segunda-feira, 30 de abril de 2012

tréguas

Tal como aquela linha do anúncio da zon, assim vão as coisas. As coisas entendem-se não pelas banalidades, mas por algo tão grande como a vida. Melhor seria dizer, assim vai a vida, ora rés-vés com a linha, ora acima, ora abaixo. Procuram-se razões e culpados, e logo, com grande facilidade se encontram. Procuram-se erros, e claro, que eles ali estão, porque errar, nos é próprio e lícito. Procuram-se as soluções, as saídas, os vislumbres, e aí já a coisa, ou a vida, já pia mais fino. Em abono da verdade, esta resposta não existe, porque a bem da verdade ninguém sabe. Vivemos aquele ditado que reza mais ou menos que, miserável é o país que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Contudo, nem que seja por uns dias, deu-me a vida uma trégua, que me permite não pensar a cada cinco minutos, nas tais coisas que comandam a vida de tal forma, ao ponto da asfixia.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

quem canta seus males...

...espanta. Diz-se. Espantar, não digo, afinal eles estão todos no lugar  onde os deixo. Quanto ao benefício que o cantar faz, disso não há dúvidas, cantar e tocar, se por si só representa um prazer, quando se está em boas condições anímicas, quando as coisas não andam bem, cantar é como uma terapia, que relaxa, que impõe uma pausa naqueles pensamentos que nos fazem vincos na testa. Tocar e cantar tem por isso um efeito zen mas do lado inverso. Vamos lá a uma dose dupla, logo à noite, que bem estou a precisar. De cantar, já que aos males, não os consigo espantar.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

o (meu) 25

Acostumado que fui, por via materna, às andanças da Esquerda - em 72 já conhecia o hino Avante Camarada - não teve em mim aquele dia 25, o efeito surpresa. Nem escutar a senha Grândola, vila morena. Nessa data, muitos dos LP's que carregava entre os livros e cadernos do liceu, eram dos cantores do contra - Zeca, Adriano, Sérgio, Mário, Letria. Adivinhava-se uma mudança, não se sabia ao certo qual, e a sua origem. O resto todos sabemos como foi. Do 25 em diante, como diz o Roberto, emoções eu vivi. Pela primeira vez, desde estes 38 anos, não me apeteceu festejar, não me apeteceu participar. Lá se foi o Sérgio Godinho ao vivo, o fogo de artifício, seguido dos Expensive Soul. Lá se foi o acompanhamento das bandas filarmónicas do Seixal, a tocarem em conjunto aquela marcha militar do MFA (que por curiosidade é originária dos Estados Unidos). Ontem andei cinzento como o tempo, cinzento como os fatos dos senhores da pide, triste com a partida do Miguel, inconformado com reedição do discurso autista de Cavaco. Revoltado por se confirmar que o meu país é recordista mundial do aumento da carga fiscal. Ontem andei eu, comigo mesmo e os meus pensamentos, cantarolando em surdina o Zeca, eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

o Bom Portas

Foi dos poucos que andam na política, a quem apertei a mão. Dos poucos a quem apertaria. É dos poucos que nunca proferiu palavras que eu não considerasse certas, e sensatas, sem resvalar para o lado demagógico do servilismo partidário, ou interesses obscuros. Assim pensassem, falassem, e agissem todos aqueles que se declaram de esquerda, e decerto outros Portas cantariam. Quando soube que no jantar para o qual fora convidado, iria haver uma palestra de Portas, pensei que ia gramar uma estopada, daquele a quem muitos apelidam de pertencer à esquerda-caviar. O tema andou em volta dos países banhados pelo Mediterrâneo, suas gentes e seus costumes, pelo mote da burka. Delicioso. Daqueles serões em que não damos pelo tempo passar. Dizem que Deus leva os que mais ama. Se assim é, e se considerando que houve escolha...

