sábado, 6 de março de 2010

7 de Março

Foi há 29 anos, era sábado, a fila de pais aglomerava-se à porta de entrada, para a última visita do dia, para às recém-mamãs e seus rebentos. Muitos deles, eu incluído, eram putos da minha idade, alguns outros, já com cara, fatiota, idade e pose de homem. Uns fumavam, devoravam os cigarros, ou o inverso, outros impacientes, outros ainda talvez mais batidos, serenos, mas todos tinham uma coisa em cumum, para além de serem pais recentes - carregavam flores, pacotes de bolos, um presente, revistas... e eu, meio atarantado naquela recente galáxia, de mãos a abanar. Valeu-me a pastelaria ali ao lado onde mandei embrulhar à pressa dois pastéis de nata. A fila andou e em passo apressado, a malta lá entrou na Alfredo da Costa.
Era um bebé perfeito, diziam-me, chegara com 3550 gramas, a enfermeira incita-me a pegar-lhe, do berço ao lado da mãe e colocá-lo nos seus braços. Muito atabalhoado, consigo pegar-lhe, como se fosse o ser mais frágil do mundo, receando que algo se quebrasse naquele momento, nunca tinha até ali segurado no colo, um recém-nascido. E este era o Meu. Senti-lhe para além do cheiro, e as formas, estabeleceu-se naquele primeiro contacto, uma espécie de elo, de sêlo, de ligação, nesse momento tornei-me responsável por ele, afinal eu era responsável pela sua vida a este mundo. Exupery escreve que nos tornamos responsáveis por aquilo que cativamos, e eu acrescento, que também por aqueles que criamos. Um filho é da nossa responsabilidade, e nunca de terceiros. Isso sente-se por instinto.
Há 29 anos o dia terminou assim, com esse momento único de pegar no meu filho e colocá-lo nos braços da jovem mãe. Para trás ficara um dia atribulado, recheado de peripécias, entre as quais, a falsa informação de uma enfermeira, subornada com uma nota de 100 escudos, pela santa sogra, para que em primeira mão, e antes do registo oficial, se soubesse se já houvera nascido, e se era menino ou menina. O resultado é que a dita, se abotoou com a nota de cem, e despachou a coisa dizendo que era uma menina. Mas não era. Nasceu um menino, e quatro horas mais tarde. O resultado é que da euforia da notícia dada pela cabine telefónica, muita gente que mais tarde visitou o bebé, carregava roupinha em tons de rosa, no embrulho. Foi há 29 anos, mas parece-me que foi ontem.

4 comentários:

  1. Parabéns Spunick. Porque se há dias grandes, o nascimento de um filho é um deles. O maior de todos, diria. Que estejam felizes. Muito :):):)

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  2. Pois é verdade!!!! Foi um ano depois e um dia antes :):)!! Parabéns!!! :):):) Ao R. e aos pais do R. :)(especialmente à mãe que foi quem fez força. Que a vida lhe sorria sempre :) Beijos

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  3. obrigada pela tua visita à historia de Alice

    bj
    teresa

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  4. Parabénsssssssssssssss

    assim um bocado para o atrasado...mas mais vale tarde que nunca, já se diz...

    :)

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