quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

reunido s

Não havendo contratempos, à boleia do aniversário de uma resistente adepta, estaremos quatro destes moçoilos, de aspecto actualizado, à mesa, à conversa, em toques e cantigas, juntos, após trinta anos passados. Esperam-se momentos únicos, porque nada se repete. Para completar o ramalhete, terei a ajuda de outro grande amigo, músico e cantor, que quando canta Zeca Afonso, arrepia. Será uma saborosa fatia do bolo das nossas vidas, para mais tarde recordar, e agora vou-me contradizer - quem sabe, mais tarde repetir.

sinais dos tempos

Na proporção em que aumentam as dificuldades financeiras das pessoas, e o seu descrédito num futuro melhor, ou ao menos, digno, aumentam também as situações em que as mesmas pessoas se tornam impacientes, intolerantes, agressivas, e sempre que, sentem que podem exercer esse direito. É como uma vingança a terceiros - já que não posso lixar que me lixa, então eu vou lixar quem eu possa lixar. Acordo ortográfico à parte, este "lixar" bem podia ser substituído pela famosa palavra começada por "f". Tudo isto somado pode resultar numa bola de neve, de consequências indesejáveis, onde habitualmente sempre paga o justo pelo pecador. Porque embora eu concorde com Miguel Torga que diz que nós mourejamos, comemos e bebemos indignados, ou com o Ricardo Araújo, quando diz que a malta fala, fala, mas não faz nada, eu direi que existe em muito tuga os resquícios de delator, pidesco e cobarde, quando exerce o seu poder de "f" os outros, só porque sim.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

poderes e vontades

Passou-se a semana passada, a prova. O que se passou é que Passos bem se armou mas a malta borrifou-se para a ordem dada. A terça-feira de Carnaval cumpriu-se como um feriado. Pelas gentes da cor, pelas gentes das outras cores, pelos descoloridos, pelas autarquias, mesmo as ultra endividadas. Presidentes de Câmara houveram, diz-se por aí, que até o foram celebrar em paragens cariocas. Anarquia? Um pouco, mas civilizada. De ressaca fica a certeza de que a malta é serena, e obediente, mas quando lhe convém, não abdica das suas vontades. Houvessem outros tipos de boicotes, e a coisa mudava de figura. Mas eles falam, falam, e não os vejo a fazer nada.

ainda os degraus

Ainda não estou refeito da tareia que levei ontem de tanto sobe e desce de degraus de tamanho XXL. Estas visitas aos castelos continuam a levantar-me a questão da proporção. Se sempre fomos baixinhos, qual o motivo de tão despropositado tamanho arquitectónico? Como poderiam os atarracados lusitanos, de metal trajados, subir aqueles lances em passo de corrida quando sob vislumbre de eminente ataque? Ou descer... Já me aflorou a ideia de que esta mania do portugueses, a das grandezas, já vem de longe. Pequeninos mas com obras grandiosas. Houvessem campeonatos de futebol na Idade Média, e teríamos um não sei quantos número de vestígios de estádios medievais, nunca navegados. Também já me tentei relembrar das escadarias que subi e desci por essa Europa fora, quanto ao seu tamanho. Decerto não serão menores, os degraus. Embora saibamos, maiores eram os homens dessas paragens. Uma conclusão inevitável - nunca passámos de uns meia-lecas, com mania das grandezas. Recentemente cognominados de, piegas.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Semelhanças

Andava hoje pela manhã num dos meus passeios longe das confusões, e dois pequenos episódios fizeram-me pensar em semelhanças. Numa parede do castelo ali bem em frente a mim, uma garbosa lagartixa, dissimulada na pedra, passa-me despercebida, graças à sua capacidade de se misturar no ambiente que a envolve, e o resultado é que não fui a tempo de sacar a foto ao pequeno exemplar, provavelmente porque ao ser detectada, decidiu esgueirar-se para lugar de recato. Mais abaixo, entre as folhas das árvores, uma ave que desconheço a raça, exibe as suas cores, sobressaindo naquele mar de verde. E como se o colorido não bastasse, o seu canto atraía todas as atenções na redondeza. Assim somos nós, também, os seres humanos - uns estão na deles, e outros, dão nas vistas. Neste caso, não o suficiente, porque também falhei a foto do pássaro, que foi mais rápido que eu, antes que eu pudesse focá-lo, voou para outro lugar. Certamente para se exibir.

será que?

