segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

on line

Dizem que cada pessoa de idade, vulgo velho, idoso, senior, 3ªidade, é um livro, um compêndio de conhecimentos e experiências acumuladas, ano após ano, como se de camadas se tratasse. E se por aqui se esgotassem os motivos, estes já o seriam de peso suficiente, para nos abeirarmos a um, e por ali ficarmos a desfolhar o livro, ou seja, a escutar.
Inspirado nos meus passeios em folga semanal, decidi convidar uma dessas pessoas, por todos os motivos e mais um, a um passeio, envolvendo um pouco de tudo o que é mar, serra, e vinhedos da região. Mas uma pessoa especial - a mãe.
E de paisagem e paisagem, sempre na tagarela, se chegou ao choco frito, em Setúbal pois então, com o Sado ali em frente.
Da matéria falada, das memórias e experiências de outras décadas, algumas aplicadas a novas realidades, da forma muito mais que lúcida de interpretar tudo o que de grave se vai passando pelo mundo, com particular preocupação para o que se passa no quintal lusitano, ficou-me a confirmação de que a senhora minha mãe, está total e permanentemente on line , e nem o verde tirado à pressão lhe baralha as ideias ou lhe confunde o raciocínio.
Para além de uma dose de satisfação sem medida, de parte a parte, fiquei a saber que para além das gerações rasca, e à rasca, existe aquela à qual pertenço - a enlatada. Aquela que tem de cuidar dos pais, e dos filhos.
No remate final, sobremesa em Azeitão, com bica, torta e moscatel, não esquecendo de levar algumas para casa, pois enlatado que se preza, cuida de todos.




sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

afectos

Dizia Vinicius que não fazemos amigos, que os reconhecemos. Por isso basta que do outro lado da linha, voz amiga abra a boca, para que se sinta que alguma coisa não vai bem. Essa capacidade de pressentir, não se adquire ali à esquina, tãopouco porque assim queremos. É uma capacidade que matura com os anos, com os pequenos detalhes, com o estar atento, à outra pessoa, porque ela nos é querida, porque instintivamente cuidamos, não como dever, mas porque vem cá de dentro. Sente-se e pronto. Não se teorize muito sobre isso. Os afectos não se explicam. Ou se têm ou não.
A voz amiga, que me ligou, não está bem, denunciou-a, a voz. Aos meus questinonamentos, sobre o que se passa, só levei negações, que está tudo bem, que são fases, e essa das fases, já me disse tudo. Denunciou-a. E porque além de conhecer e reconhecer a voz amiga, sou insistente, não descansarei enquanto não tirar tudo a limpo. Não para querer saber, mas acima de tudo, na tentativa de ser útil, de apoio, porque em outros tempos assim foi, no inverso. Porque o meu instinto assim o dita. Porque muitas vezes, o simples facto de ouvir, gera alívio, gera partilha, porque os amigos se reconhecem, e se necessitam. Porque os amigos, são para as ocasiões.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

É por isto...

... que eu vou à Arrábida!










quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Zeca, sempre!



"Zeca Afonso morreu na madrugada de 23 de Fevereiro de 1987. Foi a enterrar no dia seguinte. O enterro transformou-se numa impressionante manifestação popular. Para o seu funeral deixou apenas dois desejos:

- que a urna fosse coberta com um pano vermelho sem insígnias, símbolo da luta unitária a que dedicou toda a sua vida;

- que ninguém vestisse de luto.

...

Carta que escreveu à filha Joana,em 13 de Maio de 1973,preso em Caxias."Querida Joana: Como sabes eu estou preso mas também não sou um homem mau. Viste como foi. Não sejas rabugenta e ajuda o Pedro. Se ele estiver birrento lembra-te que ainda é um bebé e tu mais crescida que ele. O que eu não gosto é que sejas egoísta porque é muito feio. Se algumas das tuas amigas querem tudo para elas deixa lá. Elas fazem mal mas tu não. Explica-lhes que não devem ser egoístas.Tem cuidado com os sugos e outras porcarias iguais porque podes ficar sem dentes. Depois, mesmo que os queiras ter já ninguém te os pode pôr. Ficas como os velhinhos. Alguns deles tinham a mania de comer guloseimas, gelados e caramelos. E também chocolates.Eu lembro-me muito de ti e do Pedro.Muitos Beijinhos do Zeca Pai”.

