sábado, 30 de abril de 2011

Tou xim?

Coloco o telemóvel no sítio onde não devo. Manuseio sem cuidado um pequeno amplificador, que levo para testar o meu som ao vivo, e catrapum, telemóvel partido. Depois de me chamar nomes da pior classificação, pré e pós acordo ortográfico, e de olhar umas quinze vezes para o cadáver, conformo-me. Da conformação passo à reflexão. De como seria a nossa vida sem a lista de contactos, sem os mails, sem os documentos, as fotografias, os trabalhos, as idas ao banco, aos parceiros de trabalho, e todo o resto de actividades e acções directamente relacionadas com os telemóveis, e pc's, principalmente. De facto, estes companheiros tornam-se inseparáveis de nós. Sem nos darmos conta, uma grande parte da nossa mobilidade e funcionamento do dia a dia, seja em trabalho, privado, ou no plano lúdico, está guardado ali, naquelas caixinhas, que deixando de cumprir o seu papel, nos deixam como baratas tontas. Não gosto de dependências. Irrita-me saber que sou, em parte, refém deste modo confortável de viver, mas por outro lado, tão frágil. Tão efémero. Em forma de achega à minha reflexão, a meio do serão musical uma violenta trovoada, veio estragar a festa, as falhas de energia eram frequentes, e prudentemente, os equipamentos foram desligados, e cantou-se à capela, à luz da vela. Simples e castiço. O telemóvel, esse, é que não reanimou.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vinis de Culto

Uma visita de consulta aos vinis do sotão, levou-e a uma viajem no tempo. Daquelas em que por cada capa de LP que se abre, chegam os momentos da época. Um LP além de fazer parte de uma época, conserva registos analógicos que o digital nem cheira, então no que toca a graves, nickles. Além do mais algumas capas são verdadeiras obras de arte, repletas de conteúdos e de arte. Com o abrir das capas temos tudo o que nos vem daqueles anos. Os cheiros. As emoções. As dúvidas. As inseguranças, mas também as certezas de um mundo por desbravar. Um vinil hoje, representa para mim, um conjunto de retratos de partes da vida, um passado, uma recordação, um saborear dos momentos únicos em que se escutava, mais do que uma vez seguida, o mesmo disco, e em profundo silêncio. Escolhi alguns, de entre os mais de 400, que se tatuaram em mim. Poderão faltar outros. Um deles não lhe achei a capa, na net, é o "fazer futuro" do Tordo, assinado ao vivo pelo mesmo e pelo Ary, por ocasião de uma festa do Avante. São parte do que eu sou. São parte da minha inspiração, formação e cultura musical. Por isso os escuto, como o príncipe regava a sua rosa.

















































































quarta-feira, 27 de abril de 2011

em baixa





Portugal está murcho, despetalado, despojado. Sente-se nos foruns das rádios e das tv's, nos concursos, nas entrevistas - qual a sua profissão? - ex-qualquer-coisa, desempregado - escuta-se. Cada notícia agrava mais o estado pessimista, ou realista... dos que, tendo pouco, receiam ficar sem nada, e daqueles que tendo muito, caso não andem distraídos ou a assobiar para o lado, receiam ficar sem parte das suas regalias, ou mesmo serem vítimas da cobiça do seu próximo. A insegurança, o medo, o desalento apodera-se com as suas raízes do colectivo nacional. Opta-se pelo avio na farmácia, ou pelo cabaz de compras? Junta-se o aviso de corte de fornecimento da água, aos restantes. E enquanto tudo isto aqui em baixo se vai passsando, de forma dramática, e irreversível, porque luz no fundo nem vê-la, lá em cima, os outros entretêm-se a escrever bacoradas foleiras no Facebook, a mandar recadinhos uns aos outros, a fazerem queixinhas, num total marimbanço e desprezo por aqueles que lhes sustentam as mordomias. Longe vão os tempos em que uma frase andou muito em voga, por ocasião de uma crise bem menor do que aquela em que nos encontramos - temos de viver com aquilo que temos. Aplicada aos dias de hoje, equivale a dizer que se o que temos são dívidas, é com dívidas que vamos viver nos próximos anos. Nós, os de baixo, que nem sequer fizemos nenhuma parceria, nem percebemos nada de deficits.

