terça-feira, 30 de abril de 2013

pesos e medidas

Anda meio mundo indignado com a alegada exagerada fiscalização a uma feira de velharias, no Algarve, por parte das autoridades. Pelo que se lê, distribuíram-se multas a torto e a direito. É aqui que mora o pecado - na coima sem a atitude pedagógica que a devia preceder. Desconheço se a houve, mas a julgar pela notícia, foi multa à primeira visita.
Isto de comercializar coisas, bens e até comida tem as suas normas. Tem de ter, porque por mais perto que estejamos deles, isto não é Marrocos. No caso luso, como habitual, peca-se sempre pelo excesso, e falta de análise caso a caso, passando por cima das tradições, quando as há, num ganancioso processo de caça ao dinheiro do infractor.
Não é de estranhar, com estes exemplos, que venham a acabar os tradicionais mercados, feiras de rua e afins. Ou não fossemos um país com tanto mar, e se tivessem acabado com as pescas, com tanta terra arável, e tivessem pago aos agrícolas para guardarem a enxada.
Mais uma forma de empurrar a malta para os centros comerciais...

domingo, 28 de abril de 2013

pobresa nacional

Acidentalmente, tropeça-me o comando da tv, na TVI, que invariavelmente transmite programas em directo, nas tardes de domingo, com um corropio de tudo o que é pimbalhada em cima do palco.
Confirmo que a fórmula se mantém. As músicas são cópias de cópias, as letras, cópias de cópias, e o estilo nacional e natural perdeu-se nos tempos. Se na moda da decoração somos ikea, na música (pelo menos neste formato) também não somos nós. Com excepção dos temas, cuja forma rítmica é fundamentada no malhão ou na chula, tudo o resto é importação. As influências vêm desde os tradicionais temas da zona da Baviera, claro que, com as devidas adaptações. Noutro campo, atacam com a epidemia de kizombas e kuduros. Tupo salpicado por letras de amor-barato ou brejeirices do tipo foram-me à bilha. Salvam-se portanto os malhões tão bem aproveitados afinal, pelo mais loiro dos loiros: Roberto Leal, pois então.

sábado, 27 de abril de 2013

o monstro antes do belo - III

as chapas acrílicas forram todo o piso um. a coisa mexe.
Ainda a propósito da Joana: vi esta semana um documentário sobre a artista, na RTP2. E se não me identifico com a obra, identifico-me com muitas das suas palavras. A pérola máxima, foi a alusão à despersonalização das nossas gentes, face ao absurdo e saloio tique consumista, que nos mata as tradições (e o bom senso). E disse, propósito da moda de toda a gente comprar coisas no ikea: é um processe de banalização, não um processo de identidade. Bravo Joana. Quem sabe, eu até venha a gostar do cacilheiro.

novas oportunidades

Como que acidentalmente, caiu do céu, melhor será dizer, do mar, uma espécie de árvore das patacas, que faz crescer a olhos vistos o comércio das zonas ribeirinhas de Lisboa, bem como os locais circundantes dos nossos monumentos alfacinhas. É que, Lisboa se tornou um ponto de paragem dos navios de cruzeiro. E assim se vão reabilitando uns, e abrindo outros, o negócio para vender ao turista, o fado, os vinhos, os postais, os pastéis de nata. Taxistas combinam trajectos com os visitantes de poucas horas (já os encontrei no Cristo Rei). Enfim, a coisa faz mexer. 
Bom seria que este exemplo fosse seguido por outras áreas, dado que a coisa funciona num princípio muito simples - atrair. Coisa que não se tem feito nas últimas décadas, como provam os encerramentos de investimento estrangeiro por aqui, e a preferência dada a outros países na construção de novos projectos. Será que só eu é vejo a coisa por este prisma?

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Conta-me como foi

Interessantíssimo e gratificante, que ao fim de quase 56 primaveras, um telefonema para a minha mãe, não se fique pelo tradicional saber se está tudo bem, se precisas de alguma coisa, etc, etc.
Ontem, mais uma vez, a propósito de outros tempos que não vivi, obtive interessantes informações, das quais pouca ou nenhuma ideia fazia. Algumas gerais, outras de carácter familiar.Estamos sempre a aprender.
Fica-me a dúvida - a senhora minha mãe falou porque calhou, ou será que se reservou para só agora abrir algumas páginas.
Bem, isso nem é muito importante.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

onde estavas no 25 de Abril?