Gentinha

Na hora da torradinha, no meio das gentes que se apertam ao balcão, passam as imagens do Mourinho na televisão, julgo que a comentar o jogo de ontem, pois a ele não o ouvi, mas ouvi de disparo alguém da plateia, interromper a sua bica, e dizer alto e bom som que este, o Mourinho, não se vai safar com os espanhóis, que é convencido, arrogante, que anda a fazer figuras com o anúncio do banco, e logo, outras vozes carpideiras, se levantam, que são uns fanfarrões, ele, o CR, e vai de descascar em quase todos os portugueses que por via desportiva, têm singrado fora do nosso cantinho. Quase em coro, esta gente falou dos ferraris, e das mansões, bem informados que estão pelas revistas que se dedicam ao jornalismo de rapina.
Saí meio desgostoso e desconcertado dali, questionando-me porque é que em vez de terem algum orgulho pelos feitos e conquistas de gente da nossa terra, que a pulso e acreditando no seu trabalho, passaram de humildes e anónimos a pessoas respeitadas em todo o mundo. Por mérito. Creio existir uma inveja latente nestes que debitam as alarvidades, perante qualquer caso de sucesso que não seja o do seu próprio seio. Gentinha a quem o poder não bafejou.
Saí dali, a pensar que se em vez de um treinador de futebol, a imagem fosse de um político, aí sim, haveria motivo de revolta. Porque a um político, nunca o vi trabalhar, a não ser em benefício do seu próprio seio. Gentinha a quem o poder lhes sorriu.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

oxalá que não II

Ao ler o post da Antígona "oxalá que não", não pude deixar de associar o seu contúdo, a outro fenómeno visto e confirmado no domingo último, por ocasião da minha ida a Lisboa, que depois de muito palmilhar, deu lugar ao vaguear, agora sentado no carrinho, pelas ruas de Lisboa, e ele foi Baixa, Chiado, Marim Moniz, Praça da Figueira, Almirante Reis, Sempre com a mesma visão - estrangeiros, e sem-abrigo, na esmagadora maioria. De tugas poucos, tais como os poucos que avistara antes lá pelos lados de Belém, onde outro tipo de estrangeiros faziam parte da massa humana.
Não me considero saudosista, mas esta Lisboa que percorri, não a reconheço. Não lhe vi, vida, não lhe vi bairrismo, nem gentes felizes, tirando os turistas. Vejo gentes de outras paragens de aspecto duvidoso, que não me convidam a parar na minha cidade, e sentir-lhe os cheiros, esses também, outros. Não encontro em Lisboa, os lisboetas, adivinho-os a morar nos subúrbios, e a degladiarem-se num qualquer espaço comercial, por um saldo, um hamburger, ou uma vaga no estacionamento.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Fenómeno



Impossível, diriamos aqui há uns anos, que através dos apelos ao toca-a-reunir, por via web se juntassem as multidões nas praças, e fizessem cair os seus decanos governos.
Pouco provável seria também, acontecer o que aconteceu no passado sábado - um amigo de escola, que me encontra no sítio do costume, o Facebook pois então, que estando a viver na Suiça, lança neste fenómeno social, o toca-a-reunir, com o título, vou ao Seixal, tocar um copo ao Taberna, e cantar umas músicas com o Sputnick, quem alinha?
E através deste repto, se encheu a sala de gente que se conhecia desde os tempos da outra senhora, com beijos, abraços, copos, e muitas cantorias.
As mulheres principalmente, não pararam de dar ao dedo nas suas máquinas fotográficas, e telemóveis. Não para mais tarde recordar, mas óbviamente para colocar no Facebook. Ora pois. Ninguém pára esta onda.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tão bom fazer planos

Os domingos, ou dias de lazer permitem-nos algumas liberdades. A de mandar o relógio à fava, a de sair de casa sem rumo, ou como no caso de hoje, saír com o destino já decidido na estrada, de ir à Costa apanhar o ar do mar, e a meio caminho pensar, e Lisboa? Porque não, afinal é o melhor dia para ir a Lisboa. E decidido, rumo ao CCB, sem qualquer outra ideia que demovesse a intenção. CCB seria. Não me lembrava eu que ao terceiro domingo do mês existe o ritual do render da Guarda, e que bom que eram quase horas do evento. O CCB que espere, vou ouvir o Hino, e ver o meu amigo LB montado no garboso corcel ornamentado a rigor. Aproveita-se para ver a casa oficial do presidente oficial, que ainda não nos governa, porque não tomou a posse. Esperemos então a tomada, e pode ser que ele se pronuncie a dizer que não se pronuncia sobre a recessão. Mas hoje é domingo, nada de política, assista-se à actuação irrepreensível da banda da gnr. Escutado o mini concerto, avistado o meu amigo, com uma ou outra olhadela discreta às pernocas das turistas, decido-me rumar ao CCB, mas, aqui ao lado, não é o museu dos coches? Ena pá, há anos que não vou. E é de borla. O CCB não foge. E foi um museu, e mais outro, o da marinha, e os Jerónimos, tudo de uma virada e mais os 3 pastéis de longa espera, porque a fila para os ditos vinha até à rua. O CCB que espere, qualquer dia, vai-se lá. De propósito.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

