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Um dia fui contratado para tocar num lar de idosos. Na festa de aniversário. Aceitei na hora. Foi-me pedido para tocar e cantar alguns temas suaves, baixinho, de preferência músicas com as quais os convivas se identificassem. Era um desafio.
E tratei de ir ao baú, que é como quem diz, à web rebuscar tudo o que escutava na telefonia dos meus avós.
No dia marcado, lá estava eu com a minha tralha, e um reportório de tesourinhos dos anos 50 e 60. Na medida que entrava, crescia em mim um sentimento de insegurança, um nervoso miudinho, que não sabia explicar. Caminhava no sentido do palco improvisado, mas queria fugir dali. Comecei a sentir que invadia o espaço daquelas pessoas que me olhavam meio desconfiadas, outras intrigadas. Eu estava a mexer com a sua rotina. Sucediam-se perguntas - afinal o que é que o Senhor vem aqui tocar? - Vai fazer muito barulho? - O melhor que soube, fui acalmando os mais desconfiados, que olhavam de lado para o equipamento de som, temendo pelos seus tímpanos. Instintivamente, revi naqueles velhinhos, frágeis, gastos, mas sobretudo Gente, os meus "velhinhos". E foi fácil. Dei-lhes carinho, atenção, toquei á capela excertos do que iríam escutar, e foi perfeito. Foi uma noite do caraças. Gostaram do cuidado que houve para com eles, o som baixinho como pediram, as músicas que cantarolaram comigo. Toquei a pedido. Repeti o que queriam escutar. Andei de mesa em mesa a conversar com eles. A escutar. A ouvir passados relembrados naquela noite. Comovi-me com uma Velhinha que me veio agradecer, pois relembrei-lhe os amores com o falecido marido, com o Cartas de Amor.
No final, a arrumar a tralha, já estava com saudades daqueles Velhinhos. E com uma felicidade descomunal por ter tido o previlégio de tocar para aquelas Pessoas.
Quando todos encararmos um Velho, como ser adulto Superior, e por isso, o respeitarmos. Quando todos encararmos que Velho precisa tantas vezes dos mimos, cuidados e atenção, como se fosse uma criança, então podemos chamar-nos de Gente. E aí sim, o mundo pula, e avança.
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