quinta-feira, 31 de maio de 2012

lazeres

1
Por força da tentativa de contrariar a natureza que me puxa para a engorda com o avançar dos anos, obrigo-me à voltinha de biciclete após o jantar. Constato com surpresa e satisfação, pequenas legiões de pessoal que, organizado, se reúne em alegres caminhadas aqui pelas redondezas. E não apenas em grupo, também vejo aqui e ali gente isolada que faz da sua vida pós-jantar, mais do que ficar estatelado no sofá, em frente ao tv, ou de volta do pc (mea culpa). Bons sinais estes, do apreço pela qualidade de vida, saudável e sem custos.
2
Não pude deixar de constatar, hoje, dia de folga laboral, o elevado número de jovens estacionados nas praias da Arrábida. Decerto que não estão de férias. Mais certo, fazerem parte do número de desempregados que ninguém quer admitir. Maus sinais estes. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

estado de graça

Se isto é verdade, não me espanta. O nosso estado é pródigo e generoso quanto baste para favores deste género. Daí que aos que pagam, lhes vai aumentando a factura, até à quinta geração, caso a raça lusitana tenha a coragem, nuns casos, e a insanidade, noutros, de se reproduzir. Ao que dizem as línguas por aí, naquela do disse aquilo que ouvi dizer não sei onde, também os estabelecimentos comerciais abertos por chineses, indianos e outros promitentes ?investidores? estão isentos da carga fiscal, o que dá para presumir, o não pagamento de outras obrigações associadas. Também se diz que grandes espaços comerciais beneficiam de uma isenção fiscal, levada à década, dado o ?valioso? contributo para a economia nacional e a criação de postos de ?trabalho? E quem paga o que estes não pagam? Já aqui se disse - os que pagam. Também naquela do diz que disse, alguém disse isto, escutado a alguém bem posicionado na máquina das finanças do estado - quem paga, vai sempre pagar mais e mais, e quem não paga, vai passando intocável, porque nós não vamos atrás deles. É mais cómodo e mais rápido cobrar mais aos que pagam. Palavra de honra que às vezes só apetece-me pegar na viola, e só tocar flamengo. E até podia ser no Rock in Rio dado que mesmo passando recibo verde, o mesmo não seria passível da cobrança fiscal.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

desigualdades

Fiz ontem parte, do elenco das pessoas responsáveis por animar uma festa de aniversário de um lar de idosos. Na primeira vez que ali toquei, fui cheio de pânico, dada a sensibilidade que há que ter com tão sénior grupo. Ontem, fui na desportiva, um pouco já integrado na família das gentes da casa, e de alguns residentes, que sendo resistentes, reencontrei na primeira actuação. Aparte todo o calor humano, e o sucesso do evento, não pude deixar de reavivar a memória, nas condições de cinco estrelas que este espaço proporciona aos que por direito próprio, ali poderão viver com todo o conforto e cuidados, até que a morte os encontre. Não pude também deixar de me lembrar de um outro espaço, que visitei, não na condição de músico, o que para o caso pouco interessa. Também este espaço tem o nome de lar de idosos, talvez das poucas coisas em comum com o primeiro. Este não tem capela, biblioteca, ginásio, cabeleireiro, como o outro. Mas tem velhos. Nem tão pouco, espaços envolventes lindamente ajardinados, festas, animações, actividades lúdicas, cinema. Mas tem velhos. O primeiro está certo, e o segundo errado. Vive-se no primeiro, e definha-se no segundo. O fosso entre as duas classes torna-se mais implacável nesta última fase da vida. Arriscaria a dizer que as pessoas com quem convivi ontem pedem para viver, e as que vi dias atrás, se não pedem para morrer, no mínimo esperam a morte. Porque não se lhes vê alegria, nem dignidade. Pelo andar da carruagem deste país, prevejo que aquilo que está certo, cada vez incomode mais aqueles que não estando errados, se sentem filhos de um deus menor. Um sénior vestido a rigor, engomadinho, com roupa de marca e sapato de vela, vai incomodar aquele que não têm sequer dinheiro para a sopa, e muito menos para o remédio. E isso, mais tarde ou mais cedo, vai-se pagar. Porque tudo tem um preço, e se cá se fazem, cá se pagam. Ou lá...