Só soube que havia qualquer coisa de diferente pela manhã. A minha mãe, fora a correr para Lisboa, manifestar-se. O meu pai ligava de Lisboa, alertando para não sair de casa, que era perigoso. Rumei a casa de quem, na data namoriscava, meio atordoado com as notícias e pensando que as letras dos meus LP's do Letria, Godinho, Mário Branco, Zeca, afinal faziam mais do que sentido musical. Ia feliz, portanto, namoriscar e partilhar a boa nova. Contudo nem todos festejavam.
Recém regressado do Brasil, onde estivera emigrado quase duas décadas, o meu candidato a futuro sogro, que nunca chegou a ser, desdenhou secamente da revolução que nascia - agora vem a coisa da democracia, muitos partidos, muitas eleições, e depois o povo vai cansar-se, e deixa de acreditar nos políticos, lá em São Paulo, o povo estava tão farto de aldrabões que elegeu um hipopótamo! Claro que não acreditei. Mas mais tarde conferi: foi verdade. Hoje, volvidos 39 anos, tristemente dou razão ao senhor Humberto. Mais facilmente votaria num animal do zoológico do que na esmagadora maioria dos políticos do pós 25 de Abril.

o monstro antes do belo - capítulo II



A boiar, pintadinho, de nome Trafaria, janelas do rés-do-chão tapadas, e  o carregamento de umas chapas que parecem ser acrílicas, para o seu interior.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

livro de elegios

O tuga típico sempre teve uma costela de bufo, de delator, de queixinhas. Não fosse já este, um tique congénito, ainda veio ajudar à festa o período salazarista, onde o bufo recebia alvíssaras pelo feito e ainda ficava com aquela cara de parvo feliz, para aliviar a consciência, a pretexto de defender a nação. Depois de Abril/74, o bufo ramificou. Há bufos de esquerda, há bufos de direita, há bufos neutros. Sendo o bufo típico aquele que não dá a cara, porque para além de nojento é cobarde, existe a variante do queixinhas, que encontrou no omnipresente livro de reclamações o seu braço armado para poder tentar exercer o seu pacóvio conceito de poder sobre o próximo. Dito por outras palavras, de tentar lixar a vida ao outro. Sendo certo que existe a legitimidade para o livro, é mais certo ainda o seu uso desmedido para denúncias do tipo vingançazinha frustrada. Até ver, nunca fui alvo de nenhum escrito, nem nunca escrevi. Espero manter a média. Penso que este tipo de comportamento é fruto de um sentimento ?patriótico? de permanente estado de derrota, e ressaviamento. Muito bom seria, aos que decidem, divulgar, promover, incitar, ao uso do livro de elogios. Acredito que mudaria muita mentalidade. Tanto aos que escrevam, como aos alvos da escrita. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Música - Memórias


Andava eu pelos nove/dez anos, e as únicas prendas que queria eram discos. Não qualquer disco, mas "o" disco que eu quisesse. Por vezes demoravam semanas, meses até conseguir o meu objectivo. Quando a tal música passava na rádio, eu assimilava-a, e aguardava ansiosamente que o locutor de serviço anunciasse o artista e o título para que eu, memorizando foneticamente, pudesse armazenar a informação, até ao momento de glória, dado que não percebia patavina de inglês. E foi assim que em duas ocasiões diferentes, consegui entrar na Melodia, e despejar: tem o ióngâl dos diuniónguép?. E também numa discoteca na Baixa, expelir: tem o citin-inadócófdâbei? O primeiro comprou-mo o papá, e o segundo, a mamã. Ambos, não entendiam o porquê de eu gostar daquelas músicas. Nem eu sabia. Hoje sei.

santos da casa

Optei no domingo passado, por tomar o pequeno almoço numa simpática e pequena casa, porém, cheia de alma (que hei-de fotografar, assim o dono permita) onde o galão é bem tirado, os doces e salgados, pecados da gula, e o som ambiente é invariavelmente a rádio Amália, ou não fosse o dono, fadista. Queixa-se que o negócio está mau. Que a vizinhança o abandona aos poucos. Que preferem pegar no carro e rumar a um qualquer espaço comercial a pretexto de "dar uma volta" e tomar uma bica deslavada. Depois remata - no entanto tenho clientes que vêm de longe só para provar os meus bolos, ou mostrar a casa a amigos, mas isso não chega.

