segunda-feira, 18 de abril de 2011

os ricos, os pobres e outros


Ainda não tinha, até ontem, tomado contacto com a nova e chique Troia. Decido-me ir pela via marítima, onde na espera do embarque, somos, os viajantes, abordados por mais de uma dezena de bem vestidos rapazes de etnia, que nas suas mãos carregam imitações de óculos das melhores marcas, e de telemóveis topo de gama, e em insistentes incursões tentam impingir a mercadoria. Chegado o momento do embarque, não deixo de rir ao ler o aviso afixado na área - proibida a venda ambulante. Pensei em grafitar - excepto contrafacção - mas lá segui obedientemente o carro da frente.

A nova Troia, não é para o meu dente. A forma como tudo foi desenhado, com gosto, diga-se, não me convida a ficar-me por ali, a não ser na busca da praia, que como sempre magnífica, me apela ao mergulho no azul, a calanzar pela areia, e ao disfrute da vista da minha Arrábida ali mesmo em frente. Depois foi rumar a sul, a uma Comporta mais democrática do que aquele pedaço de Troia, que tal como Vilamoura, está desenhada para os ricos. Aquele tipo de ricos que são por minha definição, gente que não sorri, de ar enfadado, trajados ao rigor do momento, e que nos olham, se os olhamos, com aquele ar de - xô, vai-te embora. De fora ficam os pobres, os simples, que por enquanto ainda podem ter acesso público às praias. Creio ser este um retrato de um futuro que não nos abandonará nas próximas décadas. O fosso. Entre os que têm muito, e dos que não têm quase nada. Quanto aos outros, aquela dezena aparentemente invisível às autoridades, talvez se vislumbre uma mudança de ramo - dos óculos e telemóveis, quem sabe latas de conserva, porque ao aumento da crise se sucede a procura de tudo o se possa comprar mais em conta com os euritos que sobrarem.

Contudo, ficou-me a vontade de num futuro próximo rumar à rica Troia, e em cima da minha bicla, trajado a rigor, de óculos verdadeiros, vasculhar aquilo tudo, e claro de sorriso de orelha a orelha, o que decerto me denunciará.

2 comentários:

  1. Mas Troia continua linda! Não sou rica, mas tenho tudo, o céu azul para vaguear o olhar, o mar azulão para mergulhar, a areia fina e branca para deliciar os pés, o vento e o ar para me encher os pulmões, e isso nunca ninguem me vai tirar. Beijo.

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  2. Pois é Rosa, Troia sempre será linda. Só espero que livre também. que as suas praias continuem de livre acesso. Bjs.

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Sputnickadelas