sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

o 5º elemento


Durante os 30 anos que se passaram após o dissolução da banda, pouco se soube dele. O TóPê, membro fundador dos Iodo, sempre foi um mistério e um guru para mim. Dos três autores de canções, ele era sem dúvida o grande criador, genuíno, de palavras, acordes e harmonias. Fazia-o com uma naturalidade e facilidade desconcertantes. Dele guardei, do período que com ele passei, saborosos momentos musicais, de tertúlia, de viagens e hoteis, e de estúdio, que nunca esqueci. Guardei também a sua preciosa sebenta, plena de escritos, uns vagos, outros longos, apontamentos dispersos passados, da sua mente mirabolante para o papel. Episódios únicos, existiram muitos, tais como tocar de ceroulas, ou tocar todo o concerto voltado de costas para o público. Outros, complicados - fugir a correr do palco, no Rossio, e só ser agarrado por dois colaboradores nos Restauradores. Ou começar a bater com a guitarra baixo no palco provocando ensurdecedores decibéis. Quando inspirado, o TóPê deslumbrava tudo e todos com a sua arte nata de tocar. Totalmente imprevisível, o TóPê teve de ser afastado, e com ele se foi a veia criativa e mote inspirador de um grupo de jovens que um dia concretizou o sonho de tocar no dramático de Cascais, na primeira parte do Iggy Pop, concerto esse, em que o único músico em palco que se manteve calmo, e não meteu água, foi... o TóPê.
Recentemente, um amigo comum encontrou-o, de boa saúde, e receptivo a um jantarinho que creio vai ser histórico, com muitas recordações, palavras e cantigas à mistura. Estou ansioso que aconteça.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012

Faz cerca de um ano que por aqui escrevi que 2010, não me deixava muitas saudades. Hoje, o mote é o mesmo. Para pior. Desde o início da semana que vou escutando aqui e ali, os votos - um bom ano!!! Atrevo-me a dizer sem pessimismo que não vai ser um bom ano. Quanto muito eu desejo à laia de saudação, o melhor ano possível, e com saúde, dado que vai ser proibitivo ficar doente por estas paragens. Não creio que as mentalidades mudem assim do pé para a mão, e sabe-se que sem se mudar de vida, não haverá a tal luz lá no fundo do túnel. O pior de tudo isto, é que a malta não faz a mínima ideia do que por aí vem. Muito menos a cambada de miúdos que supostamente nos devia governar. Vêm aí os tempos de nostalgia, os tempos retro, os tempos anos 50, e por isso faz muito sentido, como diz a minha Amiga Antígona, voltarmos aos novelos de lã, e ao faça você mesmo. Por enquanto, qual canto do cisne, os tugas continuam a bater os seus recordes - os que gastam mais dinheiro em telemóveis, os que fazem mais pequenos almoços fora de casa, e outros fenómenos de um povo que não se governa nem se deixa governar. Vamos lá então treinar para 2012, e comer uma sopinha.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

fragilidades de Natal

Já é quase como o bolo rei, e as rabanadas. No Natal, se me descuido e lá vem uma constipação mais forte que me deixa em apuros com os compromissos musicais, dado que a danada me afecta principalmente a garganta. Desta vez até sei quando e onde a apanhei - a ver o mar, sem a devida protecção térmica, ao passar do ambiente quentinho do carro, para o areal onde corria aquele ventinho gelado na manhã natalícia. São nossos descuidos, e a nossa fragilidade. Que o diga a D.Palmira, que hoje ao ver-me espirrar, exclamou bem alto - GRIPE - e logo se apressou a fugir de mim, explicando-me a distância segura - desculpa lá, mas não posso apanhar nenhuma gripe. depois da operação que fiz, o médico disse-me que se tossir, posso-me ficar. E eu a pensar que era frágil...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

prenda de Natal

O dilema assolou-me. Que presente de Natal, dar à senhora minha Mãe? Detesto dar ou receber prendas sem nexo, só por praxe. Dos seus gostos, sou-lhes sabedor, e daí, saber-lhe as limitações. Um livro, seria um tiro certeiro, para quem passou uma vida a ler, mas a idade traiu-a. A visão foi-se-lhe sumindo. Música, seria a segunda opção, porém várias vezes fui informado - tenho música para ouvir até ao resto dos meus dias. O mesmo recado quanto a roupa, e por mais que se diga que mais um trapito faz sempre jeito, lá caíria eu na corriqueirice. A prenda quer-se com uma ignição capaz de provocar alegria, sorriso, surpresa. E por estas vielas, juntas com a exclusão das partes, concluí que à senhora minha Mãe, a natureza ainda não lhe retirou o apetite, e o prazer do disfrute da boa comida, pelo que comprei o maior camarão tigre que encontrei, e confeccionei-o no momento, para prazer e felicidade da própria, que mesmo com a visão debilitada, consegui identificar a iguaria, tão grande lhe era o tamanho. cujo Disse-me no final do repasto, que estava delicioso, e que nunca recebera uma prenda tão original e saborosa. Anuiram os restantes presentes, que pelo bem que cheirava, devia estar, sim senhor. Questionado sobre os meus dotes culinários, a resposta foi a que ouvi em tempos - quando se faz com amor, tudo nos sai bem.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

filminho de Natal

Porque sou fâ do realizador, e do actor principal. Porque a música é mágicamente arrepiante. Porque nele, entra o Natal. Porque revela com simplicidade o que de melhor e pior existe na espécie humana.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Espírito de Natal


Encontro-me em modo de navegação do espírito natalício. Não obstante as agressões externas, nos próximos dias irei dedicar-me tanto quanto possa, à verdadeira qualidade de vida, simples, bela, e despojada das ilusões materiais, as quais, não as podendo dispensar de todo, usarei na medida e forma certa. No caso da música, exceptuando os compromissos fora de portas, aos meus ouvidos e sentidos apenas servirei os clássicos. O espírito assim mo dita.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Segurança

Assaltaram há pouco, a dependência bancária aqui em frente. Felizmente não houve violência. Levaram só a massa, contudo, decerto as marcas ficarão naqueles que viveram o momento. Ontem, ao ver o nosso pessoal governativo, a dizer aos portugueses que podiam ficar descançados quanto à segurança, não deixei de esboçar um sorriso, embora que amarelo. Triste portanto. Porque é grave este alastrar de criminalidade, bem como grave é a inconsciência daqueles que vêm para a televisão dizer paternalmente para ficarmos descasados. Corrija-se. Escusamos de ficar descansados.

