sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Elos

Primeiro começa por ser, como outros, parceiro comercial, coisa que começou há mais de vinte anos. Tal como os jogadores de futebol, foi mudando de camisola, mas sempre a jogar na mesma modalidade. Com as rotinas de trabalho, foi crescendo uma amizade, reforçada, em almoços, que se cumprem sempre, e religiosamente a cada segunda-feira. A proximidade da idade, e a rotinal laboral, tornou-nos mais que parceiros de trabalho, amigos, que entre tabelas e negócios, vão partilhando momentos, os problemas dos filhos, as alegrias, as intrigas do ramo, a política, o futebol, algumas pequenas confidências. Há poucos meses uma subida brusca de tensão arterial levou-o de urgência para o hospital. Dieta aqui, exercício ali, lá foi recuperando, perdendo uns quilitos, mantendo o almoço das segundas. Hoje ligou-me, a dizer que na próxima não pode vir - há que fazer uma cirurgia, ao que parece, urgente. Esforço-me por dar força a quem se esforça por se manter aparentemente forte, tentando disfarçar o medo, que é também o meu medo. E revejo-me nele, no meu amigo, hoje um , amanhã, quem sabe, o outro. Segunda-feira o almoço não será como tem sido, nestes tantos anos, porque, nada é para sempre.
...
"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida...mas é delicioso que eu saiba e sinta que eu os adoro, embora não declare e os procure sempre..."

Vinicius de Moraes

1 comentário:

  1. :( Hoje o sorriso é triste. Só uma coisa. Isso que dizes, do fazer de forte, é de facto algo exterior. O ombro amigo faz falta aos fortes. Tanto como aos fracos. Olha que sei o que digo...

    ResponderEliminar

Sputnickadelas