domingo, 27 de maio de 2012

sermos "normais"


Alegrou-me hoje, o meu Seixal. Dado que não sou nascido nem criado na vila à qual algumas bestas iluminadas decidiram chamar de cidade sou assim como que filho adoptivo da terra. Nesta manhã houve lugar ali pela zona ribeirinha a uma porção de eventos que convidam ao desfrute e à participação. Foi bom ver gente, isolada, aos pares, aos grupos, a saborear a essência do domingo. Mais adiante, na Igreja, decorria a missa. Também gostei de ver. Imaginei um país, hoje, domingo, e nos restantes domingos, a celebrar desta forma, os domingos. Não fosse a pobre e podre classe política que temos, que pactua com os interesses dos grandes grupos que sugam, principal e justamente aos domingos, a carteira dos portugueses, teríamos uma população mais feliz e descontraída, porque sairiam às ruas, aos campos, às praias, aos jardins, aos museus, em vez de se andarem a degladear nos hipermercados, em autênticas batalhas de carrinhos, em busca das tais promoções e dos talões. Hoje, no Seixal, estrangeiro que por ali chegasse até podia achar-nos um país normal. De gente normal.

os telhados de vidro

Indignam-se os de Lisboa porque não puderam receber a taça, no pavilhão, tiveram de recebem no balneário, por motivos de segurança. Dizem os do Porto, porque foram provocados. O gesto, é coisa dos meus tempos de Liceu - dar uma palmada no próprio rabo, significa na gíria na peida o que por sua vez significa nós f..... - vos. Reconheça-se que não foi lá muito elegante este acto de auto-acariciamento com efeito inverso. Lisboa podia ter apalpado o seu rabo, em Lisboa. Na casa do inimigo, humilhado, foi incendiar, sim senhor. Pretexto melhor, não podia ter o presidente de Lisboa que, a muito custo lá foi lendo o texto incendiário, que presumo alguém lho escreveu, dado que que é provado e consumado que este presidente de Lisboa, não é dado a discursos de improviso, ao contrário do seu rival do Porto, cujas palavras, não lhe faltam, elas brotam. Disse, perdão, leu o de Lisboa, entre outras palavras, qualquer coisa como apitos, fruta, ladrões, etc. Responde o do Porto, com alusões a pneus, e que com quatro letras se escreve a palavra coca-cola. Enfim, uma charada digna de Hercule Piorot. Ou não. Certo é, que com esta dos pneus e das quatro letrinhas se emudeceu o pessoal de Lisboa. Corrijo, de alguns de Lisboa.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A ver os aviões

A ver navios, era uma expressão muito usada quando em tempos idos e dourados, os lisboetas contemplavam ali pela zona ribeirinha, a chegada e a partida, dos muitos navios. Assim estive eu hoje, de barriga para o ar, não a ver navios, mas sim aos aviões, a vê-los chegar e partir, porque por motivo que desconheço, a habitual estrada virtual aérea se mudou do Cabo Espichel para a Arrábida. Pela forma como evoluem, e pelo ruído dos reactores, sei quais os que sobem, bem como aqueles que descem. Tento vislumbrar-lhe as insígnias, e adivinhar-lhe as rotas. Imagino a rotina de bordo, tanto no vai, como no vem, imagino o tipo de passageiros que carregam, as alegrias, as excitações, as euforias, o tanto-faz, as tristezas, os dilemas, tudo isso cabe dentro de um avião, que para além de carregar as pessoas e as suas malas, também carrega as emoções. Relembro algumas vezes em que por ali passei, lá em cima, a olhar cá para baixo, sempre na tentativa de identificar os locais que me são familiares, e a imaginar que decerto estaria um gajo cá em baixo, deitado na sua toalha, de barriga para o ar, a interromper o seu Saramago, olhar o céu, pensar - mais um, deixa cá ver para onde vai, ou de onde vem, e ao mesmo tempo, assim como numa de nostalgia, pensar como seria bom, estar lá em cima, em vez de cá por baixo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