terça-feira, 24 de abril de 2012

Abril, das Revoluções e das Águas Mil

E ao cabo de 38 anos, temos uma parda efeméride daquilo a que alguns chamaram de revolução, outros mudança, outros ainda, de desgraça. Certo é, que nada ficou na mesma. O que pode não ter sido revolução, justificou pequenas revoluções, localizadas, era preciso mudar, fosse para melhor, ou pior. Ficar igual implicava a denúncia de pacto com o regime antigo, o da ditadura. Hoje, o nosso PM diz que está a fazer uma revolução. Eu diría que a está a continuar. Direi até que a palavra correcta, nem é revolução mas sim ditadura disfarçada. Nos tempos do antigo regime, fomos nós, jovens, atirados para uma guerra sem nexo, como se alguma guerra o tivesse. Hoje, os nossos filhos são atirados para empregos descartáveis, e no limite do bom senso aconselhados a permanecerem em casa dos pais, a não contrairem encargos, a não pensarem em constituir família, e encorajados a emigrar. É isto liberdade? Dizem os crentes que o Diabo usa muitas formas de tentação. Os políticos também. As práticas diferem, mas os resiltados, se analizados e questionados, não divergem em demasia. No meu tempo, jovens ambiciosos e talentosos emigravam, hoje emigram de igual forma. Muitos dizem que a revolução apenas serviu para podermos dizer mal de quem manda sem ser preso. Eu quero acreditar que não, mas cada dia se torna mais difícil. O dia de amanhã, tal como o próximo 1º de Maio, servirão apenas para uns floreados e umas bocas do pessoal de esquerda. Coisa foclórica, para inglês ver. Do verdadeiro significado destes dois dias pouco se falará. Serão apenas mais dois feriados. Não para todos, dado que tanto num como noutro, todas as grandes superfícies comerciais estarão de portas abertas, numa demonstração clara de desprezo e impunidade. A direita, capitalista assumida, aplaude. A esquerda... também, pois claro.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Crise - Sinais

A minha amiga confessa-me um estado de ansiedade que se lhe instala a cada final de tarde de domingo, e aumenta com o aproximar da segunda-feira. Não é que nos restantes dias semanais aquilo que lhe atormenta a alma não aconteça também, mas às segundas, diz-me, os casos mais dramáticos parece que são escolhidos a dedo, e caem-lhe literalmente em cima, dada a posição que ocupa, na máquina de estado, o fisco. É ali, e nela que se escutam gritos de desespero, choros, amarguras, ameaças até. Ali se situa a última linha da consequência. Diz-se que coração que não vê, é coração que não sente. Mas não, diz a minha amiga, porque ao despachar papelada, ela já está a sentir pelos outros, dado que não lhe foi dado o condão da imunidade à observação da desgraça alheia. E claro, a coisa piora, quando depois de lida a papelada, os visados lhe entram portas dentro, avivando a angústia, confirmada quando o domingo se vai acabando.

domingo, 22 de abril de 2012

Legs

As conversas são como as cerejas, já o sabemos. De passeio errante por trilhos da Arrábida recebo uma chamada de alguém que pode fazer o que fez - estou entre o Algarve e a tua casa, arranja aí qualquer coisa para petiscar, que mais uma horinha e picos, estou aí. Amigos não se questionam, e por isso, apresso o passo, a fim de não decepcionar o meu faminto amigo. Após o repasto de acordo com os meus modestos dotes de  chef , a conversa andou por ali aos tombos, fruto dos meses em que não a punhamos em dia. Na tv passava a VH1 classic, coisas dos anos oitenta e noventa a condizer com os cinquentões presentes. E eis que se exibe na nossa frente um compacto da Tina Turner, em plena forma, quer vocal, quer física, e ali se levantou a celeuma - que necessidade teria a Tina de mostrar as belas pernas, já que os seus dotes vocais e garra de animal de palco eram de sobeja suficientes para garantir fama? Simples, comentou-se, ela quer(ia) apenas exibi-las, como qualquer mulher que sabe que é boa e necessita chamar as atenções. Contestam outros, porque o argumento é mais que óbvio, o que é bom é para se ver, e se a dona as despe, é porque gosta, e gostando, seja qual for o motivo, há que exibir sim senhor, já que o sol quando nasce é para todos. Porque o lado lunar, esse é-o apenas para quem o mereça alcançar. No resumo ficou aquele conceito, tão de macho, como de verdadeiro - se a perna está ao léu, a dona sabe porquê. Depois vieram os video-clips dos Queen, e lá se foram as teorias das pernas. Em tempos de Abril, arrisco o improviso - a perninha é uma arma, eu não sabia.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

