quarta-feira, 19 de março de 2014

Pai Nosso

Abro o facebook e levo com uma invasão de posts sobre o Pai. Estamos cada vez mais à mercê do dia disto e do dia daquilo. Há poucas semanas milhares de mulheres embebedaram-se, algumas fizeram decerto o que não deviam, outras foram para casa mais tarde do que o costume, só porque a ordem era ditada pelo calendário. Poucas decerto deverão saber porque se chama Dia da Mulher, o 8 de Março.
Tal como eu não sei porque é hoje o dia do Pai. Decerto haverá explicação para que hoje, os meus filhos eventualmente me dêem mais atenção, o que duvido, já que nas relações que mantemos, os afectos não se resumem a um dia, mas a todos. Decerto que haverá, para além do apelo consumista, um motivo acrescido para que hoje, me lembre mais um pouco do meu Pai, e dos meus Avôs, mas sinceramente, não encontro motivo, nem dele necessito, dado que a lembrança dos que por mim passaram, celebro-a em permanência. Mesmo assim, para não destoar, aqui fica a lembrança, no recato do blogue, longe do bulício facebookiano.

sábado, 15 de março de 2014

Diz-me o que ouves...

A frase é antiga. Li por aí, que até é bíblica - diz-me com quem andas, e eu te direi quem és - da força das palavras, surgiram as variantes tais como, diz-me com quem dormes, ou  como dormes, ou diz-me o que fazes, e por aí adiante.

Realizei, que também se pode obter um pouco de conhecimento das personalidades questionando - diz-me o que ouves. E complicando - como e quando.

Nas horas que me possibilita a vida e a vontade, de ouvir o que quero, seja pedalando, no carro, ou aqui neste cantinho onde me encontro, procuro algumas vezes o lado surpresa, deixando que nos posto de rádio preferidos alguém me surpreenda, bem noutras vezes, busco as minhas próprias músicas, numa necessidade quase essencial. E por aí vou viajando, levitando tanto quanto me permita o desprendimento ao aqui e agora, mas sempre tendo presente as palavras da canção - não se ama alguém que não ouve a mesma canção.

FM de hoje: Marginal e Smooth
audio pessoal de hoje: Lulu Santos e Adriana Calcanhoto

sexta-feira, 14 de março de 2014

das pequenas felicidades 2

Ontem, entre trabalho, houve ocasião de um fuga à rotina. Um passeio musculado, de puro BTT, e pausas para fotografar pelos trilhos da Serro do Louro, onde pontuam os moinhos, as ruínas romanas e paisagens de cortar a respiração, nos quatro pontos cardeais.
Já por ali andara, tanto em duas rodas, como em caminhadas. Literalmente, repeti o percurso de cerca de nove quilómetros. 
Não sou defensor da convicção de que não se deve voltar aos lugares onde já fomos felizes. Se ali já fui feliz, voltar, tem toda a justificação. Porque se não voltamos aos lugares onde ( e neste caso aplica-se a palavra - supostamente) já fomos felizes, então é porque na realidade, não o fomos verdadeiramente, e por conseguinte, assim sendo, há que fechar a porta, dar sumiço à chave, e procurar novos locais de passeio. Por outras palavras, ser feliz noutros trilhos.

terça-feira, 11 de março de 2014

das pequenas felicidades

Nunca devemos buscar pontos de equilíbrio porque sim. Devemos deixar que se manifestem, tal como as emoções e os amores. A busca pode ser, e quase sempre é, enganosa. 

Não acredito em teses, livros, ditados, de auto-ajuda. Receitas generalizadas, só as quero em volta dos tachos e das panelas. Acredito que apuramos naturalmente o que nos faz bem. Depois é termos a lucidez de usar dentro do que nos rodeia, e tanto quanto está ao nosso alcance, aquilo que sabemos, porque sentimos, que nos faz bem. 

Por isso, poucos poderão avaliar o bem que me sabe e  melhor, o bem que me faz, um passeio na minha fiel bicicleta, por caminhos pouco usados, onde a banda sonora é composta pelo canto dos pássaros, e pelo brotar dos riachos e dos cursos de água. 