limpar a alma

Poderia dizer que um bom banho de mar, no final do dia tem o mesmo efeito, mas nem sempre o tempo e o clima o permitem, e o mar, embora perto, não está do outro lado da rua. Outro tónico saboroso, são as minhas cadelas, que indiferentes ao meu estado, sempre me acolhem, felizes, de cauda a abanar, competindo pela minha atenção. Sublime mesmo, e de efeito tão instantâneo quanto duradouro, é o pegar na viola, e soltar uns acordes, uns solos, à toa, ou estudados, e de facto, o pó vai saindo. E em cada nova canção, que se aprende parece existir um renascer, que não se esgota, porque sempre existem canções para trabalhar seja retomando de novo aquela velha canção, seja criando algo original, ou na tentativa de novas aquisições, que no presente momento são os maridos das outras e sorte grande. São estas as canções que me andam a sacudir o pó.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

mundo ao contrário

A presença nos bastidores de um casamento, com direito a observação do entra e sai de comida, e algumas conversas com um chef muito rodado nestas andanças, deu-me o retrato fidedigno do quanto se estraga, se desperdiça, e se esbanja de comida, em ocasiões, como estas. Poderemos invocar que é mesmo assim, que um dia não são dias mas mesmo assim, discordo. Comer em excesso, e estragar, não é sinónimo de felicidade, e muito menos de inteligência.
Se num evento isto é grave, torna-se totalmente insano, o procedimento diário da escolha da comidinha que nos colocam nas prateleiras dos supermercados. Porque tudo tem de ter o mesmo aspecto, o mesmo formato, a mesma cor, o mesmo tamanho. Tudo o  que não obedece a estes critérios, vai para o lixo. A qualidade é deixada para segundo plano, porque todos sabemos, os primeiros a comer, são os olhos, embora ninguém coma com eles. Mais uma vez questiono a sanidade. Não a deles, os que ditaram estas regras, mas a nossa, do povo em geral, que à laia de rebanho compra as coisinhas todas normalizadas, em vez de questionar a qualidade e o sabor, e mesmo os critérios de escolha, com os consequentes desperdícios. Porque por mais bonitas que sejam as maçãs dos hipers, as que compro às velhotas no largo da igreja em Alfarim, disformes, desiguais, algumas até com toques, têm sabor, e cheiro. Seria bom usar de alguma pedagogia, e mudanças radicais, quanto ao que considero serem autenticas distorções - o esbanjamento, e a falta de qualidade daquilo que se come. Mas isso são as minhas utópicas ideias de um mundo ao contrário.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

casório

Amanhã é dia de tocar num casório. De visita à sala onde se realizará o acontecimento, a fim de marcar o meu território, verifico os contrastes, entre aqueles que tal como eu, vão somar mais um serviço e aqueles que pretendem, melhor seria dizer, exigem, um dia único, sem máculas, sem uma falha, sem um milímetro de desvio. Se a mim me é dada a chance de improvisar, de mudar de música, conforme o balanço do navio, a outros, é-lhes impossível o recurso ao plano B, dadas as cada vez maiores e por vezes estranhas modas que se vão implantando como se de uma praxe se tratasse, ou noutros casos, na tentativa de um detelhe inédito. Mas, do alto das dezenas de casamentos que já fiz, musicalmente falando, somando aos que fui como convidado, afirmo que na essência, pouca coisa mudou, e o que mudou, é igual, mas de outra forma. Cada vez acho que o casamento, tal como o celebramos, com aquele corriquerismo de  - convidados do noivo na casa do noivo, convidados da noiva na casa da noiva, igreja, fotos em tudo o que sirva para facturar, carro especial para o par, beberete, copo d'água, quentes, frios, queijos, mariscos, prendinhas do noivos aos convidados, tlim-tlim-tlim nos copos, beija-beija-beija, envelopes com dinheiro, corta a gravata do noivo, leiloa-se a liga da noiva, vómitos nas casas de banho, mulheres a mudar os sapatos, bêbados a chatearem o gajo da música para cantarem, com as mãos todas brezuntadas, bolo da noiva, jogar o ramo para as casadoiras, e devo estar aqui a esquecer-me de um monte de coisas iguais - ..... cada vez está mais fora de moda. Casasse eu outra vez, e seria um luau, isso é que era.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