Festas

Num vai e vem anda o meu povo. De cá para lá, numa azáfama capaz de enganar os homens da troika. As compras para o Natal são mais que muitas. Ele é brinquedos, bebidas, bacalhaus e bolos-rei. Tanto embrulhinho e tanto lacinho. Enchem-se os parques de estacionamento dos grandes espaços, de carros que despejam gente sem paciência, implicante, e irritadiça, e logo nesta altura que se quereria de paz, e mais do que de paz, de ganhar fôlego para enfrentar um 2012, que se afigura peso pesado. É o stress do meu povo. E como se não lhe bastasse o stress natalício, logo a seguir há que pensar onde passar a noite de fim de ano, uma noite especial para uns, uma noite igual às outras, digo eu.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

karaoke vs política

Porque a quem me convidou, não podia dizer recusar, lá me arrastei em noite de domingo a um jantar de grupo, daqueles onde habitualmente estou presente como animador. Não foi desagradável de todo, não obstante, as maratonas de cantoria, me recomendassem o aconchego do sofá. Passados que foram os rituais dos aperitivos, da comida, e dos discursos, houve lugar a troca de prendas, agora muito em voga, em que se compra uma porcaria qualquer a poucos euros, e se recebe outra porcaria qualquer de poucos euros. Teve este convívio, pelo meio, a xaropada inventada pelos asiáticos, chamada karaoke. E do karaoke não sei o que é pior, se os apresentadores, que cantam alto que se farta, ou aqueles que se julgando cantores, não acertam nem no tom nem no compasso. Tenho apanhado muitas vezes nas minhas peripécias musicais, este tipo de pessoal - que cantam mal como tudo, mas estão totalmente convencidos que são os melhores cantores das redondezas. Exactamente como os nossos políticos. Os primeiros lixam-nos os ouvidos, os segundos, lixam-nos a vida. Uns como outros, deviam ser corridos dos palcos. Pelos motivos invocados.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sodade



Lata

Se não os conhecesse (forçasamente) de há anos a esta data, eu diria que o casal presidencial que ontem divulgou a sua mensagem de Natal ao seu povinho, tinha acabado de aterrar aqui, de improviso, vindos numa nave de longínquas galáxias. Ou então, eles não entendem o que se está a passar, o que é grave. Ou então sou eu que não entendo, o que, sendo grave, é-o menos. Ou talvez lhes tenham pedido para dizerem aquilo, assim como para parecer bem, porque afinal presidente tem de botar palavra. Ou, e nem quero pensar nesta hipótese, estão a mangar com a malta. Algumas pérolas do discurso(sic): festa de família, parar um pouco - certo Senhor Presidente, mas apenas para algumas, as outras andam sem norte, desmembradas, desalentadas, sem futuro, nem dinheiro, nem vontade. Parar um pouco? Parados já eles estão... Solidariedade, partilha - sempre se disse que o exemplo vem de cima. Que tal reduzir os gastos da máquina presidencial, que segundo se diz por aí, em matéria de despesa só encontra rival lá para a realeza britânica. Da partilha nem vê-la. Todo o Estado, nos sorve em impostos, a partilha que não pedimos. Assim foi e assim será. Considero um insulto vir alguém da política, falar-me em partilha e solidariedade. A minha solidariedade e partilha, demonstro-as todos os dias, semanas e meses. Desemprego, coragem - é fácil de falar, fica bonito, caridoso até, mas gestos que denunciem uma intenção de mudar a agulha, nem um. Que coragem querem incutir nos desempregados de longa duração, aos quais se juntam todos os dias mais desempregados, perante as previsões cada vez mais negras? Bem, talvez seja coragem para cometer o suicídio... futuro melhor - não duvido nada. O deles. É ao qual me refiro. No fim de ter escutado aquela mensagem, só me saiu isto - ganda lata.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ciclos



Partiu deste mundo, ontem, a minha última tia-avó. A última visita que lhe fiz, a pedido da minha mãe, considerei-a maravilhosa. Uma lição de vida de uma pessoa que sempre foi simples, dedicada aos seus, vivendo apenas com os mínimos recursos, como lhe ensinara afinal, disse-o ela, a minha avó. Neto babado que sempre fui, naquela derradeira visita ao Espinheiro, lá pelos lados de Alcanena, tão bem que soube escutar o rol de histórias de quem passou tanta privação numa terra que muitos anos atrás poucos ou nenhuns horizontes podia oferecer aos seus. Quase por imposição da senhora minha avó, lá rumou o casalinho a Lisboa, onde progrediram a pulso nos rumos das suas vidas. Sofrida, esta minha tia, entre sorrisos das lembranças das peripécias vividas, e o recordar da perda recente dos seus dois filhos, fez-me ver de que fibra são feitas as pessoas de coragem. Ontem, com a sua partida fechou-se um ciclo. Outros virão, outros fecharão. De muitas imagens dela, recordo-a equilibrando grandes cestos à cabeça, sem perder a postura elegante no andar. Ensinamento da minha avó, eximía nesta arte de equilibrar volumes à cabeça por aquela Lisboa fora. Hoje, imagino-as juntas, a reverem velhas histórias, lá, onde dizem que se vive para além desta vida.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quero todas