falar e fazer


Ou como dizia o camarada Álvaro Cunhal - entre as palavras e os actos vai uma grande diferença. Eu afirmo convictamente que há toda a diferença. Isto a propósito dos rebuliços em andam os meios de comunicação e os orgãos ditos responsáveis pelos descalabros, sobre dois temas que já todos estamos carecas de saber - a do abandono e solidão de pessoas da terceira idade, a que agora apelidam de séniors; e a do desalento da geração Deolinda, os que passaram de rascas a à rasca. Fica bem falar do assunto. E até são assuntos que vendem, porque são mediáticos, porque a eles se está sensível, porque se não for aqui em casa, há sempre um caso para contar, aqui ao lado, ou alguém conhece alguém que tem um velho em modo solidão, ou um ex-jovem encalhado em casa, no quarto onde a mobília é tão velha como o ex-jovem, velho portanto o jovem, que já não tem idade para primeiro emprego, e ainda não atingiu a idade da reforma. E assim se fica, e assim se fala, se discute e se debate, e assim se finge que se fez algo, apenas porque se falou. Mas do fazer, apenas se fez - falar, falar, falar, e não se fez nada.
Resta a mórbida consolação de que por via deste rumo, poucos velhos morrerão sózinhos, pois os filhos, não lhes sairão de casa tão depressa...
Do mal o menos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

variando sobre o novo acordo



Espetantes estavam os espetadores, e eis que levanta o pano, começa o ato, e o ator baixando-se, diz - o meu ato é o que vêdes, ato o sapato - mas de fato, continua o ator, este sapato que ato, não está a condizer com o meu fato.
(cai o pano e Camões dá duas voltas no túmulo)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Soberanos ou Insanos?

Diz-me o meu habitual companheiro de almoço, o M, estar abismado com a notícia de que alguns dos estádios erguidos por altura do Euro, e qua apenas suportaram dois jogos, têm como solução de viabilidade, a demolição. O M, embora formado em engenharia é muito novinho, e daí que se entenda a sua perplexidade e revolta, porque o M, ainda está na idade de acreditar nessa coisa dos governos, partidos e assim. Mais confusão lhe fazem estes erros, que não o são, para os responsáveis destas obras de loucos, porque o M trabalha numa empresa alemã, onde não se gasta um cêntimo mal gasto. Dos estádios, passámos aos submarinos, aos blindados, aos aeroportos, ao tgv - que em Espanha, no ano de 2010 perdeu significativo mercado para a aviação - aos ordenados, reformas e mordomias da classe política, e altos cargos das empresas públicas. Não esquecemos de relembrar, a meio do bacalhau com grão, o Freeport, os sobreiros, os Jaguares, as sisas, os bpn's, e mais um bom punhado daqueles escandalos, que já nem o são, dada a naturalidade com que surgem, são desmentidos, e fica tudo à espera do seguinte.
Deixei o M a modos que escandalizado, quando lhe disse, que é por estas e por outras que preferiria ser governado por outros que não os portugueses, dados os factos citados. O M pergunta-me - então deixávamos de ser soberanos? Nós não, mas eles sim, os insanos, que nos roubam, e será o teu filho que, quando nascer vai pagar o saque. Saíu o M do almoço, com uma ideia na forma de embrião - emigrar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