Acredito pois que somos nós cada um de seu modo a criar a sua auto-ajuda, que corrijo para auto-satisfação dado que se temos ADN, é porque todos, mesmo que idênticos, somos únicos, portanto diferentes. E se cada um sabe as dores que tem, cada um terá também de procurar o seu remédio d'alma. Sob pena de se prender a palavras erradas, junto com a multidão que leu a mesma cartilha.

sexta-feira, 7 de março de 2014

o tempo mudou

Por vezes as nossas preces são ouvidas. E atendidas. Acabou o mau tempo. Chega portanto o tempo de contar as munições, e tal como diz Cecília Meireles, voltar inteiro. Não resisti ontem, a uma aventura radical e temerária, digna de post em breve, em cima de duas rodas, em plena comunhão com a natureza. Foi o azul e verde, foram os cantos da passarada, e foram os meus pensamentos. O tanto quanto o corpo permitiu, dadas as teias instaladas pelo sedentarismo. Vamos lá começar a arrumar a casa. Porque o tempo mudou. E com diz o poeta "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".

terça-feira, 4 de março de 2014

porque o sol e a lua também assim fazem

Se é a própria natureza a dizer-nos na sua sabedoria, que assim tem de ser, dado que o nascer e o por do sol respeitam na sua alternância, esse dado consumado, porque insistimos nós, tantas vezes em querer mudar o que não pode ser mudado? Viver um dia de cada vez, é inevitável. Tentar viver de outra forma é portanto, contra natura, e perigoso. Viver um dia após o outro pode evitar muitos erros, muitas decepções. Bem como pode e deve ser sempre uma atitude de não querer antecipar o mero imaginário sem qualquer base de sustentação, dado que na observação do dia a dia se constrói muito mais sábia e consistentemente, o sonho.

domingo, 2 de março de 2014

rever nem sempre é bom


Há muito que não rumava à Costa, até porque desaconselham os passeios pelo paredão. E se há coisa que o meu povo gosta é de desafiar a ordem e a natureza, pelo que o paredão estava bem recheado de caminhantes, e de mirones.
Encontro o Zé, sem esperar. Depois daquela conversa, do que é feito de ti? do há quantos anos não nos vemos? O que é que fazes agora? Com que idade é que já vais? Entra-me na defensiva. Como que se não quisesse admitir que as coisas não estão nada bem, quando a primeira saudação é a de sempre: TUDO! quando questionados - então está tudo bem contigo?
Não consegui manter um diálogo franco, como os que tinha com o Zé, aqui há anos, fosse em trabalho ou em lazer. Não de repente, mas pelo contrário, porque anos se passaram, e as circunstâncias mudam, e com elas, as pessoas, dou com um Zé que não conheço, evasivo, e pouco franco.
Na despedida, mais uma frase banal - temos de combinar qualquer coisa! Aparece! Pois, claro. Pois quem não aparece... esquece. Mas não será certamente em busca do Zé, será porque, sempre que contemplo o mar, as minhas ansiedades pausam.

sábado, 1 de março de 2014

Primavera, precisa-se


De volta aqui. Os cantos que criamos, no universo virtual, são um pouco como as gavetas dos nossos móveis onde guardamos as tralhas. E consoante as vontades ou a ausência das mesmas, as ditas gavetas, irão abrir-se, ou não. Outra possível comparação poderia ser semelhante a uma pequena horta, em que cada página, cada blogue, cada sítio tem de ser cuidado, regado, assiduamente, sob pena de cair no esquecimento, e definhar. Quando a gente gosta, é claro que agente cuida, diz a canção. A parte do pequeno Príncipe com a sua famosa rosa, também poderia servir de exemplo.

Os motivos vários que nos levam a mudar hábitos, presenças, muitas vezes não se explicam. Simplesmente são comandados pelas vontades, pelas escolhas, pelas circunstâncias, pelos imprevistos, pelos motivos de força maior, pelo cansaço. Como existe sempre no acto da decisão da mudança, uma liberdade residual, chamemos então a isto tudo, apenas de - vontade. 

Realizei que é temerário deixarmos as nossas vontades à mercê de outros, nem que seja pela metade, nem que seja por menos de metade. Existe sempre o risco a que a vontade mude de rumo, porque na metade que não nos cabe, a vontade mudou de norte. E aí lá temos de reformular os cálculos.  Quando pensamos que sabemos todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas, diz-se.

