terça-feira, 27 de julho de 2010

vão-se os anéis...

... ficam os dedos, dizia-se.
Hoje, podemos actualizar o ditado com variantes, tipo, ficam os dedos e as fotografias das férias, ou ficam os dedos e o lcd e o frigorífico, ou ainda, ficam os dedos, e o carrito à porta pelo menos por mais dois meses.
A notícia recente de que os portugueses estão a vender o seu ouro ao desbarato, nas lojas que poliferam por aí, anunciando a compra de ouro, revela um pouco o espelho do enorme buraco onde estamos metidos, bem como da desesperada, e em muitos casos, derradeira tentativa do pessoal manter as aparências.
Todos sabemos como tradicionalmente esse ouro vem parar às mãos das famílias. Vem dos nossos pais, que o receberam dos nossos avós, que certamente o receberam dos seus pais. Dos meus avós me foram passadas pequenas jóias, de beleza e estima, com muito mais valor do que a cotação do quilate. Imagino, porque os meus avós eram do povo, e o povo não tinha acesso aos bancos, que as suas parcas economias eram investidas no ouro.
Tristes tempos estes em que por necessidade, ou vaidade, se derrete muito mais que o valor de uns dias a banhos. Derrete-se parte do passado das pessoas, assim como quem queima uma fotografia, queima mais que quem lá está - queima os momentos, as memórias, e o respeito.

2 comentários:

  1. Porque nos dias de hoje vive-se assim no supérfulo. As origens desvalorizam-se, quase parecendo que nada nos deram, quando nos deram tudo. E o ouro dos avós ainda é o ouro dos avós, que pela minha parte muito estimo o que me resta, que nem é muito, foi-me roubado, há bem pouco tempo, da casa da minha mãe. Mas há quem esqueça as origens de forma ainda pior. Coisas, enfim.

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  2. Bom, resta-nos saber se esses desesperados que andam a vender o ouro a quem se aproveita, e bem, de crises como esta, não o vendem por não terem de comer...

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Sputnickadelas