quinta-feira, 18 de março de 2010

Amen


Um dos flagelos que mais me aflige, me indigna, e me dá uma sensação de impotência perante a impunidade dos culpados, e a eterna marca deixada nas vítimas, é a questão da pedofilia.
Creio que, como muita gente, sempre soube desta aberração, mas foi com o caso Casa Pia, que tomei total consciência de que nunca saberemos a verdadeira dimensão, e a antiguidade deste drama, bem como creio que poucos dos arguidos venham a ser verdadeiramente punidos.
Com as recentes vindas a público, dos abusos cometidos por membros da igreja, constata-se que é nos locais mais insuspeitos, pela gente mais confiável, que tais actos são praticados. Repugna-me o até aqui, silêncio cobarde e manchado de culpa da igreja, que só agora vem dar um pouco da face, por via da exposição pública dos sucessivos relatos. Nojento. Repugna-me que venham pedir desculpas, que venham pedir perdão, que venham dizer que são pela verdade. Repugna-me imaginar que com meia dúzia mea culpa, e algumas tentativas de reparar uns poucos casos mais mediáticos, e a colocação de padres pedófilos na paróquia seguinte, os senhores da igreja lavem daí as suas mãos, tão já manchadas por muita barbaridades cometidas, acomodados e intocáveis que se sentem, em nome da religião que fingem defender.
Às crianças mutiladas, não haverá pedido de desculpa, nem indeminização ou outra forma de tentativa de reparação pelos actos cometidos, que lhes venha a valer. Ficarão irremediávelmente marcados.
Aos pedófilos, não haverá castigo exemplar, tal como sería legítimo haver, pois os seus actos não merecem tolerância. Mas ficarão impunes. Afastados. Recolocados, depois da poeira acenter.
Bem pode a igreja deste mundo lavar-se em água benta, que nunca conseguirá livrar-se da culpa que sempre carregará, pela sua responsabilidade directa. Que alguém os absova. Eu não.

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Sputnickadelas