por calendário


Hoje é dia que alguém determinou ser o dia dos namorados. Não foi ontem, nem será amanhã. Hoje é o dia de certas permissões, de certas obrigações, de certos procedimentos. Nem antes nem depois. Hoje é o dia. Mesmo que a vontade tenha sido a 13, ou apareça a 15, paciência. A 14 é que é. Que as imaginações sejam pouco férteis, pouco importa, o mercado encarrega-se de provir com sugestões várias, múltiplas, de muito formatos e valores. Sim, valores, porque sem valores, o dia não teria valor. Em suma, só se trata de apelo ao valor, monetário, entenda-se. Pois para isso foi criado o dia 14. Compre bonbons, lingerie, flores, aneis, jante fora, escape para qualquer refúgio, mas não se esqueça de liquidar o valor. Sem gastar um determinado valor, o amor não teria valor. Tu não me amas, dirão algumas namoradas. Ou, amas-me só isto? Dirão outras, perante uma reles caixa de ferreros.
Nada de celebrações imaginadas e sentidas, sem que envolvam o valor, assim não seria prova de amor, nada de programar uma original escapadela a dois, num segredo bem guardado, e de valor indiscritível e íntimo. Porque nestas coisas do amor, que se quer a dois, só aos dois dirá respeito. O dia de hoje é mais virado para a prendinha, o jantarinho, e para a foto que se exibirá mais tarde, porventura nas redes sociais. Porque a felicidade da malta transborda tanto que tem de ser exibida.
Como faço parte do sistema, não deixarei de o celebrar, reservando-me contudo a escolher o momento, em função de outros desígnios que nada têm a ver com calendários. Hoje é dia de dar música aos certinhos. O resto, é como as minhas plantas, há que regá-las, e cuidá-las, dia a dia, e sim, também no 14.
Curiosamente, e coincidência infeliz, hoje, soube-o pela rtp1, é também dia da disfunção eréctil, o que, admita-se, não é agradável - o dia dos namorados ao mesmo tempo do dia da disfunção. É que pode inibir os mais sugestionáveis, preocupados que estão para que tudo seja perfeito - no dia 14, claro.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

pedalar, sim.

Muito bom, fazer o matinal passeio de biciclete, embora a noite tenha sido dura, no bom sentido, e me cobre ao corpo algum cansaço. Muito bom sentir o sol, o ar fresco, os cheiros, o trajecto à beira-mar, e descobrir, com compreensível esforço, que o Seixal tem pequenos recantos, que se os imaginarmos com boa dose da dita, até se parecem com as caraíbas :)
Menos bom o exercício de observação, que de modo clínico e estatístico. venho fazendo, à saúde do comércio local, e á consequente degradação dos espaços, mas isso é assunto para depois. O fim de semana quer-se de música e descanso, e de outros poréns.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

viola no saco

E lá vou numa espécie de mini-digressão, iniciar um fim de semana de dar música aos outros, de me divertir com os do costume, de tentar o aplauso de outros menos habituais, de experimentar novas formas e novas formulas de tocar esta ou aquela modinha, com encomendas que passam pelo tradicional leque de músicas para os casalinhos no dia dos namoros - como se no dia quinze não fosse dia de amar - a pedidos mais absurdos do tipo, hino do SCP (sofrível) e do SLB (horrível). Sei que me cabe decidir o que cantar, e definir a fronteira entre aquilo que as pessoas gostam de ouvir e aquilo gosto de tocar, e nesse caminho, atravessando a fronteiro, vou circulando, com a finalidade de divertir os outros, mas sem nunca deixar de me divertir. Viola no saco, e vamos lá cantar. Por acréscimo, fazem-se sempre novas amizades, o que também é muito gratificante.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

o Tony do Capri

Desconheço-lhe o nome, chamemos-lhe pois o Tony, que sei que houve um do Capri, e este tem um, dos anos setenta, bem conservado, a andar, a deitar a sua baforada de fumo, mas os clássicos são assim, poluem, mas isso é detalhe. Um clássico, é um carro que deixa de ser novo, passa a usado, de usado a chaço, mas depois de um período de quarentena, que chega aí pela casa dos vinte anos, o carro passa a clássico. E clássico é também o Tony. Há muitos anos que não o via, a figura é a mesma, embora de silhueta com os tais anos que o tornam num clássico, da minha idade, o Tony enverga a mesma indumentária com que engatava as miúdas nos bailes da Torre - as calças justas de ganga, a camisa também de ganga, à cow-boy , a bota de bico e salto à Gringo, dos filmes western. Tudo isto acompanhado pela farfalhuda cabeleira tipo Bobby do Dallas.
Hoje enquanto esperava a minha vez, na fila do banco, observava o Tony, a arrancar no seu Capri, e pensava que há pessoas fieis ou presas a um estilo de vida, que não querem largar de nenhuma forma, e comentando com o velho conhecido "caixa" da dependência bancária, o estilo castiço do Tony, este logo afirmou, conhecedor - e desengane-se quem pensar que ele vai mudar de estilo quando o Capri arrumar as botas, pois sei que tem na garagem, o Datsun, e um dos primeiros Toyotas que vieram para Portugal!!! Aquele que diziam que veio para ficar? Pergunto. Esse mesmo, e vermelho como o Capri. À ganda Tony! Imagino o stock de gangas e botas de bico lá em casa...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

levitar

esta musica torna-me leve.