A parte alta do filme os filhos de Francisco que relata a vida dos irmãos Camargo, tem a ver com a canção celebrizada por Maria Bethânia, é o amor. Essa canção foi composta sob grande stress amoroso, uma zanga das grossas. A vulcânica mulher de palco e não só, Adele, assume que rolling in the deep, foi composta após o seu namorado ter rompido com ela. A velhinha canção Wild World de Cat Stevens, escutei hoje na rádio, nasceu também por esse motivo. E eu questiono-me - será que?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

afinal ele ainda existe





O famigerado lápis azul, tão usado nos alegados tempos do fascismo, continua vivo, embora dissimulado, em outras mentes, estúpidas, ignorantes e fúteis.

Diz-me orgulhosa a minha sobrinha que tirou uma boa nota, lá na escola, na sua execução do tema do Titanic tocado na sua flauta de bisel. Entre outras tagarelices em torno da música, que fomos trocando, pasmei quando ela me diz ter uma colega, cuja única boa classificação que obtém é precisamente na aula de música, estar muito triste porque a mãe, lhe diz para largar a música da mão, porque "não tem futuro". Decerto que esta mãe besta, não terá o entendimento suficiente para assumir que a música, tal como outras, é uma Arte, que por si só justifica dedicação e disfrute, independentemente dos valores materiais . Decerto também que a cuja, projectou à nascença da filha, uma profissão de doutora-qualquer-coisa, e por esse sonho tenta cortar os desvios, quais ervas daninhas. A este tipo de gente, pudesse eu, laqueava-lhe as trompas auditivas, a qualquer nota musical. Viveria assim num mundo de palavras e ruídos. O rádio do carro silenciava-se, os filmes não teriam banda sonora, e nos aniversários o parabéns a você seria solenemente declamado. Porque as pérolas, sabemos bem, não devem ser dadas aos porcos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Essênciais



Cada vez sinto mais necessidade de fazer o dia valer a pena. Excluindo deste texto o foro das emoções, que por motivos óbvios aqui me escuso de divulgar, são outros prazeres que em conjunto e harmonia, com os mencionados, fazem parte dos meus sorrisos, alegrias, e bem estar. Por isso, cada vez me puxo mais para o uso e abuso destes prazeres, até que o corpo permita, já que a mente não se cansa, da descoberta de novos caminhos, ou o retorno a outros. Seja a butes ou de bicla. Do que os meus olhos vêm, ainda posso trazer uma amostra para casa, nas fotos que vou fazendo, do que os meus sentidos se renovam, nesses momentos não dá para descrever. Completa-se o ramalhete com a incessante busca nas músicas, e direi que só eu sei porque não me revejo na música do Sérgio - o primeiro dia.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

local Zen

Descobri-o hoje, aqui bem perto de casa, a meia dúzia de quilometros, um pedaço de paraíso na terra, onde, se não fossem os ocasionais ruídos motorizados, apenas se teria como banda sonora, o som produzido pela passarada residente. É um habitat natural de aves aquáticas, onde se pode ficar de atalaia na contemplação em silêncio. É bem certo que por ali andarei, muitas vezes. Porque são as sensações que estes locais provocam que ajudam a manter a paz de espírito que tanto se precisa.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

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Como apelidar quem, - tendo sérias responsabilidades neste país, andando num constante vai-vem de visitas, inaugurações e eventos, se desunha a debitar discurso nas redes sociais, e se anda sempre a pronunciar, muitas vezes apenas para dizer que não se pronuncia - de repente cancela uma visita a um estabelecimento de ensino, onde por acaso, e apenas por mero acaso, um outro ex-responsável deste país foi vaiado? E nem uma palavrinha nos microfones, ou um mero texto na net. Digo eu, que na minha terra esta atitude, é vista como meter o rabinho ente as pernas ou fugir com o rabo á seringa. Covardia, talvez seja a palavra, antes e depois do acordo ortográfico.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

o Dia do Valentim...

... que é como quem diz, a noite.
A sala encontra-se bafejada pela chama na lareira, que, só de a olhar, já nos aquece a alma. A luz, ténue confere aquele não sei quê de místico, onde quase tudo se vê, mas não claramente, deixando espaço aos tactos, aos brilhozinhos nos olhos. Pelas mesas, meticulosamente aperaltadas, espalham-se as pétalas secas, as toalhas negras, em contraste com os guardanapos vermelhos, sugerindo a volúpia que se adivinha para depois. Pingando aqui e ali, estratégicos balões, também eles vermelhos, em forma de coração. A culminar, uma selecção no stop de suaves temas, em fusão, numa espécie de swing musical, onde privam a Diana Krall, o Bublé, a Nora Jones, o Jamie, a Melua. Ali me encontro, no meio daquele cenário todo, a degustar a iguaria que se diz poder apimentar os fogos dos casalinhos, na função que lhes é sugerida para a data, rodeado das dezenas de lugares vazios, no mar das pétalas, nas mesas com os avisos - reservado. Na minha frente o lugar vazio. Ao lado também. De facto, estou completamente sozinho na sala decorada a vermelho e preto. Não tenhas pressa, saboreia, mastiga devagar - penso entre um gole de tinto e uma garfada - que os pombinhos ainda demoram a chegar. Mas enganei-me. Chegaram cedo, e saíram tarde. Quase todos ao mesmo tempo. Em uníssono. Como se tivessem vindo todos juntos numa excursão. Apressei-me a dar-lhes o que tinha, as músicas a condizer, enquanto divertido, os observava a cantarolar as palavras românticas dos temas que escolhi para o dia do Valentim. Ficaram todos consoladinhos. Os casalinhos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Podem repetir?

