quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Velhos são os trapos

É cedo ainda, nem oito e meia da manhã, e o telefone aqui do escritório toca, já não vou a tempo de o atender, e preocupado ligo de volta, já com aquele pensamento de que aconteceu algo de grave. São tendências. Um telefonema em horas não oficiais cheira sempre a desgraça, mas não era nada disso.
Depois de tranquilizado, a minha interlocutora, que por sinal é a minha mãe, desenrola o novelo - liguei-te agora, porque depois já não te apanho, e queria perguntar-se se gostaste da entrevista do Sousa Tavares, e continuando, recodsou quando haviam entrevistas a sério, da Maria Elisa, e da Margarida Marante, como por exemplo, ao Álvaro Cunhal, e lembrou detalhes, e chamou o Miguel de frouxo ou achou-o comprado, e depois falou-me de outros debates televisivos de painel político, dos nomes, dos escândalos, da desgraça na Madeira, que ela conheceu tão bem, e depois falou das obras que pretende fazer lá em casa, e das amigas, dos chás e cafés que com elas debica, e depois, da Marsha, que é uma companhia incansável, e da previsão do tempo que vai se agravar, redobrando os conselhos do agasalha-te bem, e afins, e tudo isto em rajada, pois conhecedora dos meus horários, sabe as voltas que dou antes do início laboral, e para mais, tem um compromisso e não pode estar mais tempo ao telefone...
Não tenho dúvidas que, se à minha mãe, as pernas não a tivessem traído, andaria por aí a fazer os seus passeios de turismo histórico que tanto gostava; e se a visão não se tivesse parcialmente toldado, em vez das centenas das livros que lhe conheço, ela teria outras tantas centenas, e claro, seria uma navegadora assídua da internet. Energia pura. That's my mum'.
E eu para aqui a lamentar-me que estou a ficar velho...

2 comentários:

  1. Para além de tudo o resto, também nos ensinam isso mesmo. Que os tais dos velho, só mesmo os trapos. O resto? O resto é conquista, sabedoria, experiência, vida, e por ai fora...

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Sputnickadelas