segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Lisbon

De vez em quando dão-me estas nostalgias e lá rumo à capital, em busca de caminhos trilhados, e de recordações de outras épocas, em que palmilhava vezes sem conta os mesmos trajectos, ora rectilíneos, ora em zigue-zague, consoante o tempo e disposição. Dificilmente me vou revendo nos locais habituais. Se a uns  pouco lhes reconheço as linhas de outrora, a outros, a degradação e abandono tomam conta do estado actual. As gentes com quem me cruzo falam quase todas, em idiomas que não o meu. Sejam os turistas na baixa, ou os emigrantes ali para os lados dos Anjos, onde em busca das ruas onde antes visitava os meus tios, encontro hoje, mulheres da vida, escuto orações árabes. Os sem abrigo afectam a paisagem da Baixa,  pelo que foram corridos da Aurea, da Augusta, e paralelas para ruas e avenidas menos procuradas pelo turismo. Salvam-se alguns locais, cafés, edifícios, que teimosamente vincam o lema de que antiguidade é posto, mantendo viva a identidade de uma cidade que já foi menina, e moça. Das impressões, ficam-me estas fotos, que transformei, ao som do Rodrigo Leão. 


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal consumo

Alguns dados que disponho, juntamente com o visto e ouvido aqui e ali, denunciam que embora, se diga que a crise está a afectar o tradicional Natal, é este ano, mais um ano de desmedido consumo. Não obstante as ridículas recomendações à contenção por parte de associações de defesa do consumidor, dado que só vieram a público no dia 22... o pessoal compra como se não houvesse amanhã. E é aí que bate o ponto - creio que grande parte da malta está numa de canto do cisne, na quase certeza de que no próximo Natal, se atingido, aí sim, não haverá dinheiro para compras. Nem crédito.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

12-12-12 e 21-12-12


Já assistimos a várias premonições de apocalipse, e não há Meirim que acerte no dia do fim do mundo. Este mês, então, foi logo bafejado com duas datas, mas como habitualmente, passa a data, e nada. Acorda-se no dia seguinte com as mesmas tralhas, as mesmas alegrias e as mesmas tristezas. Confesso que nunca liguei a estas previsões, ou aquele tipo de crenças, vindas das minhas avós, de cariz religioso, que se fizeres isto, vais levar com aquilo. Inocentes nesse campo, as minhas avós que temiam à divindade. No entanto, embora descrendo, nunca deixei de imaginar os possíveis cenários de um fim deste mundo. E se antes me incomodava deveras antecipar um clarão, um boom, uma enxurrada, que tudo levasse, nas tempos que correm, estou-me um pouco nas tintas. Será um modo egoísta de ver as coisas, eu sei. Afinal não têm de pagar todos pela mesma  moeda. Mas admita-se, seria uma forma de, enfim, impôr a palavra "democracia" aos que nos colocaram neste estado de não poder prever o dia de amanhã, leia-se, o ano que aí vem. Seria  o modo radical de colocar em prática o lema - ou há moralidade, ou comem todos.
O clip é de uma canção da Carmen Miranda, mais tarde recuperado pela Adriana Calcanhoto, mas escolhi a Paulinha. Se bem que goste mais do estilo de interpretação da Adriana, no restante, indiscutivelmente a Paula Toller tem outras particularidades...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Seixal, desenhado


prenda de Natal

O Carlos vive na minha rua. Os filhos do Carlos sempre foram doidos pelos habitantes de quatro patas lá da minha casa. Relutante o Carlos e a mulher, nunca quiseram um animal em casa. A justificação é velha - que dá muito trabalho, que é uma prisão. A recente partida da minha Pantufa, e a chegada do Dunga, foram vividas intensamente no seio daquela família. Neste Natal, sem o saberem os meninos vão ser presenteados com aquilo que julgavam ser inatingível, um cão. Diziam-me os putos aqui há dias, pedimos um não-sei-quê de jogos de presente, mas o que a gente queria mesmo era um cão. Dei uma palavrinha ao Carlos. O pai reuniu com a mãe, e ambos chegaram à conclusão de que esta escolha fará dos filhos pessoas bem mais saudáveis e responsáveis, com a convivência do pequeno ser, do que viverem as frustrações que sempre sucedem à euforia de um novo videogame. Tocou-me a notícia, e a nova justificação. Concordo vivamente. Basta-me recordar a carinha de alienados dos putos, pequenos e grandes, de volta das suas tablétes.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

