encontro um dos Luíses com quem toquei, nos palcos deste país. Depois dos - o que é que tens feito - como estás - com quem tocas - relembraram-se alguns bons momentos, quase sempre bons, em saudável convívio, em que cada pequena digressão era uma festa. Deixávamos de ser homens, para sermos putos traquinas, desde o carregar o material na sala de ensaio, passando pelas viajens, jantares e hoteis, e quase que a música, que afinal era o motivo de tudo aquilo, passava a um plano paralelo.
Andei cerca de trinta anos nestas lides, com algumas, poucas, pausas, e foi assim que conheci desde o Minho ao Algarve, aquelas terrinhas que nem vêm no mapa, com encantos genuínos, foi assim que conheci recantos de cortar a respiração, de tão verdes que eram, riachos e cascatas, onde os naturais só levam quem bem entendem, provei do melhor que se come nas aldeias, visitava as igrejas porque um baterista me ensinou a gostar de arte sacra, namorisquei aqui e ali, aproveitava as horas de lazer para fazer o turismo possível, e melhor que tudo, a fazer o que sempre amei - tocar.
Hoje, sempre que viajo por aí, nas nossas estradas, vou vendo as placas das localidades, e frequentemente digo - olha! já toquei ali. E lá vem mais uma dose de boas recordações.

terça-feira, 6 de julho de 2010

então é por isto...


Escuto hoje pela manhã, na rádio, que Carlos Queiroz, vai receber encaixar, pela sua participação no Mundial, qualquer coisa como oitocentos mil euros, e como se isso não bastasse, com benesses fiscais.
Eis um bom exemplo de como se pode ser medíocre e arracadar fortunas.
Existe até quem assegure que já o escutou ao telefone com Dunga, ambos cantarolando a velha marchinha do Carnaval carioca - daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Pudera.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Não há bela sem senão

A bela Gabriela, veio anunciar cortes nas despesas com a Cultura. Porque sim. Coerente, digo eu, se já nos cortam na agricultura, nas pescas, na saúde, na indústria, e no comércio, a Cultura, deve alinhar pela mesma pauta.
Por este andar, um dia, escutaremos os Madredeus a cantar em alemão, e a guitarra de fado, deixará de ser portuguesa, a vai chamar-se guitarra ibérica. Porque a malta vai esmorecendo. É que elas não matam, mas moem.

domingo, 4 de julho de 2010

da Fama...


... e da ignorância, do preconceito e da estupidez.
Os anunciados 35 graus fizeram-me rumar cedo à praia. Escolhi o Meco. Pelo caminho verifico bom rumo do local onde o Prince (não o Pricipezinho) vai cantar o seu Kiss, e após a bica que se impõe, abanco na classe executiva dos chapéus do Bar do Peixe, o que me custou um balúrdio, mas um dia não são dias. A privacidade paga-se. Mas nem por isso, se deixa de escutar alarvidades como esta - Viajando ali ao meu lado, escuto uma bimba no telemóvel - sim já chegámos, estamos na praia do Meco, o X e o Y já estão metidos na água, sim essa mesma, mas não é nada assim, é tudo normal, os nús é lá para o fundo, aqui é só famílias e gente de calções e bikinis! Desses? não! Também não vi ainda, devem ter vergonha, só vi um com ar estranho cheio de pulseiras e assim, mas isso vemos em todo o lado, não é? Pois, vamos esperar, que ainda é cedo, é como te digo, aqui é tudo normal.
E desligou.
Será que a gaja não viu que a única anormalidade ali, era ela? E, porventura, a besta que estava no lado de lá do telefone.

Saga Saramago


Porque não faz sentido comprarmos, ou aceitarmos livros e depois não os lermos, comecei hoje a leitura dos muitos que recebi de mão materna. Hoje, em praia do Meco, devorei da primeira à última página, A Segunda Vida de Francisco de Assis. E retive, entre outras, esta tirada, escrita na contracapa, com a qual, a tirada, não posso estar mais de acordo:
O que o lobo disse a S.Francisco de Assis:
-Podes chamar-me de irmão, se fazes gosto nisso, mas não me peças que trata eu a ovelha como se fosse minha irmã.

