quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Diferenças


Acaba de chegar, a minha vizinha aqui do lado, vinda de uma viagem que lhe levou umas 20 horas, entre voos e transfers. Sabedora da minha taradice, por tudo o que são violas, presenteou-me com duas magníficas miniaturas do meu instrumento de culto. Depois foi aquele tagarelar de quem esteve umas semanas na terra natal, uma das antes ostentadas colónias do nosso Império Ultramarino, que os chineses, e muito bem decidiram (re)tomar como deles, Macau. Chegam mais visitas, mais vizinhos, a casa enche, tudo opina, tudo evacua a sua posta de pescada. De todos os relatos e descrições, o pessoal reunido, foi tomando a consciência de que nós estamos aqui no rectângulo, muito observadores apenas do próprio umbigo, e há que cada vez mais entender, ou no mínimo respeitar outros modos de viver, de estar, de crer, de contar, de escrever, de comer...e suma, tudo. Muitos tacanhos estão convencidos de que as nossas (lusas) verdades é que são As Verdades, e que tudo o resto não é a verdade, não estando Certo, portanto. Erro crasso de quem pensa assim, erro grande de quem não arrisca a olhar para além do horizonte. Tolinhos os que não encaram no mínimo que em vez do seu Senhor, pode haver um Buda, ou que o Ano Novo não começa, como sempre lhes disseram, em 1 de Janeiro. E pior, que riem, aquele risinho de desdém.
Debatia-se pois, por aqui, uma ténue tertúlia sobre as diferenças, e semelhanças, numa vã tentativa de unanimidade e blá, blá,blá, e eis que a minha vizinha deitou por terra as esperanças de alguns presentes:
-Então O, e o teu filho, está bem? Já é pai?
-Não. O filho caiu.
-Caiu?? Como caiu?
-Caiu com um mês. A minha nora não tem força, só quer ser magra.
-E daí?
-Mulher fraca, no baby, deixa cair todos. O meu filho já lhe disse - ou ela come para ficar forte, e não deixar cair mais bebés, ou ele vai ter um filho com uma mulher forte, na China. Porque de Macau, não pode.
-Mas... isso é assim?
-Porque não?
Ora toma. Presentes no bolso, e cada um para o seu castelo.
...
As violinhas já estão em local de honra, agora vou subir ao aposento de repouso, e meditar sobre aquela coisa do, todos diferentes, todos iguais.

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Sputnickadelas