Aqui nem se aplica o dito - santos da casa... - aplica-se uma falta de nem sei-o-quê, que impele as pessoas a uma dinâmica de falsa qualidade de vida. O comércio de proximidade devia ser, por muitos motivos, tal como nos países do norte da europa, um dos grandes parceiros da pessoa que passaria a ter a honra de voltar a ser o Cliente ao qual se trata pelo nome, em vez de ser um reles consumidor.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

calor e as tristes realidades

Depois de um castigador período de chuva e céus escuros, na primeira oportunidade, apresento-me na minha praia, que quase me parecia virgem, na ausência de pessoas. Era eu e quatro gaivotas. Arrisco colocar as pernas a ao léu, e molhar os pés. Desnudar-me mais não convém, amanhã é dia de cantoria, e os ventos ainda são matreiros. Por ali fico, a molhar os pés, até me esticar ao sabor do sol, e dar-me conta de que há meses que não olho para mim. Melhor, para aquelas partes do corpo que só vemos quando vamos tomar banho, e que, no inverno, se as vejo, é a fugir. A conclusão é óbvia, e dura. Estou a ficar velho. A pele já não tem   a frescura de outrora. Branca ainda fica pior. Estou a ficar com pele de avô. Se a aperto faz rugas. Por hoje fiquei-me pelas pernas. Nem quero saber a desilusão que vai ser quando observar minuciosamente, as restantes áreas, por hoje resguardadas. Aposto que a barriga vai ser o centro da minha atenção :(

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Paços do Concelho

Existe aqui pelo meu Concelho, uma grande polemica: dizem e revoltam-se dizendo que o Município está falido, e no entanto vai contratar dois artistas caros, e uma orquestra para comemorar o 25 de Abril. Como se não chegasse, ainda vão presentear o povo com um estrondoso e pavoneante fogo de artifício. Não faço ideia das gestões das Câmaras, mas existem evidências nas quais não podemos deixar de reparar. Se é daí que vem o buraco, não faço ideia, mas...
Câmara Municipal do Seixal

Câmara Municipal de Sesimbra

Câmara Municipal de Alcochete

Câmara Municipal de Cascais


Solidários sim, porém, selectivos

Tenho por hábito dar uma volta na página inicial do facebook, a ver as publicações, ao calhas, assim como quem lê as gordas dos jornais. Notei, com pouco espanto, diga-se, que certos amigos que por ali tenho e se identificam politicamente com a esquerda, que comentam, partilham, aquelas cenas da democracia, da solidariedade, das liberdades, etc. passaram totalmente ao lado da notícia sobre o cobarde atentado (todos são) em Boston. Para mim foi como se tivessem vontade de colocar um like. E para compor o ramalhete, falou-se da Venezuela.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

15 de Abril


Sempre me lembro deles, arrisco a dizer, diariamente. Diz-se que a melhor forma de homenagearmos quem partiu, é nunca os esquecermos e silenciosamente lhes prestamos a devida homenagem, na lembrança, na evocação, no proveito dos ensinamentos. Seria hoje o seu dia aniversário. Do meu avô paterno, que morou um terço da sua vida no paquete Império, e da minha avó materna que sempre que visitava o Alviela, nos Olhos d'água, voltava a ser a criança que cedo se perdera nas escadas de Lisboa. Ambos foram, e são, a prova de que os avós são pais duas vezes.

sábado, 13 de abril de 2013

o monstro antes do belo - capítulo I


Aparentemente sem pintura final, em seco.

Delírios

Em tempo de espera forçada, na oficina, vagueio entre os carros novos, expostos no stand de vendas, à espera de dono. Não resisto a abrir um deles, um deles apenas. De longe, o vendedor convida num aceno, pode sentar-se nele, e senti-lo. Mais uma vez não resisto. Estou dentro de uma suite de seis estrelas sobre quatro rodas. O cheiro do couro misturado com o odor do tudo novo embriagam-me. Imagino-me a atravessar os cursos de água, as lamas, as areias, os corta-fogos, a atingir locais muito pouco acessíveis, com vistas e aromas inebriantes. Mas, olho à volta, e penso, porque raio fazem carros destes? Gente com bom senso nunca colocará este Evoque a nadar na lama, ou em trilhos capazes de riscar a pintura metalizada. Este palácio rolante está dotado de um sofisticado sistema de 4x4, que creio, poucos dos endinheirados donos nunca irão usar. Embora como diz um amigo meu, o que custa é o primeiro risco. Depois a gente habitua-se.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

extrema unção

O governo está a dar o peido-mestre. Entretanto o portas sobe na popularidade, passando entre os pingos da chuva. Recuo na nossa História, a recente, a pouco recente, e a não recente, e fico sem saber se chore muito ou se berre.

low cost

Fiz parte da pequena equipa, que tratou de servir um casamento. Servi o que sei, músicas. Os tradicionais pratos servidos nestes eventos, foram substituídos por petiscos, e os vinhos selecionados por sangrias. No final, a felicidade reinante até me pareceu maior do que aquela que vi em muitos casamentos de pompa e custos elevadíssimos. Pode ser fruto da crise, que força as gentes a reinventar soluções, como pode ser opção, mas este modelo agradou-me. E como me dizia o noivo nos agradecimentos, não preciso de me casar nos Jerónimos para ser feliz. Não posso estar mais de acordo.

terça-feira, 9 de abril de 2013

os programas de tv, a revolução e outras questões

Não atinava muito com eles. A nova box lá de casa permitiu-me ver perto dos 12 programas, e mudei radicalmente de opinião, ali existe um humor inteligente e irreverente, incomodo para alguns e uma pérola para outros, num formato original.