Invasão silenciosa



Em tempos em que os apelos aqui pelo burgo visam o producto nacional, ao mesmo tempo em que se vendem ao desbarato os nossos anéis, calhou-me almoçar com ilustre personagem da nossa terra, acostumado a viajar por este mundo, particularmente ao país do arroz chau-chau. Identifica-se este meu amigo com os usos e costumes daquelas gentes, com os seus métodos de produção, de negociar, de estar e de viver. Conhece-os bem, e entende-lhes a forma de actuar. E é sem qualquer dúvida que me afirma estarmos nós, portugueses, bem como os restantes europeus, à mercê dos suspiros de uma civilização que pouco ou nada tem a ver com a nossa. Para agravar a situação, estes, não nutrem por nós, europeus, grande estima ou admiração. Entendem-nos como parasitas, preguiçosos e arrogantes. Destas paragens gostam dos monumentos e dos carros marca de topo. No restante a táctica é simples: comprarem-nos. Não é nada que já não se soubesse, mas escutado de quem há vinte e tal anos, visita aquelas paragens uma boa meia dúzia de vezes ao ano, faz muita diferença. Toda. Porque este, ao contrário de outros, sabe do que fala.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Nobre Povo, em dois actos

O destino seria o Chiado, mas os domingos servem para isto mesmo, fazer o que nos dá na gana, e mudar o bico da agulha a nosso belprazer. E foi assim que me decidi parar ali pelos lados de Alfama em busca do Panteão Nacional. Nunca o visitara. Julgava-o menor. É imponente, tem harmonia, e guarda quem, se hoje por aqui viesse, decerto duas vezes morreria, perante a desgraça e desnorte deste país, ou do que dele resta. Subir ao topo, degrau a degrau, é coisa parecida com uns oito andares bem medidos, sacrifício merecido pela visão de causar vertigens que proporciona, de toda aquela nave, com a voz da Dona Amália como pano de fundo, a ecoar no espaço. Arrepiante.


Também sem programação prévia de visita, o Museu do Fado convida-me a entrar, e que bom que é ao domingo, pois por enquanto, é de borla. Do museu, esperava mais. Falta-lhe a alma do Fado, apesar de todos os conteúdos existentes. Falta-lhe a recriação dos ambientes, das casas onde nasceu o Fado, falta-lhe transmitir a magia, um pouco como se recriam os ambientes nas peças de teatro. Desiludiu-me a pouca presença do grande Carlos Paredes, naquele espaço. Se alguém me disser como já escutei que o mestre não é bem do fado, a esses eu responderei que todo o Fado muito lhe deve. E como remate final, poderei enunciar uma boa mão cheia de guitarras expostas, que apesar de soberbas, nada têm a ver com o Fado. Logo, questiono-me, porque carga d'água estão ali expostas aquelas guitarras, e porque escondem o Carlos Paredes, como sendo um mal-amado. Nobre povo, sim. Uns mais que outros.








sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ironias


Sempre foram aquele casal típico em que o homem trabalha e a mulher, dona de casa. O fruto da união, uma menina. A mulher sempre foi a cabeça de casal, nas decisões e nas vontades. Ele sempre foi aquela pessoa chamada de paz d'alma, aquele que foi sempre dizendo amen às decisões de mãe e filha, que entretanto crescera, e adquiriu os tiques maternos. Com a reforma, ele começa a ficar mais por ali, por casa, ou entre a casa e os biscates. A elas, mãe e filha, a presença dele não lhes agradava. Desdenhavam-no. Dele, bom mesmo só o dinheirito amealhado durante os anos de trabalho, mais aquele que recebera por reforma antecipada, que junto com o restante, que copiosamente lhe caía mensalmente na conta bancária. Aos primeiros sinais de debilidade física dele, logo ela se antecipou na decisão, afinal não mais que o desejo, que muitas vezes lhe escutei - que ele morreria em breve, e finalmente elas, gosariam belos passeios, jantares em lugares chiques, e férias de sonho, pois com ele por cá, não dava para ir. Ele não tinha classe. Aqueles sítios não eram para ele. Diziam elas como que em coro. Havia pois que encomendar o caixão. De tantas encomendas à morte, a dita, lhes bateu à porta. Não a ele, mas a ela. Os anos passaram, e hoje com antes, o vejo vejo passar, na lufa dos seus biscates, velho e trémolo, como que teimando em resistir à profecia da defunta. Diz a filha, solteirona, a partilhar casa com ele, que não vê o seu futuro sem o pai. Coisas da vida e do seu inverso. Ainda hoje o vi, e veio-me à memória aquele ditado das linhas tortas.

frio de rachar...

... ou frio é bom para enrijar os ossos. Assim fala o vulgo popular. Rachar não rachei. Se os ossos me enrijaram, também desconheço. Sei que ontem, montado na minha bicicleta, tudo o que era ponta ao léu, gelou. No caso, o nariz.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Photo-Shop


Existem actualmente, na música, tal como nas fotografias, mil e uma maneiras de modificar a forma original, o que possibilita que gente fracota na arte de cantar, ou até com mais arte para desafinar, apareça em público com aquele vozeirão do disco. Bem como existem formas de alterar para melhor, a qualidade sonora e de execução dos instrumentos. Aqui, a palavra aldrabar também pode ser usada. Na fotografia que fiz hoje de manhã a estas duas embarcações, no original, a neblina quase impossibilita o vislumbre dos moinhos de maré lá ao fundo. Também cortei um pouco do retrato, bem como lhe apliquei outra tonalidade e um ligeiro aro, sugerindo a visão de monóculo. Assim são na vida, algumas pessoas, que de tanto usarem do recurso alterar para não dizer aldrabar a dado momento, têm dificuldade em se reencontar com o padrão original. Porque a cópia de segurança se perdeu na balburdia dos save as. Eu e a minha mania de gostar dos originais, dos cheiros naturais, and so on.