os arranjinhos do costume



O que pode justificar a demolição literal de um local, num país onde quase tudo funciona mal, que é excepção de regra. Onde quem sabe do que fala, diz que desde equipamento, pessoal, e meios operacionais, esta maternidade Alfredo da Costa é exemplo. Exemplos temos, outros, da justificação, única - os interesses ocultos. Estamos acostumados aos abotoanços, aos arranjinhos público-privados. Ele são sobreiros, submarinos, freeport's, ou como neste caso, e no do aeroporto, deitar a baixo e fazer novo, sem que nada o justifique. Mas justifica - é o dinheiro, e sempre o dinheiro. A esquerda já veio denunciar. Que o motivo da extinção da MAC são interesses imobiliários. Certamente que assim é. Mas que não se pense que esta esquerda é imaculada, pois no que toca a arranjinhos, neste país, todos molham a sopa. Muito me agradaria termos nós por aqui, um pouco mais de pêlo na venta, e que, inconformados, batêssemos o pé, aos constantes roubos que sofremos. Se um dia, tal vier a acontecer, não assistirei da bancada, pois como diz o brasileiro, eu já estou de saco cheio.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

as Mudanças


1

De passagem pela esplanada, hoje fechada por vontade de S.Pedro, reencontro uma ex-funcionária - Ana!!!! Então não tinhas regressado para o Brasil? E tinha. A Ana, decidiu há pouco mais de um ano, retonar à terra natal, ela, o marido e o filho, a família que por aqui criou. O fraco vencimento dela, junto com o despedimento do marido ditaram o regresso ao Paraná. Hoje lá estava ela a visitar as antigas colegas, e a dizer-lhes que criou uma pequena empresa ligada ao vestuário, e o marido, português excedente informático em Portugal, mudou para português informático muito procurado no Brasil. Portugal agora, só para ver a família e os amigos.

2

No supermercado estou de volta das compras, e por trás de mim, ele fala para ela - sim vou voltar para Cabo Verde, isto aqui está uma miséria, o meu patrão já fugiu, e eu aqui só ganho para as despesas, lá, posso não ganhar muito, mas também não gasto nada, e estou na minha terra.



descanso do guerreiro



Encontro hoje, a serenidade tão necessária, e o renovar de forças, no descanso da noite, ou na sesta fugidia, que mesmo não sendo mais do que um passar pelas brasas, retempera. São estes os momentos, em que não se crispa o rosto, não se coça a cabeça, ou não se criam os vincos da preocupação, feita num grande ponto de interrogação. Adormeço e acordo com os mesmos poréns. Contudo no acordar, tento afastar de mim aquelas palavras do Sérgio - hoje é o primeiro dia..

quarta-feira, 18 de abril de 2012

corda bamba



Vivo, vivemos muitos, na corda bamba. Uma corda que consiste na fronteira, como uma linha d'água, onde se tenta nadar e manter a cabeça à tona. A cada tomada de equilíbrio, segue-se mais um abanão, ou um puxão, ou uma rajada imprevista. Muitos vivem, e eu vivo na incerteza que se baseia mais ao menos naquelas palavras que dizem - quando pensamos saber todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas. A determinação de estar firme na bamba corda mantém-se, bem como a alegria de viver, esperando que a corda, de tanto a esticarem, não se venha a partir.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

os ridículos




Certamente foi de Paulo Portas, a ideia. Se já nos deslumbrou com os submarinos, eis que aparece um pretexto para brincar ás forças armadas com o dinheiro dos outros. Se a ideia não é dele , decerto que outros iluminados existem na esfera política e militar, danadinhos por dar nas vistas e fingir que se faz qualquer coisa - dada a actual situação na Guiné-Bissau, aqui da capital do reino, a acção não se fez esperar, e vai de mandar bélicas embarcações para resgatar os indefesos lusitanos em terras de África. Contudo, a montanha nem sequer pariu o rato. Os portugueses da Guiné, já vieram dizer que não senhor, que estão lá muito bem, e doidos seriam em regressar a uma pátria, esta sim em guerra, mas uma guerra muda e cínica, contudo, implacável. Para dourar a pílula, sabe-se que mesmo que houvesse um tuga a pedir regresso, não poderiam as nossas modernas caravelas entrar nas águas da Guiné... Ridículo, precipitado e imbecil, se prova este pseudo-acto de resgate. Se realmente estes políticos querem resgatar portugueses em débil situação, então que os recolham nas grandes cidades europeias, na sopa dos pobres, e para isso não precisam de navios de guerra, submarinos, nem de publicidade. Basta a vontade de fazer algo de verdadeiramente útil por quem, por culpa desses mesmos políticos, se viu forçado, em desespero, a sair do seu país.