o Rei

O Rei, assim era, e é, conhecido na rede social. Conheço-o desde a adolescência, desconheço-lhe o trajecto de vida. A rede fez, como em tantos outros casos com que nos reencontrássemos, na via virtual. Dado que ambos pertencemos a um grupo fechado dentro da rede, por ali fui sabendo das dificuldades do Rei. Com alguma regularidade surgiam pedidos de solidariedade, comida, dinheiro, uma oportunidade de trabalho, tudo seria bem vindo. Uma vez animou-se, arranjou um estágio, que depressa deixou de o ser. Afundou-se novamente, entre as contas por pagar, e o desânimo do ser humano que no limiar dos cinquenta anos, é apanhado na roda dentada criada pelo "sistema" democrático, como excedente, ou não essencial. Haviam dois dias que na rede ninguém sabia do Rei, nem o telemóvel atendia. Comentou-se na rede que se lhe acabara o dinheiro para a luz, e para o telefone. Mas não. Haviam dois dias completados, quando se descobriu que o Rei jazia frio na sua cama, morto, na espera das ajudas prometidas e de um subsídio atribuído pelo estado, que não chegou a tempo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Prémio Nobel da Paz podre

Quando se viu Obama receber o prémio Nobel da Paz, antes de ter realizado obra, estou certo que a credibilidade sobre a isenção e conceito do reconhecimento de mérito, desta organização, ficou muito abalada, pelo menos no que toca a pessoas que são sensíveis à coerência.
Hoje, a Comissão Europeia, recebe pelas mãos de Durão Barroso, o Prémio. O da Paz. Se em primeira análise a CE, não mais fez do que andar a reboque de interesses suspeitos, numa espécie de vassalagem cúmplice, que nada tem a ver com o esforço pacificador, em análise mais profunda, nunca deveriam designar a pessoa Durão, para receber o desacreditado prémio. Sabemos que Durão se pela por tudo o que lhe promova o ego, mas convenhamos, é preciso muito queijo para fazer esquecer que foi este mesmo senhor, que se colocou em bicos de pés, ávido por aparecer na fotografia, daquela tal cimeira das Lages, que ficou apelidada, por cimeira da guerra. Ora, guerra e paz, que se saiba, só com Tolstoi. Durão Barroso, está e sempre estará, por mais que se lave, com as mãos manchadas. Não creio que isso o incomode. Alguém lhe sussurrará justificações tão hipócritas como esta nomeação.


sábado, 8 de dezembro de 2012

o cão e a portagem

 
Para obter o indígena da foto tive de me deslocar ao Alentejo. Dado que gosto de pontualidade, a solução para chegar a horas era meter-me pelo autoestrada. A exorbitância que paguei de portagem explicou-me o motivo de ter feito cem quilómetros sem quase avistar outros veículos.
 
Como a pontualidade não é para todos, chegado ao ponto de encontro, tive, em meia hora, oportunidade de contar dezenas de camiões de longo porte que circulam pelas estradas nacionais, entupindo trânsito, danificando o piso, poluindo as localidades.
 
Creio que só um português, pode entender tamanha aberração. Acostumados que estamos com os esbanjamentos público-privados. O português sabe que a finalidade da obra acaba no dia da sua inauguração. A serventia extingue-se nas luvas, e benefícios das pequenas minorias que gerem estes bolos.
 
Claro que na viajem de regresso, usei a estrada nacional. Eu e o pulguento.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

estranha forma de ser(mos)

Estive neste último fim de semana numa maratona musical. Para além do habitual local das 6ªs, o sábado e o domingo, passei-os de manhã à noite a animar e apoiar sonoramente o aniversário de um considerável espaço comercial, cujo nome Hiper atrai a clientela. E dado que por ali se vendem entre tudo o resto, os alimentos, tive nesses dois dias mesmo ali na minha frente dignas representantes do banco alimentar, que tentavam não a sua sorte, mas a sorte de outros, na abordagem de quem entrava, com o respectivo pedido junto do saquinho para os eventuais donativos. Em todas aquelas longas horas constatei que muitas daquelas tias de chinelo D&G, falsas loiras oxigenadas, aperaltadas até ao pescoço, se desviavam das voluntárias do saquinho de plástico, algumas até fazendo gestos de desdém. O mesmo comportamento assim observei aos tios, incomodados com as gentes da Jonet. Creio até, que deu um jeitão a esta hipócrita gente, a história dos bifes em directo. Em contrapartida, alheios a mexericos e coisinhas de baixo interesse, focando o essencial, pessoas de aspecto humilde e discreto, entregavam felizes o seu modesto contributo, e os carrinhos lá se foram enchendo.