estado de ansiedade

Já me farto do frio, estou em vias de odiar a chuva, as ventanias, as meias grossas, os gorros e os polares. Já me vai custando, ir à praia empanturrado de roupa, e em vez do pézinho, apenas me ficar por um pálido toque com os dedos pela água. Bem que me calhava dar um saltinho lá abaixo e colocar a barriga ao sol. Um vou ali a volto já. Uma semana bastava. E Porto Seguro parecia-me bem...

Portugal-Import

Posso parecer suspeito e presunçoso, mas reflito e chego outra vez, à mesma conclusão. Nunca os contei, mas asseguro, que conheci mais de uma vintena de países, tanto quanto aquilo que se pode conhecer no plano do bilhete e ida com volta marcada. Do que destas andanças observei, nunca vi o que vejo no meu país - somos um país que importa tudo o que vem dos outros, em prejuízo próprio, o que nos descaracteriza cada vez mais. Se temos uma tradição milenar, profunda, do carnaval, porque raio temos de gramar péssimas e enregeladas imitações do carnaval carioca? Se nunca foi tradição lusa, celebrações tais como halloween ou o dia dos namorados, porque raio temos de as gramar? Já não é de agora esta falta de personalidade nacional, existe uma marcha popular, antiga - Lisboa, não sejas francesa. O título diz tudo... Resta-nos a heroica e resistente manutenção do Natal no Natal, e não nos Reis, como fazem os espanhois.
Dizem-nos apelativos e paternalistas, os que mandam, para visitarmos Portugal, para consumir o que é nosso, que o que é nacional é bom, e eu até concordo. Se eu fosse um dos que mandam, iria muito mais longe - em vez de cadeias de lojas de hamburgers, onde podemos avistar a fauna a comer com as mãos, a lambuzarem tudo à sua a volta, com os rebentos depositados em parques lúdicos de plástico, eu, Sputnick, decretaria uma rede de TugaTascas, onde se comeria de talher, comida nacional, pois então. Mais ainda, em vez de deixar a malta entrar para dentro do cinema de balde de pipocas e sumo de palhinha, com a consequente ruideira e roedeira, que não nos deixa assistir a um filme em condições, Sputnick ondenaria o fornecimento de sandes de coirato e entremeada, e copos de três. Mines não, por causa dos arrotos, o que iria dar na mesma poluição sonora dos pipopas e dos ruídos do pessoal a chupar na palhinha quando a bebida está a acabar.
Isso sim, seria orgulho nacional.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Gary Moore

So long Gary Moore, os blues não serão a mesma coisa sem ti.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

De Sintra aos Mouros

A ideia de palmilhar trilhos históricos, em forma de peregrinação, sempre me fascinou, de várias formas, desde a imaginação do fantástico, da História, mais ficcionada ou não, de como seriam as coisas em tempos idos. Caminhar em trilhos, pensando que estes, hoje turísticos, porventura já eram trilhos medievais, corridos, pisados por outras gentes e outras necessidades, que não a minha, a de submeter os meus quilos a mais ao desafio - o carro fica aqui em baixo, e agora a tua meta está lá em cima. Confesso que ao fazer a foto, não acreditava ser capaz de rebocar este corpo por via caminhante, ao topo, mas, pasmei-me, até nem foi nada difícil, na ida, no regresso, e o preço das paisagens intercalares não tem cotação. Agora resta descansar do dia de suposto descanso, e quem sabe, mais tarde meditar, à lareira, a saborear um tinto, sobre o quanto deviam sofrer as gentes medievais - é que se já me foi complicado fazer o trajecto em vestes suaves e confortáveis, como não seria de armadura, espada à cintura, e todos aqueles adornos que se vêm no Braveheart...?