terça-feira, 26 de abril de 2011

o meu 25/04/74

Os vinis do Sérgio, do Mário Branco, do Zeca e do Letria, que carregava do e para o Liceu, denunciavam o sistema. Por mão da senhora minha mãe conheço o CDE, e escuto aquele estranho hino, Avante camarada, avante. Algo andava no ar sim, mas nada que desse a entender os planos dos militares, que descontentes com a vidinha deles, não a do povo, realizaram o golpe de estado. Acolhi alegre e expectante a novidade, mas também confuso, enquanto vibrante na boleia do entusiasmo de esquerda. Foi para mim difícil, gerir as versões dos mais velhos. A minha mãe a festejar no Terreiro do Paço, o meu pai a torcer o nariz, e a sugerir-me para não ir para Lisboa, o meu candidato a sogro, na época, a desvalorizar a Revolução dos Cravos. Dizía-me este, na manhã de 25 de Abril de 1974, estragando-me os planos de ficar a sós com a filha, a fim de mais uns avanços íntimos, que a seguir à euforia viriam os partidos, e que os partidos só quereriam sacar. Que mais tarde as pessoas se desacreditariam das gentes ligadas à política e suas políticas. Pareceu-me muito mal aquele discurso, daquele possível futuro sogro, reacionário e fascista, logo ali o apelidei em pensamento. Mais me responde aquele homem recém chegado de Santos, perto de São Paulo, para onde emigrara quase vinte anos antes, que a descrença na gente da política foi tamanha, lá de onde ele vinha, que até um hipopótamo, do zoo paulista, o Cacareco, ganhara umas eleições. Ignorante e aldrabão, aquele sogro empata, que ainda por cima me debitava aquelas bacoradas, enquanto eu e a filha, tinhamos as hormonas ali amordaçadas a ferver por baixo das vestes. Muitos anos mais tarde, confiro a veracidade do episódio, a net mostrou-me o Cacareco. E hoje, passados 37 anos, já não me parece assim tão ridículo votar, num animal à séria. Pelo menos estes não mentem nem roubam. Não governam, mas também não desgovernam. Quando me perguntam onde é que eu estava no 25/04/74, eu respondo - a ouvir a história do Cacareco, e a tentar dar uma queca!

ainda o Palma

Ainda a propósito do Palma, e das suas bebedeiras públicas, cumpre-me aqui um manifesto. Não de solidariedade, não de defesa, até porque não entendo como aceitável que se ultrapassem limites, quando não estamos no recanto e no recato do privado, do íntimo. Como previ, a degradante evolução do artista, compromete-lhe o que resta de alguma dignidade aceite, pelos olhos daqueles, os tais que referi no post anterior. Aos que não se cansam de escutar o estrela do mar e nele sentem toda a essência do compositor-músico, não se abanam os alicerces da adoração que nutrem por muitas das suas obras. Aos restantes, claro que só lhes sairá a palavra - bêbado. Não creio que Palma se incomode com esses. Palma vive numa outra galáxia, numa espécie de terra dos sonhos.


É sempre bom lembrar que por trás da figura pública está a pessoa, e essa pessoa é passível de fraquezas. É bom não esquecer, que tantos génios, fizeram espectáculos, podres de bêbados, pedrados, e não foi por aí que perderam a sua legítima página na História. Estou a lembrar-me do branco mais preto do Brasil, e da senhora que celebrizou o nosso fado, pelos quatro cantos do mundo, só como exemplo.

"na terra dos sonhos podes ser quem quizeres, ninguém te leva a mal, na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Deixa-me Rir



"está a saber-me mal, este wiskie de malte"


Lamentavelmente, e porque o tuga é exímio em realçar os defeitos alheios, Palma foi ontem mais comentado pelo aparente permanente estado de embriaguês do que pelo espectáculo apresentado. Admito que depois de ter visto uma boa meia-dúzia de concertos do Jorge, depois deste que vi ontem, dificilmente pagaria para um próximo. Sou admirador desde antes do princípio, quando acidentalmente me veio parar ao quarto o LP de estreia "com uma viagem na palma da mão", do visionário e jovem desconhecido Jorge Palma. Porque lhe conheço a obra, os palcos, a biografia, o modo despegado, o estilo irreverente, o comportamento anti-politicamente-correcto de enfant terrible, entendo com as devidas limitações o desastre deste concerto, que de alguma forma previa acontecer. Não fora a força dos temas clássicos, a simpatia que mesmo cambaleante, e a proferir palavras enroladas que nem ele mesmo conhecia, a classe e a paciência dos músicos, e restante staff, e decerto o artista teria sido convidado a saír de cena, que é como quem diz, saír do palco. Mesmo assim, com uma voz aqui e ali tão sem melodia como a do Abrunhosa, a enganar-se nos acordes, no alinhamento, nas entradas, nos finais, Jorge Palma alegrou a sua maltinha do Seixal, que também, tolerante só se queria divertir, e beber umas bejecas, e umas sangrias. Afinal se o 25 de Abril se celebra pela liberdade, ao Jorge demos-lhe a liberdade de se embebedar, o que penso, não o deixará de fazer premanentemente até ao final dos seus dias.



