terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Tudo se transforma


Existem encontros estranhos, no mínimo, que mesmo não sendo estranhos mexem cá dentro, porque nos levam a outros tempos, outras idades, e despontam um misto de sentimentos, de nostalgia, saudade, diversão, consciência dos factos e suas realidades expostas.
Conheço a D desde menina, fomos vizinhos durante muitos anos. Na idade das festas de garagem, que muitas vezes eram na casa de quem tivesse os pais ausentes, a D era uma presença constante e uma das meninas mais requisitadas para dançar os slows graças à sua beleza, formas perfeitas, e pelo modo como se encaixava no par eleito. Mais tarde, em anos loucos de muitos decibéis, muitos gin’s tónicos, e muita adrenalina, rumámos juntos, ou não, ao 2001, ao Seagull, ou ao Belle Epoque, locais onde a D, mesmo sem ser exibida, dava nas vistas graças aos atributos que a mãe natureza lhe concedeu, que nos seus vinte e tais aninhos, incendiavam a rapaziada.
Um dia a D, apaixona-se mais a sério, casa e emigra. Nem rasto dela desde então.
Até que ontem, numa loja de sapatos, uma desconhecida me toca no ombro, e me diz – és mesmo tu!!! Mas estás mais gordo, pá. Em vão, tento acelerar as minhas células cinzentas, para que naquela fracção de segundo me dissessem quem era afinal aquela mulher gorda, enrugada, de cabelos pintados, de cara muito pintada, roupa justa de trinta num corpo talhado a direito de cinquenta, mas cuja voz me era familiar, embora com um ligeiro sotaque afrancesado. Atiro timidamente com um – tu também estás diferente. São os anos, pá, responde a D, e continua, então o que é feito, ainda tocas? Como está o teu pessoal? E neste metralhar de perguntas, descubro nos olhos esborratados da mulher, aquela que foi a D dos anos 80. O reencontro foi curto, com duas bicas pelo meio, as novidades boas e más foram o tema de conversa, bem como saboreámos as recordações do passado com umas boas gargalhadas, e no final, deixamos a promessa de não perdermos o contacto, bem como recebi um convite para ir a Geneve, pois a minha amiga D, que veio passar o Natal com os pais, tão depressa não voltará aqui. De rescaldo, fiquei a pensar como a natureza pode ser tão bela que transforma a lagarta em borboleta, como tão cruel ao transformar a tão perfeita D de outrora, na pessoa de hoje...
Hoje, não dançaria com ela o Wish you were here, talvez o Because porque é pequenino.

4 comentários:

  1. Prefiro dizer como a Agustina Bessa Luís: "Não tenho idade, tenho tempo."

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  2. Já deixei um sorriso no outro. Mas tenho de deixar outro aqui:):) Pela frontalidade e simplicidade dos Homens. Como vos invejo...

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  3. LOL gostei dessa do «talvez o Because porque é pequenino» lolololol muito bom.

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  4. AH! E toda a gente muda pá! Ou tu pensas que estás na mesma?!!

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Sputnickadelas