segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Variações, do António

Partilhei palcos com muita gente. Não vou aqui enunciar, com quem, pois podia soar a pedantismo, o que não pretendo de forma alguma.


Um dos palcos, foi com o António Variações. Em palco, ou bastidores, os grandes nomes, não falavam comigo, mandavam falar, delinear o alinhamento e horário, e outros acertos, sempre necessários ao bom desenrolar do espectáculo. Impunham.


Nessa noite, quem veio combinar horários, quem entra e sai, e quando, não foi nenhum elemento do staff ou da banda. Foi o próprio António. De uma simpatia e educação irrepreensível, de um anti-vedetismo extremo, o António, se já me conquistara com os suas actualíssimas letras, em acordes simples, conquistou-me como ser, Humano. Não houve imposição. Foi em 1983.


Hoje, quase em 2010, tem tudo a ver com a nova consciência in celebrar os 25 anos passados sobre a morte de António Variações, com a venda de um espólio de objectos tais como cassetes, boquilhas, fotos, roupas, adornos, rascunhos, e por aí fora. Terá, assim o presumo, um mediatismo de razoável dimensão, o leilão no CCB, onde figuras anónimas ou não, vão degladiar-se por adquirir este ou aquele vestígio do artista. Haverá lugar a discursos de gente que afirmará que sempre viu no António, o seu ídolo incontornável, outros afirmarão que desde a canção do "comprimido" detectaram o génio que se veio a comprovar mais tarde, enfim, haverá uma legião de seguidores "Variados" desde a primitiva. Uns terão desculpa, porque eram criancinhas na data, a de 25 atrás, e outros, não a terão, pois já tinham idade para comparecer na última homenagem ao homem que deu uma pedrada no charco do nosso recente desamordaçado Portugal. António tinha todos os atributos do provocador, do persona non grata, era excêntrico, teatral, homosexual, um quê de doido, irreverente, fora do padrão, vestia roupas que a ninguém lembrava, era cabeleireiro - chocava, portanto. Mas no entanto as suas músicas mexiam com o pessoal. As letras faziam pensar, e fácilmente todos se reviam nelas, embora não o assumissem. Um drama para esses fâs silenciosos. Identificavam-se com ele, mas ele era... esquisito...


Quem não está bem onde não está? Quem não deixa para amanhã o que pode fazer hoje? Quem nunca pensou em chegar ao pé de alguém e à laia de desafio dizer - há uma noite para passar?


Variações, é hoje reconhecido, bem como é explorada a sua imagem, mais que homenageada. De homenagens reconhecidas o António bem se pode queixar, pois o seu funeral foi votado ao mais completo desprezo. Não havia público, não haviam palmas, pouca imprensa, e indesculpável - não haviam, os Artistas. Todo o meio artístico virou a cara para o lado, como é um dos maus costumes de muito portuguesinho, que mais depressa defende causas por carneirismo, do que pela consciência do ser intrínseco.

Por mim, não vou comprar roupa do Variações ao CCB, mas que vou continuar a ouvi-lo e a cantá-lo, isso vou.
Porque, desde que o vi pela primeira vez, no programa "O Passeio dos Alegres", pensei - este gajo vai longe. O António, não foi muito longe, mas as músicas, tão cedo não serão esquecidas.
Também porque, sou ansioso, e por vezes me custe dominar o meu estado de ansiedade.



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