sábado, 16 de janeiro de 2010

Nostalgias IV




Rua de Arroios, chego a casa dos meus avós, e diz-me a minha avó, não disfarçando a alegria e o orgulho - o teu pai tem uma surpresa para ti. Chegou-me à janela do primeiro andar, disse-me - olha ali. Olhei e vi os carros estacionados. O quê, avó, perguntei. Aquele verde, é do teu pai, foi buscá-lo ontem ao stand. Orgulhosa mirava-me. Estávamos no ano de 1965, e embora não fosse um espada aquele Opel Rekord, usado, mas em excelente estado, curiosamente da cor do navio onde navegava o meu avô, fez as delícias dos passeios de família, aos fins de semana, em deslocações mirabolantes, a Carcavelos, Parede, Cascais, Costa da Caparica, e até Setúbal, imagine-se. Frequentes eram os passeios ao aeroporto, ao Monsanto e ao cais de Alcântara.
O Opel era espaçoso, levava três pessoas à frente e três atrás, e tinha 3 velocidades comandadas ao volante, o tablier era o meu fascínio, bem como a estonteante velocidade de 80 Km/hora, que o meu pai raramente atingia em laivos de Fangio. O Opel poucos problemas nos deu, na sua permanência na família, até ser trocado anos mais tarde por um vigoroso Ford Cortina, a pane mais chatinha foi em 1966, na inauguração da então Ponte Salazar, em que o Opel nada habituado ao pára-arranca, aqueceu em pleno tabuleiro, mas não admira, pois afinal, aquele foi talvez o único engarrafamento da década. LC-75-30 era a sua matrícula. Muitos anos mais tarde vi um carro destes a andar, em Havana, mas não era o nosso. Tinha outro cheiro, e um aspecto desmazelado.


1 comentário:

  1. Essa coisa do cheiro, tem um valor enorme. Digo eu, sensível a eles até mais não...

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Sputnickadelas