Decerto não se pensara haver tal adesão ao anúncio difundido. Das duas vezes que por ali andei, as pessoas eram às centenas, aparentemente indiferentes às horas de espera e ao rigor do frio que nos gela. Desconheço se o toca a reunir, se ficou a dever ao apelo, à fama e beleza da embarcação, ou a uma espécie de fica bem dizer que fui. Seja como for, esta acção bem poderia ser a primeira de todas as iniciativas no sentido de mostrar aos seus, aquilo que é nosso, já que mesmo que não seja bem assim, somos nós que pagamos tudo. Esta maravilha que é o Sagres devia estar-nos acessível pelo menos duas vezes ao ano, bem como outras relíquias da navegação marítima ou aérea, incluindo os inúteis submarinos do Portas.



A reboque poderiam anunciar que em Cacilhas existe uma outra embarcação maravilhosa, que se pode visitar à borla, aos domingos, bem como os nossos belos museus, vazios. Seria bem melhor ver por ali as famílias em volta dominical, enriquecedora e troikiana, do que a deprimente observação desta espécie, na busca incessante, do cartão, do talão, da promoção, das porcarias que por ali se mastigam, resvalando para uma dependência demente e vazia.


...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Bobi

É um imponente cão, de marca, segundo me disseram, ainda não adulto, pois o xixi ainda lhe sai sem o habitual alçar da perna. Andava sem norte, perdido no lodo traiçoeiro da maré vazia. De uma margem observei-lhe os movimentos cada vez mais pesados, e a total ausência da noção de como sair daquele chão que lhe sugava as pernas. Voei, na minha bicla o quanto pude, à outra margem, até me encontrar a uns cinquenta metros do bicho. Da muralha alguém o chamava, mas o Bobi já não andava. Desistira. mantinha-se colado no lodo, numa poça de água que suponho lhe gelava os membros. Aperentemente apático, e alheio aos gritos, assobios, e palmas, que vinham da muralha, o Bobi esperava. Quem sabe o dono. Até que decidi procurar na muralha, uma escadaria onde me pudesse colocar ao mesmo nível do Bobi, e quem sabe assim chamar-lhe a atenção. Desci. Estava agora no seu campo visual. Chamei, bati palmas e do Bobi, nada mais que um olhar desinteressado. Confesso que ainda pensei em me aventurar ao lodo, mas decerto, o instinto do Bobi leu os meus pensamentos. A custo o Bobi, levanta-se, olha para mim, e dá umas passadas no lodo, até cair em seguida. Desesperei. Agora, lá de cima da muralha já eram uns quantos aos gritos. Avisei cá de baixo - deixem-me chamá-lo, pois assim ele fica confuso. E assim foi. Tantas palmas bati, e tantos Bobis ele ouviu que se ergueu de novo e lentamente foi progredindo, até chegar a mim, e de lambidela em lambidela, com o rabo a abanar me agradeceu. E eu também lhe agradeço. Fez o meu dia mais azul. O nome Bobi? Não sei se é, provávelmente até pertenderá áquele conjunto de gente estúpida que chamam os seus cães, pelo nome de pessoas.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

papas e bolos

Fico sempre danado quando os meios publicitários que me dizem que com o desconto fulano, ou com a promoção beltrano, eu poupo. Mas como poupo, se na prática gasto? Considero válido que gastarei menos, mas que gasto, lá isso gasto. O meu bolso fica mais vazio. Poupar, diziam os meus avós, era pôr de lado. Amealhar. E com isso, grão a grão construir aquilo que hoje muito se fala, a almofada. Com o poupar que nos impingem levam-nos a almofada, e se não cuidarmos a tempo, até nos levam a cama.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