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ordem para sorrir

Hoje nas rádios, o convite em modo de desafio é que se sorria. Nada contra. Gosto de sorrir, que me sorriam, e de boa disposição. No entanto, sorrir nestes tempos conturbados de incertezas, e poucos ou nenhuns horizontes risonhos, é acto complicado, principalmente para quem anda da rua de papel na mão a mendigar uma carimbadela, com a absurda e inútil finalidade de justificar a busca de emprego. Num país cada vez mais em desiquilíbrio, onde as imagens dos tumultos no Egipto suscitam comentários do tipo - e qualquer dia vai ser aqui.
Existe quem, como Medina Carreira, anteveja que a malta vai acabar por andar à estalada. Admito que quando ouvi pela primeira vez essa professia, chamei doido ao ex-ministro que afirmava ser uma consequência inevitável da progressiva falência da nossa economia, e que bastava fazer as contas. Hoje já vejo a coisa com outros olhos, concluindo que um dia chegará o da tal gota que faz rebentar a tampa.
Mesmo sabendo que a coisa está séria, e que a uns a vontade que dá é de chorar, que se sorria sim, faz bem e não é tributado, que se saiba.
Faz todo sentido incluír aqui um dito popular que a minha avó dizia, vez ou outra:
"vamos lá cantando e rindo, que isto um dia acaba triste" :):):)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cabo Espichel








Quatro imagens que valem por mais de quatro mil palavras.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

no coments

Usos e Esquemas

Conheci o JP, na década de 90. Homem para uns bem conservados sessente e poucos anos. Administrava uma empresa de distribuição, representante de conceituadas marcas cujas sedes, visitava com frequência, por essa europa fora. Em Portugal, fazia com alguma periodicidade algumas convenções de vendas, onde, em hoteis de grande porte, eram expostos os productos, à clientela que caso tivesse alguma dúvida, logo era esclarecido por um comercial da empresa, ou por uma prestável menina, contratada para o evento. As meninas, sempre jovens, eram, para além das canetas caras, charutos e Jaguares, a perdição do JP, que usava habitualmente a mesma tática de sedução - no meio de promessas várias e vagas da colocação da menina nos quadros da empresa, lá carregava o JP a que mais lhe agradava, (ou se prestava ao efeito) para as convenções, congressos, deslocações ao estrangeiro. Sob pretexto da contenção de despesas, a promitente promotora era avisada já no local, que teria de partilhar o quarto com JP, que previamente tratara de garantir, não duas camas, mas uma cama, de casal. Assim procedia, aos olhos daqueles que de perto, testemunhavam este invariavel procedimento, que depois terminava com uma desculpa esfarrapada à candidata a promotora comercial - a menina não reúne as condições pretendidas.
Tudo caminhava às mil maravilhas ao JP, até que se ter perdido pela difícil L, promotora de uma marca concorrente. A L era sem dúvida bela, capaz de despertar desejos a qualquer macho que se preze. Mas claro, o JP foi mais longe, e tratou de assediar a L para a sua organização, proeza que conseguiu, dado que a remuneração era deveras tentadora. Logo de seguida, o JP coloca em acção o plano B, uma deslocação a Barcelona. E claro, a L teria de o acompanhar, sendo devidamente compensada pela empresa. A tudo isto, a L não achou estranho, dado que já fizera deslocações na empresa anterior. Até que se chega ao episódio do quarto único. Nunca cheguei a saber o que se passou no quarto com uma cama, algures em Barcelona. Sei o que quase todos souberam, porque estas notícias voam - que a meio da noite, a L saiu do hotel, deixando o JP a ressonar. Dele, apenas trouxe o telemóvel, e desse fez apanas uma ligação, à mulher do JP.
E por aí ficou o assunto. JP, apostara no cavalo errado, que lhe acabou com o esquema.
Recentemente, perante as notícias do assassinato em Nova Iorque, pensei, onde é que eu já vi isto? A cama, o cavalo errado, e o fim do esquema.

oh não!!!

O ambiente estava agradável e acolhedor, lá no restaurante, na noite de sábado. A lareira estava acesa, a iluminação a meio gas, e das minhas colunas saíam uns suaves acordes de música ambiente.
Vi-os chegar, no balcão da esplanada, bebericando o café antes de me lançar a eles, aos clientes que iam entrando, gente de nível, dizía-me a L, a funcionária de serviço, a julgar pelos carros que estacionavam.
E lá fui, música após música, fazendo parte do conjunto de coisas a servir ao conforto e bem estar do pessoal que revelava um bom gosto para os temas que fui propondo, até que uma menina sai da mesa e se dirige a mim, e fica ali a observar-me. Páro de tocar, e digo solícito à menina que não devia ter mais de três aninhos - queres que te cante uma música só para ti? Envergonhada, ela faz que sim com a cabeça, a mãe já prepara a máquina para as fotos da praxe. E continuo solícito - e qual é a música que queres que toque? Preparando-me internamente para cantar os patinhos, desabo na proposta de petiz, que pede, irredutível - o pai da quiancha.