Uma frase de Cecília Meireles, sempre me deixou simpatia e admiração: "aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira". O retrato que tirei, não é da primavera que ainda não chegou, foi tirado no outono, ao qual se seguiu um inverno que teima em não me abandonar. Gosto dos invernos apenas quanto baste e preciso urgentemente da primavera para me reorganizar, para rever as minhas vontades, sem ser pela metade. Porque embora não cortado, nem aos bocados, também não me sinto inteiro. Porque, desde que me conheço, nunca passei por um inverno tão longo, um inverno que não me vai deixar saudades. Um inverno que embora não o possa esquecer, tudo farei para que o recorde o menos possível.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

o Panteão

Certamente por ignorância ou desinteresse, nunca soube quais os critérios de admissão para a permanência eterna no Panteão Nacional. Mais mea culpa faço por não ter conhecimento de todos os que lá moram, apesar de ter visitado a chamada Igreja de Santa Engrácia, cujas obras tardaram.

Sei que houve polemica para ali introduzir os restos mortais de Amália Rodrigues. Mas o facto é que não só está Amália, como a sua voz se escuta nos ecos naturais do monumento. Fará mais sentido escutar a voz de Amália, do que escutar a um actor declamando Camões. 

Reclama-se hoje, e com urgência a entrada do jogador de futebol, Eusébio, no Panteão. Não tenho por ora bases com que fundamente a minha opinião favorável ou a contrária. Apenas vejo hoje, que abrindo as portas do Panteão a Eusébio, certamente se estarão a abrir as portas, num futuro que espero, longínquo, ao jogador de futebol, que hoje, em Madrid, já vai tendo uma boa dose dos motivos invocados ao ingresso eterno.

Veremos se numa próxima visita, em vez de escutar a voz de Amália, o pano de fundo sonoro, não será a voz de Artur Agostinho, relatando os jogos do Eusébio.

http://cantinhodosretratos.blogspot.pt/2011/12/panteao-nacional.html

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

os Filhos de Uns e os Filhos dos Outros

Estranha pátria esta minha que trata com desigual cuidado os (seus) filhos que lhes enobreceram a História.

Muito me entristeceu a partida da Dona Amália.

Muito me entristeceu a partida de Eusébio.

De igual modo me entristeceu a partida de Carlos Paredes.

E de Zeca Afonso.

E também de José Saramago.

Mas os arautos da ditosa pátria assim não entendem. Nem tão pouco os meios de comunicação.

Parece que medem o choro, a lágrima e o discurso pelos números das multidões.

Não desejo mal nenhum ao cantor, mas caso, o Toni Carreira se finasse, isso é que seria o país parado de bandeira a meia haste para aí mais de quinze dias.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ano novo

O calendário muda num mero número, e é tudo a dizer que este ano vai ser assim, e assado, que vai haver dieta, que este ano é que é, que se vai mudar de vida, de rumo. Uns que vão deixar de fumar, ou de beber. Ou começar... 

Somos (quase) todos donos dos mesmos inúteis e fúteis clichées nesta época. No Natal usa-se muito o amor, muita prenda, muita comida na mesa, muita solidariedade com os pobrezinhos, e com as causas. Arredonda-se no supermercado e fica-se com aquela sensação do dever cumprido. 
Na passagem de ano, outra vez muita comida na mesa, muita bebida com muitas borbulhas, muitos votos de um bom novo ano, como se isso fosse possível, bastando o vislumbre de que afinal nada vai mudar nas cadeiras que nos sorvem os parcos tostões. 

Nem me posso queixar do ano que passou. Tive saúde, progressos mesmo que ligeiros na área de trabalho, a música foi-se celebrando, apurei o gosto ao hobby da fotografia, e nos recantos do recato, os tais do foro íntimo, aqueles que todos devemos omitir publicamente, dado que existem fronteiras que só  a nós dizem respeito (e esse nós, deve ler-se - par) o ano foi de feliz constatação das certezas.

Não havendo bela sem senão, e porque o calendário é importante. Por vezes implacável, aponto hoje datas no calendário do "ano novo" que não queria de todo marcar. De ressaca, fica-me uma diminuta consolação.

No restante, as circunstâncias determinarão a que mudanças me proporei, por vontade, e por possibilidade. Tudo me indica que a navegação à vista é a norma aplicável. Porque cada vez faz mais sentido aquela frase que diz: quando penso que sei todas as respostas, vem a vida e troca-me todas as perguntas. Uma verdade que muito limita o plano e o sonho. Por isso nos devemos reservar ao direito de encarar com o mesmo sentir, o vislumbre da mudança, e também, o de não mexer uma palha. Porque na navegação, todos sabemos, o vento pude mudar a qualquer instante.