os ridículos II - os custos

Em 16 de Abril, aqui escrevi sobre os ridículos. Razão tinha eu, e não tenho dúvidas, muitos tugas partilharam esta opinião de que estas manobras não passavam de foclore como se verificou. Gastou-se a módica quantia de seis milhões de euros, para nada. Podemos questionar a sanidade mental de quem ordena esta espécie de acção de perfil muito mais com ar bélico do que de paz. Para resgatar pessoas a um país alheio, não se mandam mil soldados e barcos de guerra. Podemos contudo congratular-nos de terem as nossas forças bélicas regressado sem um tirinho no convés, dado que como se sabe, a Guiné, não deixa de ser um país soberano. Ficaram os militares mais ricos, e Portugal mais pobre. Decerto que os guineenses, os tugas na Guiné, que nunca pediram para regressar, a comunidade em geral, se estarão a rir desta excursão a Cabo Verde.




terça-feira, 15 de maio de 2012

dó-ré-mi

Estranham pessoas de outras paragens desta nossa europa, este cartaz, porque inconcebível lhes parece que o tão auto-apelidado país modernaço, subtraia da educação dos seus infantes uma arte tão rica como a música. Não se pretende que se formem  legiões de músicos. Pretende-se que a música contribua para o enriquecimento, sensibilidade e equilíbrio geral do ser em formação. Na prática, somos um país que não dá muito valor aos que têm valor, sem que este, o valor, seja primeiro reconhecido, para nossa vergonha, por outros povos. Dulce Pontes, Madredeus, Marisa, são disso um bom exemplo. Se avaliado o reconhecimento mundial ao génio Carlos Paredes, comparado com uma quase apatia nacional, é caso de arrepio. Grandes valores por aqui vão fazendo excelentes trabalhos, gente nova que consegue públicos fieis, nichos núcleo-duro, onde garantem razão para continuar, mesmo que as rádios e as tv's lhe façam vista grossa. Somos um país, onde a esmagadora maioria das gentes consome resmas de pimbalhada, kuduros, kisombas, karaokes, e tonis com os seus descendentes. Não devia de ser assim, mas é. Aprendesse a malta alguma coisinha de música nas escolas, e outro galo cantaria.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Big Negócio

Se tenho de ir buscar alguém ao aeroporto, fujo daquelas tarifas escandalosas, dos seus parques de estacionamento. Uso uma prática táctica. Na área de serviço ali bem perto, estaciono no parque da casa que vende hamburguers e espero o telefonema. Foi o que aconteceu hoje. Liga-me a filhota - já aterrámos. Certo, respondo, liga-me outra vez quando tiveres a bagagem de porão, coisa que, não raro,demora mais que meia-hora. Durante a minha permanência naquele local não pude deixar reparar num arrumador de carros, que nem precisa de dar dicas, tão grande é o movimento de sai e entra carro. Mas ele não se perde, ataca com vigorosos gritos acompanhados de gestos aos automobilistas, que, antes ou depois de comerem o hamburguer, lhe depositam uma moeda na mão. Naquele espaço de tempo, fui-lhe contando as gorjetas. Se nos dermos ao trabalho de elaborar um simples cálculo, baseado no horário praticado, o fluxo de carros que entram e saem, e a presunção de que cada moeda tem o valor de um euro, chegamos a um número digno de espanto. E tudo isto livre das garras do fisco, a aos olhos dos funcionários da casa que vende hamburguers. 35 minutos se passaram e contei uma vintena de moedas que passaram de mão. Mais não contei, porque me ligou a filha.