......

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

milagres

Quando algo acontece de muito improvável, o vulgo é chamar-lhe milagre. O milagre tem de ter saldo positivo, mesmo que nada tenha a ver com o cariz religioso. Alguém é totalista solitário no euromilhões, e logo se diz - foi milagre. O milagre das Caxinas, pode e deve ser considerado um Milagre, mesmo por aqueles que o não atribuam a causa divina, dados todos os indicadores que contrariavam um vislumbre de esperança. Pede agora o bom senso, que com a urgência mais que justificada, porque de vidas humanas se trata, que cada embarcação, onde partem estes corajosos homens do mar, seja dotada de um localizador, e já agora, também as balsas. A diferença, justifica-o - a prevenção das vidas.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

In


O portuga é mesmo assim, não há nada a fazer. O Fado agora está in. O Fado agora é que está a dar. Desde já aqui assumo que, nada contra. Antes pelo contrário, apoio tudo o que contribua para dignificar aquela que já foi a canção maldita, a canção dos vadios, das rameiras, a canção do regime fascista, porque afinal, o fado é a definição da pura e simples do ser português. É fácil hoje gostar do Fado, ou fazer-se passar a ideia que se gosta do Fado, tal como do CR7, do Mourinho, ou da Mariza, menina que, não esqueçamos só teve créditos no seu país, o do Fado, depois do reconhecimento fora de portas. Diziam por aqui que a pretensa fadista, não tinha perfil de, fadista. Uma vergonha. Quem se dá ao trabalho de vasculhar estes meus escritos neste cantinho, constatará a minha devoção ao Fado, que nada tem a ver com a moda. Escuto, toco, canto e sinto o Fado, Sinto-o desde que o escutava das bocas das minhas avós que os cantarolavam, nos seus afazeres caseiros, ou na telefonias em onda média. Da sua história, do Fado, me inteirei, lendo as narrativas das origens, das danças, dos cantos, das gentes, e dos instrumentos do Fado. Gostar-se do Fado, é muito mais do que uma moda a reboque do mediatismo. Como em outros amores, há que amar em silêncio, e em continuidade. A coisa tem de vir de dentro. Há que viver os pequenos e os grandes momentos com a mesma intensidade, e sentir os seus detalhes. Aí sim, podemos sentir, gostar e respeitar o Fado, com a responsabilidade que nos cabe, porque o Fado embora sendo uma recente aquisição de património mundial, continua a ser acima de tudo, nosso, e só nós o sabemos sentir, tal como um brasileiro sente a sua bossa nova. Contudo e acidentalmente encontro-me in. Eu que, até nem sou de modas.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

desafio

O desafio apareceu-me via portador ao qual eu não podia dizer, não. Por vezes, na nossa rota, temos de dizer sim, apenas porque quem nos pede, merece. E esse merecer, justifica, se não tudo, quase tudo. Tive de regressar aos confins do universo pimba, recorrer aos meus tesourinhos deprimentes, fazer de animador, locutor, sonoplasta do Ruca, e da Hello-Kitty, e até de um rancho foclorico. Aconteceu ontem e foi um sucesso. A maratona começou cedo, pela manhã e só terminou à hora de jantar. Deixei para trás muitas horas de ensaio, o corpinho cansado, mas ganhei, mais amizades e a gratidão de por quem lá passou. Na hora do descanso do guerreiro, a ver o meu SCP, a jogar sem jaula, realizei que para além de fazer um favor ao meu amigo, me realizei um pouco mais, e nem doeu nada cantar aquelas canções.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Catedrático

Este post para além de um post é quase como um anúncio, ou uma oferta de serviços a quem possa interessar, se bem que, receio haver por aí muita gente com o mesmo canudo:

Sou altamente especializado em levar secas pendurado ao telefone na busca, tantas vezes inglória de resolver os problemas e falhas de fornecimento de sinal de internet e telefone, que supostamente, me deveriam servir durante as vinte e quatro horas de cada dia, dado que sou cobrado, sem interrupção. Sei da trás para a frente, em que teclas carregar, quando em linha com o operador, como também sei os dados a transmitir, na ponta da língua. A música de espera do António Pinho Vargas não tem uma nota musical, uma colcheia, ou semi-fusa, que não se tenha entranhado no meu ouvido, cuja orelha envolvente me parece estar até um pouco calejada, de tanta hora de espera. E quando enfim, do lado lá me dizem, senhorjorgetrindademuitoobrigadopelotempoemqueteveàespera, e eu penso que é chegada a hora da vitória, lá me pedem mais uns instantes em linha, instantes esses, looooongos. Encontro-me assim, apto para, tomar o lugar de alguém que, estando à beira de um ataque de nervos, não consiga executar o tantas vezes exercício ao nada, de carregar na tecla seleccionada, de ouvir a mesma lenga-lenga, de efectuar as manobras de despistagem, de aguentar esperas intermináveis e escutar sempre a mesma pianada. Se ao menos colocassem a boazona no ecran do telefone, já se levava a coisa com outra disposição...

domingo, 27 de novembro de 2011

o nosso Fado

No dia em que o mundo reconhece o nosso Fado como património mundial, bom seria que se envergonhassem, todos aqueles que durante décadas têm castrado e desprezado as mais variadas formas de Cultura deste país. Bom seria que se espevitassem as consciências de que são estas as verdadeiras riquezas das gentes, e que por arrasto atraem o respeito e a admiração, coisa que, sabemos, por nós, os de fora pouco nutrem, e por culpa própria. Assim tem sido este nosso triste fado.