o Senhor Eduardo


Não sei se parte da culpa foi dele, que muito me ensinou. Ou da minha mãe, que acedeu ao pedido, ou mesmo à minha determinação em ter uma bicicleta de corrida. Nesses tempos a bicicleta era sobretudo, a pasteleira, pesada, lenta, muito usada pelas gentes mais velhas, nas suas idas e vindas, fosse do e para o trabalho, ou qualquer outro afazer. O uso da bicicleta nada tinha de lúdico, era a alternativa a andar a pé, ou de carroça, ou apanhar a carreira, já que a motorizada era coisa de gente mais endinheirada. Quando surgem as bicicletas de corrida, não havia jovem que não sonhasse com uma, e alguns afortunados aqui da terra, conseguiram-na. Eu fui um deles. As voltas eram mais que muitas, e de volta em volta, por vezes com uma ou outra queda, cedo chegaram as avarias, pelo que toda a comunidade ciclista rumava à pequena oficina do Senhor Eduardo, homem que conhecia o biciclo como as suas próprias mãos. Ali passei com ele muitas horas. Umas por necessidade directa, outras só a ver como se fazia, e até algumas, a aprender, assim como que se o Senhor Eduardo, fosse o Alfredo do Cinema Paraiso. Hoje, mantenho a minha paixão pela modalidade, e não dispenso uns bons cinquenta quilómetros semanais, não em bicicleta de corrida, mas naquela que viria mais tarde a aparecer com o nome de montanha. O equilíbrio sobre aquelas duas rodas, equilibra-me a alma. E se quase faço toda a manutenção da minha pasteleira de montanha, devo-o ao Senhor Eduardo que pacientemente me corrigia as afinações às bicicletas de então.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Palhaçadas

Vir dizer aos portugueses que há feriados em excesso, que há que trabalhar mais, que na Europa que funciona, não existe este regabofe de folgas, pontes e afins... tudo bem. Concordo. Sempre achei que em Portugal se trabalha e se descansa ao ritmo e padrões do hemisfério sul.

Vir dizer aos portugueses que para o ano, não haverão estes e aqueles feriados, bem como não haverá tolerância de ponto no Carnaval... tudo bem. Se é para o bem da nação... que seja.

Vir dizer aos portugueses, a duas semanas do Carnaval, que não senhor, tolerância zero, revela das duas uma, ignorância ou sacanice.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

partilhas

Até tenho uma boa dezena de auscultadores, e deles faço bastante uso, seja em lazer ou trabalho. A sós. No entanto, entendo a música como algo que se partilha, desde os que a executam, em grupo, partilhando-a portanto, aos que a escutam, em comunhão, ela também partilha. Há dias, numa entrevista alguém falava em concertos em que cada espectador no público teria o seu auscultador e assim poderia configurar e escolher as várias fontes sonoras disponíveis. Uma aberração, digo eu. É tornal algo real e natural, numa coisa virtual. O chamado audio pessoal está de bom tamanho se o usamos a solo. É como se fosse, como saborosamente li aqui nas esfera blogista, uma espécie de dancing witn myself. Contudo se acompanhados e em boa companhia, nada melhor do que partilhar a música, bem como todos os outros poréns, partindo do princípio que a partilha é naturalmente total. Porque como diz o mestre Rui Veloso - não se ama alguém que não ouve a mesma canção. Razão porque quando vejo duas pessoas aparentemente juntas, cada uma com o seu som nos ouvidos, ou a tiritar individualmente nos respectivos telemoveis, me vem o tema à cabeça. Porque esse par, não dançará decerto a mesma valsa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

custo zero

Passos Coelho diz que custe o que custar os objectivos da troika são para cumprir. Percebo-o. Afinal seria como eu dar uma grande festança no meu quintal, e no fim enviar a conta ao meu vizinho, e pedir-lhe para limpar os restos. A lata, impune e descarada com que esta gente da política, se vem associar ao sacrifício dos outros, chega a ser obscena e nojenta. Pior que tudo, é que nada disto será solução. Quem se baseia em dados não demagógicos já nos traçou o caminho - o grego. Como feitos, estes que lá estão, não esquecendo os que lá estiveram antes, poderão dar como adquiridos - os recentes milhares de suicídios, o aumento galopante do desemprego, o recorde de casas entregues aos bancos, as falências, e os assaltos. Terão como certo também, estes e os outros, a responsabilidade na tentativa de extinção dos portugueses, dado que se uns se matam, outros, morrem de fome, tristeza ou solidão, bem como outros não chegarão a nascer, porque muitos jovens deste país, não são malucos ao ponto de trazerem crianças ao mundo para (sobre) viverem numa lixeira. Mais que verdadeiros homens do lixo, estes nossos carrascos, são excelentes cangalheiros.