domingo, 13 de maio de 2012

o Mar e os peixes

Os mares, as águas, têm vestes diferentes de momento a momento. São mutantes, constantes, na inconstância das suas correntes, dos ventos, das horas do dia. Têm também estes mares, o cheiro. Este mar que hoje visitei neste ano, o do Atlântico, soube-me melhor que nunca, nos cheiros que me trouxe, como que lavando a alma. Quem sabe, em outras vidas já fui peixe, ou virei a ser, numa próxima. E caso seja, aqui fica a promessa, se encontrar o cherne Barroso, escamo-o todo à dentada, porque se isto hoje anda assim, em grande parte também lho devemos. Resumindo, crise aparte, foram uns banhos do caraças.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sinais

Recebo um documento comercial. Vinha da Holanda, e não de Paço d'Arcos como sempre fora até ali. Por curiosidade ligo ao representante da empresa em causa, e pergunto: Holanda? Então? Ordens lá de cima, pá, responde-me.Os gajos dão como certo que Portugal, mais cedo do que se pensa vai saír do Euro, e eles não querem arriscar. Para bom entendedor...

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ignorantes

O dono do Pingo Doce ignorava a promoção de há oito dias. O Presidente do país, ignora, porque não viu, e por isso não fala. Ignoram os que mandam as incómodas notícias que atestam o galopante número de mortes, por suicídio, motivado pela crise; súbitas, provocadas pela crise, lentas, de desgaste, resultado da crise. Para estes ignorantes, é-lhes tão cómodo não saber, como incómodo é, admitirem que sabem. Viram a cara para o lado, quando alguém lhes atira com os números, porque para estes, na verdade, é o que somos, números. Não somos, vida, passado, presente e planos de futuro. Não somos família, não somos...gente. Somos um número que paga até não mais conseguir. Quando um número deixa de o ser, a operação aritmética não fica por ali. Outros números, os próximos, também correm o risco da subtracção. Não adianta mudar de canal, nem deixar de escutar o rádio. Isso é ignorar. E ignorar, para além do mal que por si só constitui, é ofensa. É cobardia. É crime.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

se tudo fosse assim tão simples...

... ou tão fluído. Quando me propus executar o tema solamente tu do Pablo Alboran, disse-me dezenas de vezes, não ser capaz. O tema é por demais íntimo e pessoal, dotado de um cunho único, que só o autor consegue transmitir. De tanto o gostar, de tanto o escutar, entrou-me cá dentro. Decorei-o. Senti-o. Existe uma grande diferença entre tocar e cantar sentindo, e o exercício do mesmo acto, apenas no plano da execução mecânica, termo que detesto, usado pela SPA. De tanto cantarolar e tocar, apresentei-o em prova real, a medo, não me fossem falhar os floreados da voz, o sotaque, os dedilhados, as transposições. Ganhou o sentir. E quem escuta nota a diferença. Saiu tão bem, que houve direito a bis. Atrevo-me agora em outras águas, na calha estão Zorro do António Zambujo, e anda comigo ver os aviões dos Azeitonas. O prazer de aprender com êxito é algo de muito gratificante. Surpreende até a forma com que as portas da harmonia se vão abrindo, como se abrem os caminhos dos segredos do corpo da mulher que sentimos. Se os outros poréns da Vida, fossem assim tão simples de conquistar...