sábado, 26 de novembro de 2011

Escolhas

Depois de uma noite de canções, entre amigos, com coros, danças, copos e tertúlia à mistura, a cama teima em prender-me só mais aquele bocadinho, que sempre tem tendência ao prolongamento sine die. No entanto, o sol lá fora anuncia-me uma manhã daquelas que vale a pena viver. Aproveitar a manhã, é por si só, fazer o dia valer a pena, por isso a ordem é de erguer. O que fazer, optar pelo conforto do carro, quentinho, com aquele som envolvente, e veguear por aí, ou, isolar-me para o fresco matinal e montar-me na bicicleta? Contrariada, parte de mim lá cedeu à opção mais saudável e ecológica. E valeu a pena. Sempre vale a pena. De carro, não se observam os detalhes, nem se sentem os cheiros, não se pára aqui e ali para uma boa fotografia, nem se fica com as pernas saudavelmente doridas. E ainda tempo para uma bica na esplanada. Pequenos prazeres que sabem tão bem, e tão bem fazem, além de sintonizados com o clima austero que os tempos obrigam.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Globetrotter





África do Sul - Cidade do Cabo

Alemanha - Augsburgo, Berlim, Colonia, Dusseldorf, Estugarda,Frankfurt, Munique

Angola - Luanda, Lobito, Moçâmedes

Austria - Linz, Salzburgo, Viena

Brasil - Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Natal, Porto Seguro, Recife, Rio de Janeiro; São Paulo

Burkina Fasso

Cabo Verde - Sal

Costa do Marfim - Abidjan, Yamoussoukro

Cuba - Havana, Varadero

Espanha - Badajoz, Barcelona, Bilbao, Caceres, La Corunha, Lloret del Mar, Madrid, Malaga, Marbelha, Merida, Sevilha, Torremolinos, Vigo, Zaragoça

Gibraltar

França - Paris

Grecia - Atenas, Corfu

Inglaterra - Birmigham, Edimburgo, Leeds, Manchester, Liverpool, Londres

Luxemburgo

Madeira
Mali

Marrocos - Agadir, Casablanca, Ceuta, Tanger, Fez

Mexico - Cancun

Moçambique - Lourenço Marques

São Tomé

Senegal - Dakkar, Banjul

Suiça - Zurique

Suazilândia

Tunisia - Jerba, Le Kef, Monastir, Tunis

Turquia - Istambul


Greve

Pois, foi ontem, o dia de greve. Por sinal o dia da minha folga. Porque existem dias que definitivamente não começam bem, este dia da greve, por mim riscava-o do calendário.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

comprar o bilhete

A D.A, conheço-a de há muitos anos. Senhora nortenha que nos anos setenta, rumou a sul, com a família, e por aqui se quedou. Pessoa muito caseira, não deixa de, vez ou outra, dar o seu giro fora de casa, e sempre lhe vi o hábito de gratificar tudo e todos, sempre que abre a carteira, mesmo que de uma bica se trate. Deixa lá sempre mais uns trocos, e repete, isto é para si, menina. Nunca vi pessoa como a D.A, e sempre tive curiosidade em saber sobre tamanha generosidade. Soube-o ontem, pois perguntei-lhe. Temente a Deus que é, a D.A sem pestanejar responde-me que assim procedendo, lá do Alto, e para o céu olhou, a observação dos seus repetidos gestos, lhe garantirá lugar no céu, quando finada.
Afinal as boas acções da D.A, não são mais do que a compra, em suaves prestações, de uma vaga no Além, assim um pouco como por aqui se vai metendo a massa nos ppr's.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

não há maus da fita

Acostumaram-nos os americanos, pela via cinematográfica, aos bons e aos maus. Nos filmes de cow-boys o índio era sempre o mau, até que muitos anos mais tarde, a grande obra Danças com Lobos inverteu a situação. Mas sempre com o mau da fita no elenco. Pela mesma cartilha se regiam as películas em que entravam a CIA e o FBI, os bons, e os maus eram sempre os temíveis KGB. O mau da fita, é para os americanos, vital para justificar o bom, o bem e a ordem, O americano precisa do bem protector, um pouco na linha do Batman, ou do Super-Homem, bons e ordeiros. Por isso um mau nos EU, está literalmente lixado, se a contas com a Justiça.


Descobriram as competentes autoridades lusas, aqui no nosso pequeno rectângulo, um mau dos EU, e logo um mau da pesada, histórico, com um CV de luxo, no campo da maldade. No cardápio do malfeitor, nada mais que alegado um homicídio; uma fuga da prisão, com roubo de viatura; a participação num desvio de um avião, com passageiros e tripulação, e um milhão de dólares, entregues em trajes menores. Convenhamos, este mau fez muitas maldades, e logo daquelas que humilham o sistema e orgulho da poderosa América. Não foi, contudo, a imagem de mau que a RTP tentou transmitir no seu programa sobre este caso. Pelo contrário, a ideia que se tentou passar foi a do bom, mas quem sou eu para julgar. Apenas entendo que se tivesse eu sido passageiro naquele voo, decerto tentaria cobrar o susto. Pois por mais que se tente branquear a coisa, um sequestro, é um sequestro, e um avião no ar, nem sempre cai da melhor forma. Isto nem falando do alegado homicídio. Pelo que parece, os daqui não querem devolver o bom, aos que, o reclamam, e como mau. Veremos se as coisas vão ficar por aqui, porque aqui somos de deixar a culpa morrer solteira, mas os outros, não.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ser solidário

