quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

o Panteão

Certamente por ignorância ou desinteresse, nunca soube quais os critérios de admissão para a permanência eterna no Panteão Nacional. Mais mea culpa faço por não ter conhecimento de todos os que lá moram, apesar de ter visitado a chamada Igreja de Santa Engrácia, cujas obras tardaram.

Sei que houve polemica para ali introduzir os restos mortais de Amália Rodrigues. Mas o facto é que não só está Amália, como a sua voz se escuta nos ecos naturais do monumento. Fará mais sentido escutar a voz de Amália, do que escutar a um actor declamando Camões. 

Reclama-se hoje, e com urgência a entrada do jogador de futebol, Eusébio, no Panteão. Não tenho por ora bases com que fundamente a minha opinião favorável ou a contrária. Apenas vejo hoje, que abrindo as portas do Panteão a Eusébio, certamente se estarão a abrir as portas, num futuro que espero, longínquo, ao jogador de futebol, que hoje, em Madrid, já vai tendo uma boa dose dos motivos invocados ao ingresso eterno.

Veremos se numa próxima visita, em vez de escutar a voz de Amália, o pano de fundo sonoro, não será a voz de Artur Agostinho, relatando os jogos do Eusébio.

http://cantinhodosretratos.blogspot.pt/2011/12/panteao-nacional.html

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

os Filhos de Uns e os Filhos dos Outros

Estranha pátria esta minha que trata com desigual cuidado os (seus) filhos que lhes enobreceram a História.

Muito me entristeceu a partida da Dona Amália.

Muito me entristeceu a partida de Eusébio.

De igual modo me entristeceu a partida de Carlos Paredes.

E de Zeca Afonso.

E também de José Saramago.

Mas os arautos da ditosa pátria assim não entendem. Nem tão pouco os meios de comunicação.

Parece que medem o choro, a lágrima e o discurso pelos números das multidões.

Não desejo mal nenhum ao cantor, mas caso, o Toni Carreira se finasse, isso é que seria o país parado de bandeira a meia haste para aí mais de quinze dias.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ano novo

O calendário muda num mero número, e é tudo a dizer que este ano vai ser assim, e assado, que vai haver dieta, que este ano é que é, que se vai mudar de vida, de rumo. Uns que vão deixar de fumar, ou de beber. Ou começar... 

Somos (quase) todos donos dos mesmos inúteis e fúteis clichées nesta época. No Natal usa-se muito o amor, muita prenda, muita comida na mesa, muita solidariedade com os pobrezinhos, e com as causas. Arredonda-se no supermercado e fica-se com aquela sensação do dever cumprido. 
Na passagem de ano, outra vez muita comida na mesa, muita bebida com muitas borbulhas, muitos votos de um bom novo ano, como se isso fosse possível, bastando o vislumbre de que afinal nada vai mudar nas cadeiras que nos sorvem os parcos tostões. 

Nem me posso queixar do ano que passou. Tive saúde, progressos mesmo que ligeiros na área de trabalho, a música foi-se celebrando, apurei o gosto ao hobby da fotografia, e nos recantos do recato, os tais do foro íntimo, aqueles que todos devemos omitir publicamente, dado que existem fronteiras que só  a nós dizem respeito (e esse nós, deve ler-se - par) o ano foi de feliz constatação das certezas.

Não havendo bela sem senão, e porque o calendário é importante. Por vezes implacável, aponto hoje datas no calendário do "ano novo" que não queria de todo marcar. De ressaca, fica-me uma diminuta consolação.

No restante, as circunstâncias determinarão a que mudanças me proporei, por vontade, e por possibilidade. Tudo me indica que a navegação à vista é a norma aplicável. Porque cada vez faz mais sentido aquela frase que diz: quando penso que sei todas as respostas, vem a vida e troca-me todas as perguntas. Uma verdade que muito limita o plano e o sonho. Por isso nos devemos reservar ao direito de encarar com o mesmo sentir, o vislumbre da mudança, e também, o de não mexer uma palha. Porque na navegação, todos sabemos, o vento pude mudar a qualquer instante.