domingo, 15 de abril de 2012

100 anos








Precisamente no dia em que se afundava o Titanic, nascia o meu avô paterno, que curiosamente passou mais de metade da sua vida a navegar. O navio era muito mais o seu lar do que a sua casa em Lisboa. Embora amasse os seus, e quantas vezes o provou, o seu porto de abrigo vivia em mar alto, de cais em cais. Só me apercebi dessa felicidade não demonstrada em terra, quando fiz uma daquelas grandes viajens, a bordo da sua casa navegante. Foram quase dois meses de um outro avô que aqui nunca se revelou, quem sabe por lhe faltar o balanço do mar. Tempos antes da sua derradeira partida ainda pude juntar um bom rol de narrações das suas travessias, por mares navegados, mas com rotas que julgo quase impossíveis de repetir nos dias de hoje. Muitas conversas, entre garfadas nos petiscos que lhe fazia, e algumas confidências, me passou este calado Homem, que como bom lobo do mar, só abre palavra a quem bem entende. Foi um previlégio, este avô. Faria hoje cem anos. Mas a morte afundou-o. Duas vezes.

recortes

"Newton descobriu a lei da gravidade quando um corpo de mulher lhe caiu em cima. A

maçã foi a desculpa bíblica para o seu pecado original da atracção mútua dos corpos."

...

"Quantos gritos mudos cabem dentro de um homem?"

...

"Não faço perguntas. Mas os seus olhos dão-me todas a respostas. A vida é muito curta para perguntas erradas..."

...

"Sexo pode nem chegr a ser uma traição. Só traímos quando fechamos a alma para alguém e a deixamos do lado de fora."

in Diário dos Infiéis

sábado, 14 de abril de 2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

das Amizades

Há quem diga que a Amizade, à longa distância se prova. No entanto, nada impede que se prove na proximidade. Mais importante, creio, é a prova dada pelo atravessar dos anos, e das demonstrações no acto, dado que se, apenas na palavra, falsa será a Amizade. Ontem foi dia de aniversário do meu melhor Amigo. É uma Amizade peso-pesado. Qualquer um de nós, deu, ao longo de há mais de duas décadas, as provas necessárias de admissão. O tempo decorrido, as situações de partilha de alegrias e tristezas, as entreajudas, os passos percorridos lado a lado, não apenas solidificaram a verdadeira amizade, bem como a fortaleceram. Não fossem as divergências clubisticas, e eu afirmaria ser esta uma amizade perfeita. Coisa de pouca monta, no universo de tamanha Amizade, que a ter dimensão, a coisa dos clubes, seria a prova de que afinal, a dita, não passava de fancaria. Falsa, portanto.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Uma Paixão (uma das)

Faz hoje um ano que adquiri a máquina que de certa forma tem influenciado a minha vida, ou parte dela. Por vezes não sou quem leva a máquina ao local, é ela que me leva. É a justificação para sair à descoberta de novos lugares, novos horizontes, sentidos, cheiros e sabores, ou também de regressar aos sítios onde alguma vez devo ter dito - hei-de vir cá, daqui a uns anos. A fotografia desde muito cedo me fascinou, talvez até, antes da música. As velhas fotos nos albuns, e nas caixas de lata que já tiveram bonbons são testemunhas descoloridas dessa paixão. Hoje verifiquei que neste ano que passou, publiquei no meu cantinho dos retratos mais de 5400 fotos, em mais de 300 posts, e nem todas por ali andam... Espero que esta máquina me leve a muitos mais lugares, porque parte da alegria de viver reside nestas pequenas descobertas, que depois sabem bem recordar, na contemplação do retrato, do local, e do que aconteceu nesse dia. Saboroso.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

(in)cultura

Das duas uma, ou estou a caminhar a passos largos para velho do Restelo, ou existe uma crise cultural, generalizada em muita gente, sobretudo jovem, que anda por aí. Se grande parte da culpa deste triste fenómeno é de quem nos governa, de gente que trata a Cultura como coisa de elite, assim só para alguns, a outra parte da culpa vai directamente para os visados, os incultos. Os exemplos estão por aí, por todo o lado. Na escrita não vão lá seja com que acordo for, pontuação correcta, nem vê-la. Leitura, não creio. E na música, o grau de burrice é de bradar aos céus. Aqui fica o exemplo de um jovem que, na passada sexta-feira, ao olhar contrariado para os meus pertences musicais, me diz que a música ao vivo, tende a acabar. Que os músicos acabarão, pois o futuro pertence ao karaoke. Ainda me dei ao trabalho de perguntar aquela besta, que a ser assim, quem faria as músicas para o karaoke? Claro que não obtive resposta, aquilo era demais para tão parca cabecinha. Mais uma prova que lá dos lados asiáticos, só nos mandam porcaria.