Não fosse ele um jogador de futebol sobejamente conhecido, e o seu apelo angustiado perante o drama que se abateu sobre o seu pequeno filho, não sairía cá para fora, ou saindo, pouco se propagaria, e certamente seria ignorado, na pessoa daqueles que fossem tocados com o rogo. Egoístamente virariam a cara para o lado, porque afinal, o problema não era deles. Este é o cenário real dos anónimos, dos não famosos, daqueles que não estão expostos e visíveis, mas cuja dor na tragédia, em nada difere das outras dores. O exemplo de adesão que está a ser dado, por todos os que corresponderam ao apelo desesperado deste pai, deveria ser continuado, dada a facilidade com que hoje, se pode propagar a notícia. Desta continuidade, se provaria que afinal as pessoas não são egoístas, e que dão valor à Vida, e não se prendem apenas naquelas ondas mediáticas, que cansamos de ver por aí. Ser solidário, é ser-se sempre. Tal como a verdadeira amizade, que se faz presente sempre que se torna necessária.

domingo, 20 de novembro de 2011

sábado, 19 de novembro de 2011

so this is Christmas?





Ao contrário do que aconteceu em anos recentes, muito antes do São Martinho, nos lembrava a publicidade, nos meios de comunicação, da aproximação do Natal, embora próximo ele ainda não estivesse, porque se findava o Verão. Este ano, seja por estratégia, ou por efeito troyquinano, não sinto tantos bombardeamentos publicitários, como outrora, e já estamos a pouco mais de um mês do dia santo. Embora, segundo as informações que tenho, a malta continua, mais do que a comprar, a consumir. Não gosto do Natal-consumo. O Natal, tornou-se comercial, banalizou-se como qualquer outro dia de moda como aquelas fuleirices do Haloween, dias de namorados, e afins contra os quais, por aqui já me manifestei. Não sendo eu, um adepto fervoroso da fé, admito e assumo, que tenho a minha fé. Aquela fé, muito íntima que de tão íntima, e fazendo juz à palavra, para aqui não é chamada. Todavia, entendo o Natal, ele também, íntimo. Reservado. Em comunhão. Discreto, parco, humilde. Esse é o Natal que pratico. E aquele que para mim faz sentido. Mas o que temos? Melhor, o que temos tido? O inverso. O Natal, trannsfigurou-se, e perdeu a sua verdadeira essência. Tornou-se num veículo de sugar dinheiro. Para as compras, os presentes para a tia, as peúgas para o avô, o cd para a fulana, o bibelot à sicrana. E filhos sem aquelas últmas tentações tecnológicas? Nem pensar. Há que ginasticar a finança. Depois vêm os enfeites, as luzinhas chinesas, com aquelas músicas horriveis que parecem sirenes irritantes. O Natal de hoje, é um travesti, despesista, e poluidor. Vejam-se os contentores do lixo no dia 26/12. Vejam-se os rores de comida que sobra. Vejam-se as ofertas que se dão, sem amor e sem carinho, só porque fica bem e é costume. Ofertas essas quantas vezes escolhidas ao calhas. Esfregam as mãos de contentes os chineses, e os belmiros deste país. O cenário, invocando um pouco quem deu sentido ao Natal, retrata-se naquele célebre templo onde Cristo correu os vendilhões a pontapé. Neste contexto, cabe a quem deve, colocar ordem na cocheira. E neste caso, aqui teríamos uma boa oportunidade para a Igreja exercer uma acção pedagógica, em defesa dos valores que diz defender, e em rigor, devolver ao Natal o seu verdadeiro e único espírito. Hoje, os adultos que ainda sabem o que é o Natal, não se preocupam nem fazer valer O Natal, nem em explicar aos mais novos, o que é O Natal. E para esses, os mais novos, o Natal só tem um sentido - um videogame, ou assim. Em tempos de crise dos valores financeiros, enaltecer outros valores, seria de todo, mais que colocar a as coisas em ordem, dar sentido à Palavra. Caso para dizer - quem cala, consente. ou - fale agora, ou cale-se para sempre. Amen.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Heróis do Mar

Quizera eu ter outro sentimento, mas não o sinto. Logo, não o tenho. Por mais que me custe sentir que não sinto, constato e assumo que apenas me dá aquela pontinha de orgulho que esconde uma disfarçada comoção, escutar o Hino Nacional, nos jogos da Selecção. No restante, naquelas fantochadas solenes e sonolentas das comemorações e efemérides da República, apenas me vem aquela sensação de mofo, de bafio, dos tempos em que a televisão era a preto e branco. Diria até mais - que os mofentos de hoje, não são dignos de escutar o Hino, tal como o não eram os bafiosos dos anos sessenta. Os primeiros porque incompetentes são, e os segundos, porque fascistas eram.

Como bons portugueses que são, os nossos rapazes, deixando tudo para a última, só conseguiram apuramento in extremis mas diz-se que assim sabe melhor - sofrer até ao fim. Ficam bem na fotografia, o Paulo Bento, o Cristiano e o resto da rapaziada. Ficam mal, o Queirós, e os meninos que amuaram. Estes também não merecem ouvir o Hino. E este último que se escutou, ontem, no final dos 6-2, teve um sabor diferente. Afinal a única alegria lusa dos últimos meses. Mesmo tendo com o palco, o inferno da Luz.