domingo, 6 de maio de 2012

a Mãe e a prendinha

Não podia hoje, porque sei que lá no íntimo ela esperava um mimo, nem que fosse um telefonema, deixar de ter em atenção ao dia da Mãe. Crises aparte, a questão é esta, o que oferecer a uma pessoa que durante anos devorou milhares de páginas das centenas de livros, que ainda hoje lhe preenchem uma divisão da casa, mas hoje pouco consegue ver. Do mesmo modo, um bom filme estava fora de questão, pelo mesmo motivo. Uma peça e roupa talvez, mas não. Felizmente, tem de sobra as vestrs que a aconchegam. Bujigangas para a casa nem pensar. Amontoam-se por lá. Do que ainda vai restando e que lhe permite uma boa qualidade de vida, para além da total lucidez, é o apetite, e vai daí ficou resolvida a questão. Uma visita, com direito a recordação dos locais que outrora visitou, uma boa porção de mexilhão acabado de apanhar nas límpidas águas da Arrábida, fez o milagre da felicidade deste dia. O meu e o dela. As melhores coisas da vida têm estes preços simbólicos. Está feliz e confortada, com tão pouco, a minha mãe. E eu aqui, também, ainda a recordar, o terno - obrigado, meu querido, já dito na saída.

sábado, 5 de maio de 2012

as Mães



Por acaso calhei a escutar, e ver, grande parte da entrevista que Helena Sacadura Cabral concedeu ao programa Alta Definição e se já era fâ da pessoa, mais fiquei. Entre muitas coisas boas que escutei, umas sérias, outras divertidas, consolidou-se ainda mais a conclusão esmagadoramente óbvia, a de que nenhum filho devia partir antes dos seus pais. Seguramente que grande parte daquela força, se esvaneceu com a recente perda. Porque Mãe, e só a Mãe pode dizer e sentir de igual forma. Aqui deixo o meu respeito e admiração a todas as mães, em particular à duas que decidi partilhar neste cantinho. Sim o puto sou eu.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

pacóvios

1
No seguimento do post anterior, aqui vai mais uma invocação - dizia o meu avô que Portugal era um país lindo, pena era, ser tão mal habitado. Conhecedor dos sete mares, suas gentes e seus costumes, certamente que sabia este avô do que, e de quem falava. A imagem de cima vale mais que mil palavras. Ilustra a nossa pobreza, falta de personalidade e de carácter. Culpados, somos todos nós. Desde aqueles que desde há mais de três décadas impõem a ditadura da distribuição em Portugal, aos pacóvios que nos seus tempos de lazer, entopem os espaços comerciais. Pacóvios esses, muitos deles, hoje a coçar a cabeça, na tentativa de arrumar as compras de ontem, e na interrogação de como vão fazer para tapar o buraco do dinheiro que gastaram, mesmo que pela metade. Muitas papas e bolos, deve esta gente ter comprado.

terça-feira, 1 de maio de 2012

sempre diferentes

Longe vão os tempos em que a minha avó, tendo paredes meias com a habitação, a sua lojinha de roupas, trapos, linhas, agulhas, dedais, e outras coisas mais, atendia uma cliente às escondidas em dia de feriado, não fosse a gnr aparecer. O medo e o respeito misturavam-se, no ilícito acto de desprezar o feriado. Fosse ele religioso, e o sentimento agravava-se ainda mais. Com os tempos da liberdade, veio também a liberdade de flexibilizar horários e dias de funcionamento comercial. Miguel Esteves Cardoso, chegou a defender, nos anos 80, um no stop da actividade. Dizia MEC que ao consumidor lhe deveria assistir o direito de ter à sua disposição tudo, a toda a hora e em todos os dias. Bem, não ficámos tão modernos como o MEC pretendia, mas mesmo assim ficámos muito modernos. A abertura é geral. Resistentes à modernice foram ficando o dia 1º de Maio, e o dia de Natal. Por pouco tempo, contudo. Hoje, dia consagrado ao respeito pelo trabalhador, e apesar dos apelos nas redes sociais ao boicote da compra, os parques de estacionamento encontram-se repletos. A consciência do significado do que representa este dia, é de longe esmagada pelo apelo ao consumo. Assim é este meu país moderno, que mais uma vez contrasta, com a restante Europa, plena de países antigos, que à moda antiga, respeitam os domingos e feriados. Deve ser um tédio viver nessas arcaicas nações. Então o que será que a malta faz nesses dias?