Incomodo para alguns, pérola para outros, revivalista para muitos, não retrata apenas a vinda dos retornados das ex-Colónias, descreve bem para além do tema principal, usos, práticas e costumes, tais como o tema - aborto, na época chamado também de desmancho. Em conversa com a minha mãe, sobre o tema, tive pela primeira vez o conhecimento do histórico nessa matéria, dos desmanchos das mulheres da família. E fiquei de queixo caído. Mais um tijolo no muro que me separa da igreja, seus padres, e padrecos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

nostalgias - era tudo menos, e tão mais

Descubro o Rio Alva, que me embalou tantas vezes, entre Cacilhas e o Terreiro do Paço, com as suas gentes apressadas, não tanto como hoje, antes corria-se menos. Nas viagens os habituais e quase permanentes engraxadores, e vendedores de rebuçados, e os seus pregões gráaaaaxa e ólhóspaladares, animavam o trajecto. Eu ficava-me pelos "paladares" que embora enrolados em cores diferentes, sabiam todos ao mesmo. Parece que ainda lhes sinto o sabor, e aquele pegar nos dentes. Transporto-me à época em que os problemas existiam, mas eram menores: Menor, também eu era, de infância meio atribulada mas mesmo assim, de cara alegre. Tinha a vida toda pela frente, não obstante os fantasmas que me atormentavam, os pais separados, coisa que na época era rara, e me deixava sempre desconfortável, principalmente entre colegas de escola. O meu vai-vem nos cacilheiros, devia-se à separação, que me fazia andar de casa em casa. Mas havia o tecto protector que me amparava, e tudo se compunha, havia sempre uma avó de cada lado do rio, que me acalentava e aninhava. E a muralha de aço que era um avô, capaz de resolver todos os obstáculos. Vejo na foto do Rio Alva, bem lá no fundo, atracado em Alcântara, um navio da CNN, talvez fosse o barco do avô, aquele que tudo resolvia. Hoje, para onde quer me me vire, não encontro os meus ancestrais . Todos partiram. E a sensação de não ter nenhuma camada protectora, faz-me aquele friozinho no estômago, assim tipo gauleses com medo que o céu lhes caia em cima. E ainda há quem diga que não se viaja nas fotografias. Então não. Viaja-se e navega-se.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

o verdadeiro Sagrado

Eis a verdadeira frase sem papas na língua. Não se trata de um ataque ao Vaticano, mas sim de uma constatação de factos. E vindo estas palavras de quem vem, as chances de qualquer defesa ou justificação, soa à hipocrisia milenar. Para cúmulo, proferidas,as palavras, por uma mulher, o Ser menor, aos olhos da igreja. 
Estivessem os crentes atentos, e pouca importância se daria a gestos desprovidos de qualquer utilidade com honras de horário nobre, atentando-se mais em palavras como as que proferiu o bispo de Braga.


terça-feira, 2 de abril de 2013

keep on rockin'

Acomodamo-nos com facilidade ao fácil, bem como se adquirimos um certo conforto, dificilmente cedemos a abdicar dele. Este serviço assim se chama na gíria de alguns músicos, um contrato, era tudo menos confortável, se comparado com aquilo a que me fui habituando. Era tudo contra: estacionar em Almada é caótico; o espaço destinado à música, ínfimo; o horário estendido desde o fim da tarde, até começar perto da meia noite; sala de fumadores; e um cachet pouco atraente. Na véspera, tinha até tido uma excelente proposta, bem comoda e mais bem paga, mas nem pensar nisso, havia dado a palavra ao amigo Manél, companheiro dos palcos do Iodo, que me angariou o serviço. Só foi preciso começar a tocar, para se dissiparem todos os tiques de comodismo, que afinal, ofuscam o essencial - a empatia com o público. E foi uma festa, com gente animada, muita balada, muito rock, até às 500'as, porque não se dá pelo tempo passar. Valeu a pena, despir a farda de músico burguês e acomodado, e fazer recuar o tempo. Repita-se. Daqui a uns meses, porque a idade não perdoa.