Quem sabe um dia, me venha a orgulhar de escutar o meu Hino, em outras situações. Sei que é um bocado utópico. Como diz o Rui Veloso, na música do Jardel - mas isso já eram sonhos a mais.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

conta-me com foi

Mudámos dos telegramas e bilhetinhos, para os mails e sms; das máquinas de escrever para os pc's. Tantas coisas mudaram, por entre as gerações, mesmo até as moscas, e eventualmente, a outra substância. Contudo na essência, mudar, mudar, até nem por isso. Mudaram-se os tempos, mas não as vontades. Nos anos sessenta, pouco mais se sabia de Portugal, além Badajoz, do que Amália e Eusébio. Do restante que por aqui se passava, de tão vergonhoso que era, bem melhor seria, os da estranja, não saberem. Nos dias de hoje, a escassos dias de sabermos se o nosso Fado será aceite como património mundial, e em dia de importante jogo de bola, continua a divulgação para lá da fronteira, concentrada no CR7, e no Fado. Do restante que por aqui se passa, de tão vergonhoso que é, bem melhor seria, os da estranja, não saberem. A diferença é que sabem. Sabem, e bem. E bem melhor que nós. Daí o manguito. Que nos fazem, os da estranja.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

acompanhar o mercado

Já lhes tinha estranhado a falta de comparência. Pensei até que fosse medida de austeridade, fruto das troikadas. Dos anúncios de brinquedos natalícios, apenas a Popota se ergue constantemente, no universo da publicidade que ainda teima em nos assediar, em apelos sucessivos ao consumismo irracional, e levar-nos os últimos tostões. Mas afinal o que eu estou é desactualizado, démodé. A presença da minha sobrinha, na minha casa, levou-me até ao Disney Channel, e lá estão eles em força - os anúncios. Aproveitei para me actualizar, pelo que fiquei a saber que existe uma Barbie baby-sitter, e outra, cabeleireira. Talvez não fosse má ideia, lançar no mercado outras versões de acordo com os tempos que se avizinham - a Barbie desempregada, a rendimento mínimo, a rasca, a indignada...


domingo, 13 de novembro de 2011

Idade da Inocência

Decidiu a minha mãe, ontem enviar-me esta fotografia. Mimos maternais, que mesmo passados mais de cinquenta anos, não param de surpreender, e sabem tão bem. Afinal quem não gosta de mimos... Talvez para me relembrar dessa relação mãe-filho, talvez para me dizer como éramos belos, à época, talvez para me dizer - olha como éramos tão inocentes. Obrigado, mamã.



sábado, 12 de novembro de 2011

Olhares

Debato com o meu amigo, o olhar. O olhar da mulher. Concordamos no ponto em que os olhos sejam a cereja no cimo do bolo, no conjunto dos atractivos femininos, não obstante na beleza da mulher, o que não faltam são argumentos que somados, a podem tornar numa musa, quantas vezes aos nossos olhos, e quantas outras tantas, a olhares alheios.

O ponto de discórdia, porém existiu no debate. O meu amigo não resiste, idolatra, venera, todo o olhar, desde que venha num determinado tom de cor. Diz-me que é mais forte que ele. Olha os olhos, e fica vidrado. Eu contraponho. Objecto que, o que vale, não é o olho, e a sua cor. Mas sim o olhar, e sua expressão. Não existe nada mais profundo do que sentir aquele olhar, no nosso. Aquele olhar que invade e deixa invadir interiores. O olhar que sabemos é para nós, e não o olhar para a geral. Um olhar desses é coisa única. Os outros, os de cor, esses são configuráveis, basta recorrer à lente de contacto.



quarta-feira, 9 de novembro de 2011

a piada do mês

Cavaco, que, segundo se diz, gasta menos que a raínha da Inglaterra, mas mais que a casa real espanhola, decerto deve levar uma bela comitiva aos Estados Unidos, com despesas pagas, sabemos por quem. Diz este eloquente orador ser sua missão corrigir a imagem distorcida de Portugal no estrangeiro. E eu questiono-me. Quiçá, não sou o único. Como pode uma pessoa que não consegue corrigir a sua distorcida imagem, dada a ausente unanimidade, dentro do seu cantinho lusitano, dar-se estes ares? A única coisa que Cavaco vai fazer, mais uma vez, é gastar, dado que pouca importância, atenção ou credibilidade lhe darão. Serão, quanto muito, educados e protocolares, acenarão com a cabeça um pois-pois-cantas-bem-mas-não-me-alegras, entre dentes, e nada mais que isso, porque ao contrário dos portugueses, os camónes, não têm memória curta, logo, a haver correcção, esta teria de ser retroactiva, e caseira. Só depois da casa arrumada, se iría reclamar a imagem e claro, sem tanta gente atrás, nem tanta publicidade.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

avestruz não


Vão valendo os momentos de descontracção, seja na música, a pedalar, a caminhar, ou a fazer retratos, como efeito analgésico aos problemas que nos assolam. Se não a todos, a quase todos. E atente-se que o quase se encontra em crescente mutação. Foi por isso, um fim de semana de boas músicas, de saboroso regresso às canções com amigo de longa data. Houve tempo ainda para me armar em lenhador, e carregar o quanto pude, alguma lenha em pinhal próximo, actividade que faz bem ao físico e à cabeça. Não podendo, nem querendo abstrair-me da realidade, escutei com muito interesse preocupação, no rádio, em altos berros, dado que exercia o meu desbaste à lenha, o conhecido Machado Vaz, comentando números e factos da tragédia grega, particularmente no que toca a suicídios, dependências de drogas e álcool, e outros flagelos cujas proporções lá, maiores do que são aqui, tiveram no início da tragédia, a dimensão nacional. Urge que tomemos em consideração toda a informação válida, realista, não fatalista, porque homem prevenido vale sempre mais, e em tempos em que as únicas certezas são o passado, todo o conhecimento se torna vital, dado que em parte, estamos por nossa conta, mas pelo outro, dependemos de terceiros, na esmagadora maioria, nossos inimigos directos. Sejamos pois tão espartanos, quanto implacáveis.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

sinais exteriores de riqueza



Este é um das dois submarinos do Portas. Isto que se vê nas águas do Tejo não nos vai servir para nada, a não ser ajudar a esvaziar-nos os bolsos. Isto, é um BPN dentro de água, uma auto-estrada, confeccionada por uma público-privada. Isto, é uma porcaria inútil, capricho de políticos e generais, também eles, inúteis. Talvez que, a presença do rebocador, não seja mera coincidencia, porque se a porcaria avariar, está por ali o pronto-socorro de assistência em viajem.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

identifico-me...




