sábado, 13 de fevereiro de 2010

Escutado ao acaso


Ontem, em conversa de restaurante, não pude deixar de escutar isto - eu que sempre fui fiel ao gajo, e olha que oportunidades e vontade não me faltaram... e lá continuou ela, para a amiga naquele desenrolar de auto-louvor à sua castidade para com, suponho, um ex- qualquer coisa.
A conversa era entre mulheres, mas podia ser entre homens, que não difere nada, sobre os conceitos, pelo que coloco aqui umas quantas observações, sobre o plano da fidelidade invocada nestes termos, se é que o termo se enquadra neste quadro - se ela teve vontade porque não o fez? e se não o fez, tendo vontade, o que a impediu? quais os verdadeiros sentimentos que nutria pelo dito-cujo, já que não lhe faltou a vontade?
Acredito que quem age deste modo, de ser fiel por obrigação, não ama no verdadeiro sentido da palavra, pois age na segunda intenção, negoceia afinal dentro da relação. Se se ama, não se coloca sequer a hipótese de traír, já que a cara-metade preenche todos os cantinhos afectivos e não só.
Ter a oportunidade e a vontade de trair outra pessoa, de certo modo prenuncia a vontade, que por sua vez dará lugar à criação das oportunidades. Existe por isso uma intenção latende, e de boas intenções, está o inferno cheio.
...
Tive pena de não poder cuscar mais um bocado da conversa, mas deduzo que o dito, o ex, teve a vontade, criou a oportunidade, e concluiu a intenção...Diz-se que nestas coisas os homens são mais práticos. Será?

4 comentários:

  1. Quem leva a vida ao sabor das vontades, leia-se das vontades pontuais, acaba por não tirar dela grande coisa. A vida, e o amor, também são feitos de assumpção. Assumpção das promessas, da palavra que se deu.
    A não ser que essa vontade seja algo mais do que isso, não creio que valha a pena deitar a perder construções, por ela...

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  2. Eu até me estava aqui a esticar nas palavras sobre este assunto. Mas decidi apagar tudo, pelo simples facto de que se há algo que não controlamos são os sentimentos, sejam eles quais forem, podemos aprender a não exprimi-los , mas não conseguimos não os sentir. Assim sendo, não há nada mais puro do que aquilo que se sente, seja amor, ódio, raiva inveja, prazer, tristeza, melancolia. Tal como se sente o doce, o salgado o amargo...
    E se é verdade que quando estamos com uma pessoa e a amamos será também verdade que apenas podemos amar uma pessoa? O que é o amor? Amamos a pessoa, ou aquilo que ela é (o conjunto de todas as qualidades, defeitos e outros)? E se amamos aquilo que a pessoa é, nao podemos amar outras pessoas por aquilo que elas são na mesma medida mas em diferentes ângulos? (retiro aqui as relações pais-filhos e vice-versa).
    E fará parte do ser humano ser monogamico?
    As leis foram escritas pelos homens, para dar ordem aos caos que existiria sem elas. A convivência em sociedade exige que existam tais regulamentos e temos que nos reger por fios condutores. Um deles é jurar ser fiel e leal...aos outros. Mas e seremos sempre fiéis a nós próprios?
    O que acho é que devemos é deixar bem claro na relação tudo o que somos, o que pensamos, como é a nossa forma de estar na vida.
    Claro que acredito que quando tudo está bem, não há necessidade, vontade, disponibilidade para mais nada. Mas será que em 10, 20, 30, 40...anos de um relacionamento, está sempre tudo bem? Nao se sentirá nada por mais ninguém? Amor, atracção, identificação....
    Olhem nem sei...que atire a primeira pedra quem sempre foi fiel a si próprio e aos outros....(e acabei por me esticar nas palavras na mesma)
    :)

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  3. Sputnick, que assunto delicado. No que me toca, nunca fui infiel a ninguém, e julgo que não seria. Por uma questão de principio, até para comigo mesma. De qualquer forma, julgo que a necessidade de infidelidades, denota, por si só, algo de errado na relação. Porque infidelidade, para mim, não é um olhar mais intenso, ou um reparo na beleza de alguém. É algo mais profundo e com maior carga emocional. Se perdoaria a quem me fizesse? Não sei, mas não me pareceria fácil. Para mim, é sempre mais nobre assumir um desinteresse, uma fase menos boa, um afastamento, do que esconder a cabeça, e andar à deriva. Mas isso sou eu, que sou do mais frontal que existe, e também gosto dessa postura para comigo. Mas existe quem não prefira... Ai Sputnick, que raio de tema para o fim de semana do nosso Valentim...

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Sputnickadelas