sábado, 3 de julho de 2010

Barulhentas e adoráveis

O fim de semana musical foi recheado, concorrido, multifacetado, de gentes de todos os gostos e idades. Quando em tempos de outros palcos fiz um pacto comigo mesmo de apenas tocar aquilo que verdadeiramente gosto, nesta fase de acústicos, foi para cumprir, e por isso há que ter muitas cartas na manga, para agradar e ser fiel à determinação. Na primeira noite, a de 6ª, uma grande mesa, anuncia-me que vou tocar para um grupo, de mulheres, avisam-me. As mulheres são barulhentas. Do local onde toco aos sábados ligam-me - sabes quem está aqui a jantar? O Jorge Palma! Já lhe dissemos que tocas uma data de canções dele. " 'ganda galo" - pensei.
As meninas chegaram, foram chegando, meninas, mulheres, e um resistente macho no meio de todas elas. Foram evitando a proximidade às colunas de som, na medida em que se iam sentando, tão má é a reputação dos músicos. Esperei, discreto, que as conversas fluissem, e as sangrias descessem. Começar a tocar em frente a umas vinte e tal mulheres a falar ao mesmo tempo, é obra difícil, garanto, e o truque para conseguir penetrar nesta torre de Babel é bem simples - tocar aquilo que elas querem ouvir, e muito baixinho, tão baixinho que a pouco e pouco, uma a uma, as bocas se calam, a sangria continua a fazer o seu milagre, e começam a cantarolar. O final foi colossal, com promessas de regresso. Missão cumprida. Mulheres, adoro-vos. Mesmo que barulhentas.

A praça - requiem


Quando era miúdo, a minha avó forçava-me a ir com ela ao Mercado da Ribeira, ou à praça, como ela dizia, coisa que eu não gostava muito, e dizia-me ela com a sua sabedoria - um dia vais gostar de ir à praça. Acertou. Hoje não troco uma ida à praça, para escolher o peixinho vindo de Sesimbra, a carne do talho, onde já me conhecem os hábitos, o pão de Alfarim, os legumes-legumes. Tudo tem outro sabor. O peixe não encolhe, a carne tem sabor, a cebola faz chorar, e o pão não fica intragável ao fim do dia. Contudo prevejo que, com o rumo que a distribuição levou em Portugal, tudo isto venha a acabar. Hoje, na praça aqui da zona, assisti a duas birras descomunais de duas crianças, que aparentemente foram ao engano, levados à praça pelos avós, julgando que iam a um grande espaço. Esses miúdos não serão clientes das praças, por mais que os avós insistam.
Em recente reunião de trabalho que assisti, foram divulgados dados interessantes - 80% dos jovens não sabe bem o que é o comércio local, e dos que sabem, mais de 90% não o usam, preferindo ir mudar a pilha do relógio ao centro comercial, do que ir ao relojoeiro da esquina. O conceito de modernidade aplicado apenas no nosso país de iluminados, vai, a curto prazo, o de uma geração, entregar de mão beijada o monopólio da esmagadora maioria da actividade comercial, aos grandes grupos, e sentenciar a pequena iniciativa privada, que pelo cansaço, falta de modernização, apoios, sucessão e carga fiscal, vai fechando, contribuindo para uma desertificação do convívio de rua, de muitas áreas urbanas, ao contrário da prática dos outros países europeus onde existe um equilíbrio entre todos os agentes económicos. A quem torce o nariz, basta fazer uma pesquiza sobre a distribuição comercial nos países nórdicos...
Agora vou acender o lume para grelhar as douradas escaladas e as lulas, que o Sr.Joaquim me garantiu serem mesmo de mar, e eu acredito, sem filas, talões e outras complicações.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O dia não faz. Fazemo-lo.







Não gosto de desperdiçar nada. Nem tempo, nem comida, nem um beijo. Um dia de folga tem de ser bem usado, mesmo que seja para não fazer nada. Não foi o caso de ontem, pois programei-o em esboço, porque me apeteceu obedecer às minhas vontades. E porque era minha vontade, obedeci-lhe bem como aos caprichos das marés, e porque só com maré baixa se podem desfrutar de alguns recantos paradisíacos na Arrábida, que em dias como o de ontem nada ficam a dever aos destinos tropicais que conheci. E lá fui eu, como quem vai em horário de trabalho, de tralha às costas rumo a esse paraíso, onde de óculos de mergulho fiz parte dos pequenos cardumes que observei, em vez se ser um simples banhista. Junte-se a isso, a companhia de duas brasileiras, a Maria Rita, e a Ana Carolina, cantando aleatóriamente, aos meus ouvidos, duas sandochas de salmão fumado com salada, e um verde gelado à beira mar, e temos uma aproximação de paraíso, até a maré começar a subir.

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De passagem pela Fnac, carregando o sal e a água a cocalhar nos tímpanos, apontei as previsões das escolhas para os próximos tempos. É bom passar por ali, com menos gente, sem os empurrões, os talões e outras confusões.

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O dia fechou com um filme que acho que toda a maltinha da minha idade, mas não só, deveria ver. As mulheres, porque sim. Mas os homens, muito mais, porque não. E a Meryl como sempre, arrasa, em qualquer papel.

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Vamos lá a programar uma fuga à costa vicentina, que o carrito precisa de fazer estrada.