... plenamente com o texto. já circula aqui pela web há uns meses, mas só agora nele esbarrei acidentalmente. há quem diga, que o escrito não é do autor, mas seja que não seja, é de facto um excelente retrato. uma vez que estou com perguiça de o colocar "aqui" aconselho vivamente a sua leitura. basta ir ao google e escrever:


mia couto - geração à rasca - a nossa culpa




em Vias de Extinção

O comentador da Antena um não tem dúvidas. Para além disso os números não mentem. Talvez por motivos diferentes, António Barreto, como por aqui comentou a Antígona, também prenuncia o mesmo. Em recente post, aqui deixei o comentário de um brasileiro, sobre Portugal - eles não estão se reproduzindo. A conclusão, é tão clara, como dura - os portugueses de gema estão a rarear. Nada de portugueses Obiquelos ou Liedsons, e outros que tais. Fala-se aqui do português, filho, neto e bisneto de portugueses. A malta da raça. Os números que escutei hoje, são de 140 idosos para 100 crianças, quando há anos a cifra estava nos 34/100. Assustador. Mais assustará a quem, faça a projecção para a próxima década, dado que não se prevêem alterações na criação da expectativa de estabilidade das unidades reprodutoras, os jovens deste país. Somemos os anti-incentivos em sede de IRS, e concluiremos que crianças que venham a nascer por aqui, só por acidente, ou em famílias abastadas. Juntando na tela uma pitadinha de A.Barreto, outra de Medina Carreira, e umas nuances de Camilo Lourenço, teremos um quadro do futuro Portugal - os ricos e os seus filhos em condomínios luxuosos e castelares, e o resto do país, povoado por outros portugueses, os Liedsons e os Obiquelos. Depois disto sinto-me assim como que uma espécie de brontosaurus, ou bicho parecido.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

tradições

Gosto do Haloween. Pela componente do mistério, do oculto, daquele terrorzinho saboroso. Contudo dispenso celebrações de hábitos ou tradições que não tenham a ver com a minha identidade, leia-se, com a identidade da minha terra, e das minhas raízes culturais. Enquanto outras gentes fazem questão de se manterem fieis aos seus costumes, os tugas, descaracterizados que são, e àvidos por importar a coisa alheia, engolem tudo o que se lhes apresenta pela via da importação. E vai daí, celebramos o dia da bruxa, o dia do São Valentim, e o Carnaval carioca. Nada a ver connosco. Pouco espanto, decerto terei, se um dia começarmos a comer perú no dia de acção de graças, ou, atendendo à ascenção meteórica do país do sol nascente, que celebremos o ano novo chinês. Lá mais para a frente, quem sabe chega o momento em que daremos as vacas como sagradas. Em resumo, a tradição já não é o que era. Que o digam as lojas dos trezentos, que esgotaram os artigos de bruxaria, e não vendem uma florzinha, no dia de finados...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

lobbys dos medicamentos

Vemos agora na tv, com alguma frequência, um apelo para que não se ministre o antibiótico levianamente. Totalmente de acordo. Mais se apela para que entreguemos as sobras da medicação na farmácia. De acordo, mas, apenas se a farmácia, me pagar aquilo que devolvo. E explico porquê, em dois pontos.
Ponto um - em muitos países a medicação é fornecida avulso, logo não há desperdício nem sobre-dosagem. Assim deveria ser aqui, e nada mais a propósito, dado que estamos em sérios apertos. Não sendo possível, é legítimo que se receba algum estorno.
Ponto dois - Certo dia em que (des)esperava a minha vez para uma consulta, no conceituado hospital Cuf Descobertas, descubro que o atraso se devia ao facto de o senhor doutor, estar a atender uma esbelta jovem da propaganda médica. O que me levanta apenas dúvidas, não suspeitas, de que, eventualmente pode ser à minha custa que o senhor doutor faz as suas férias, quando, supostamente me receita uma caixa de 48 supositórios, quando 6 me resolvem o assunto, supositórios que coincidentemente, são distribuídos pela empresa onde trabalha a jovem esbelta.
Querem as sobras da minha gaveta de medicamentos? Comprem-nas, que a mim ninguém mas deu. Não me pagam as férias, mas não me sentirei tão enganado.

voltinha pombalina

A voltinha decidi-a em cima da hora - um passeio até à baixa pombalina. E nada melhor que entrar em Lisboa, pela forma antiga, de barco. Do Seixal a Lisboa, é um instante. Vejo o edifício dos Paços do Concelho de porta aberta, e tal como o cão na igreja, entrei. E em boa hora entrei, pois estava a iniciar-se um visita guiada a todo o edifício, com narração de interessante conteúdo histórico, por parte do guia, arquitecto do município.

De resto Lisboa continua, aos domingos, pejada de estrangeiros e oca de portugueses. Os primeiros, desfrutam o belo país e clima que temos, enquanto que os segundos preferem invadir os espaços de consumo, onde não se poupa, e dificilmente se enriquece interiormente. Pérolas a porcos, dirão alguns. Ou o pessoal ainda não interiorizou que tem de poupar, dirão outros. Pobreza de espírito, comentarão ainda outros.

Ficou-me de ressaca, uma frase do anfitrião dos Paços, invocando a dado momento, José Hermano Saraiva - somos um povo pedinte, há 500 anos.

sábado, 29 de outubro de 2011