domingo, 8 de abril de 2012

Miminhos - I

Vem de perto de Alenquer, sou-lhe tão devoto ao ponto de, há anos atrás, por acasião de um bailarico que por ali fazia, em vez do dinheiro no bolso, carraguei ao lado dos amplificadores e das violas, as caixas de pomada que o meu rendimento nocturno pode comprar. O rigor diz que se deve servir à temperatura ambiente e deixá-lo respirar, por uma boa meia hora. Seguindo as instruções mantive-o na temperatura, e abri-o. Porém, como não o vi a respirar, dei-lhe respiração boca-a-boca. Bem, exagerei... no copo.

Miminhos - II





«Só gostamos de uma mulher quando gostamos do seu cheiro. Quando tudo nos leva a bebe-la, como um chá quente, excitante, aromático. Se não gostarmos do seu cheiro não conseguimos ama-la, nem na pele nem na alma. Podemos ser amigos, companheiros, nunca amantes. Amar é beber um cheiro. É transporta-lo para dentro de nós»

In: Diário dos Infiéis

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Para reflexão de sexta-feira santa



Tenho para mim que a incoerência para além de hipócrita, em muitos casos tem contornos criminosos. Nesta quadra que se requer de reflexão por parte das pessoas de bem, dos devotos, dos política e éticamente correctos, nada é feito com efeitos práticos, úteis e humanos. Cheira pois a falso toda a iniciativa do tipo lava pés, rezar, meditar pelos que sofrem. Se a culpa se atribui quem cabe decidir, e toma medidas que levadas ai extremo se podem chamar de limpeza ou massacre, também a devemos atribuir aos que, estando bem instalados na sua zona de conforto, fingem que não se passa nada, ignoram, olham para o lado, fingindo que não vêm e não ouvem. São estes últimos cobardes descendentes de Pilatos. A coragem do septuagenário grego, que em nome de uma vida decerto digna, anulada pelos engravatados de Bruxelas, a terminou de livre e consciente vontade, é um marco e um testemunho de que tudo isto anda inquinado. Mais casos destes virão. Uns vão-se saber, outros não. Cada vida, não é um mero número, é rigorosamente aquilo que dita a palavra - Vida. E se não se pode vivê-la com dignidade, então deixa de o ser. E o contrário da vida, sabemos todos muito bem, é a Morte.






quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Páscoa

Exactamente. A Páscoa soa-me a uma contradição pegada. Já não vou pelo lado das trapalhadas religiosas, onde cada cor debita a sua verdade, como se fosse a única. Papas, defendem uma coisa, seguidores de Saramago defendem outra, e pelo meio, uma infinidade de teorias, que disso nunca passarão, dado que nada se pode provar. De resto, decerto haverá uma explicação que justifique os ovos, as amêndoas e o coelho. Eu é que não a encontro, tal como não a encontro para me convencer a comer peixe na sexta-feira. Que mal fizeram os peixes? Afinal é tudo irmão ou não? Bem, existe aquela coisa de pagar para comer o bife...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Manifs

Embora o facebook tivesse sido invadido por um rol de fotografias tiradas na manifestação do passado sábado, pelo que me foi dado a ver e ouvir, houve originalidade. Porque muitos evidenciaram ali, os valores culturais das suas regiões. Achei um bom ponto de partida. Arrisco a dizer que esta manif teve 2 em 1. Os que foram à laia de passeio, acorrentados a partidos, e os que legitimamente reclamam a permanência vital da sua Junta. Independentemente da forma escolhida, o direito à manifestação é indiscutível. Pode ser que a mentalidade dos tugas evolua no sentido de avaliar que se devem manifestar unicamente se defendem ou contestam. Sem as garras dos partidos e outras organizações que ao manipularem estes acontecimentos, tantas vezes afastam quem não lhes quer ser devoto, mas até concorda com o tema. A liberdade tem muitos rostos e um deles é a de podermos dizer sim ou não sem orientação superior. Por isso, por exemplo, aqui ao lado, nuestros hermanos quando tocam a reunir por uma causa, não aceitam bandeiras. Tal como na partida do Zeca, a bandeira não tinha insígnias, apesar da tentativa.