sábado, 23 de abril de 2011

Reflexões

Não gosto que me mandem fazer isto ou aquilo, porque é tradição. Como, já por aqui o disse várias vezes, não gosto de emoções por calendário. Mandam-me exercer a reflexão antes de votar, como se eu não soubesse nessa véspera onde colocar a cruz. E por via de outra cruz, me dizem para reflectir antes do Domingo de amanhã, como se na segunda-feira, já não fosse autorizado. No entanto, estou bem comportado, o churrasco de ontem foi adiado para hoje, e a chuva de hoje levou-me ao meu local eleito para estar comigo e com os meus botões. Se de outras supostas realidades não lhes adivinhamos nenhuma certeza, uma certeza cabe que nem uma luva, nesta época - a família. E essa, a família, é real, possuímos, vivemos e sentimos essa família. Os que estão, e os que já partiram. Hoje, não porque reflecti, ou concluí, pois o pensamento já está há muito determinado, dediquei particular carinho aos meus avós, e à obra e exemplo deixada. Ao orgulho e previlégio que sinto nos dias de hoje por ter tido estes avós. Dos quatro, destaco dois que foram, cada um na sua presença e intervenção, verdadeiros pilares da família. Não que queira de modo menor aos outros dois, porque aqui neste coração de neto, e volvidos todos os anos que nos separam, há espaço para o amor a todos. Contudo, se existe a tal vida para lá do fim desta, eles decerto sabem do que falo. Bem hajam, meus avós por me ajudarem, ainda nos dias que correm a ser quem sou.


Para quem tiver curiosidade, dois deles estão no cantinho dos retratos.


....

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ah pois é !!!!!

Disseram agora na rádio que os homens do FMI, que estão por Lisboa, ficaram em estado de choque porque para além dos tugas não fazerem népia amanhã, sábado, domingo e segunda-feira, ainda tiveram uma borla com a tolerância de ponto, no dia de hoje. Não sabem viver a vida, os fulanos, é o que é. E ainda não viram nada - as pontes, os plenários às sextas-feiras, as baixas, os hoteis cheios e outras pérolas típicas cá da malta, vão dar cabo deles. Porques estas particularidades, são como a palavra saudade, o fado, a sardinha assada, e o caldo verde - só nós é que as entedemos. Xô FMI, vão mas é trabalhar nos feriados lá para a vossa terra, não venham para aqui ensinar maus costumes à malta. Rua.

Estou com o coelho...

... da fotografia! afinal o que tem o coelhinho a ver com os ovos? Ainda para mais de chocolate... se fossem ovos de gema e clara, ainda vai, porque afinal era assunto de capoeira. Haveria uma relação de habitat entendível. Mas como muito bem diz o coelho, ele nada tem a ver a história dos ovos. E se me custa a associar o coelho ao ovo, pior fica imaginar que os ditos, tenham algo em cumum com o lado religioso da Páscoa, porque afinal, neste caso, quem nasceu primeiro, não foi o ovo, nem a galinha, nem o coelho, mas sim, a Páscoa na celebração da ressurreição. E dado que me custa a acreditar no tema da ressurreição, talvez porque sou da linha de São Tomé, resta-me gostar da Páscoa, pelo pretexto de um almocinho reunindo a família possível, sem coelho, mas com borrego, sem actos religiosos, mas com um toque de pecado, o da gula - às amêndoas.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Viva o Rei

Roberto Carlos fez ontem anos. Vi-o há pouco, na tv, em pleno espectáculo a receber os parabéns do companheiro, irmão, e responsável por muitos dos seus sucessos, Erasmo Carlos. O Erasmo cantou, você meu amigo de fé, meu irmão, camarada.... emocionaram-se os dois. Emocionei-me eu aqui. O Roberto faz parte com meu cancioneiro desde que em pequenino, comprei os vinis em formato EP, com os exitos do momento, quero que tudo vá pro inferno, o calhambeque, namoradinha de um amigo meu. Nem sempre me agradou, o Roberto, quando desatou a fazer músicas por dá cá aquela palha, como as dos óculos e outras músicas de menor qualidade. Mas isso serão pequenas gotas no caudal de grandes temas que mexem comigo - grande o emoções, como é grande o meu amor por você, outra vez, cavalgada... Se o Roberto Carlos é comparado por algumas pessoas ao Julio Iglesias, eu discordo vivamente. O Roberto é mesmo considerado o Rei no seu país, e por lá vive. Além do mais, compõe, para ele, e para muitos outros. O Julio que o diga.