quarta-feira, 20 de outubro de 2010

novas saídas

Na hora do meu cházinho matinal, no balcão, estou de costas para elas que se lastimam, à mesa, uma, que até aquele prazer de tomar o pequeno almoço na rua vai ter de acabar, a outra que prefere cortar nas refeições em casa e nos remédios, do que perder a sua bica e os dedos de conversa. Nos filhos de ambas, eles na casa dos quarenta, mora o desalento - o desemprego, salva-se um que é da função pública, mas está também empenhado até à pontinha dos cabelos. Remata uma, que as poupanças dela já há muito se foram, nas sucessivas tentativas de tapar os buracos dos filhos, e que agora o T, o filho mais velho está em desespero, pois acaba-se-lhe este mês o subsídio de desemprego, e receia a mãe que este cumpra a promessa que vem proferindo - se se vir sem saída, deita fogo ao carro e à casa, para os bancos não se ficarem a rir, e depois mata-se. Perante a angustiada e impotente mãe, responde-lhe a outra, também mãe de coração apertado - descanse, que quando eles dizem que se matam, nunca o fazem.
Será? Pensei, enquanto esperava o chá arrefecer.

2 comentários:

  1. Não, não será. Ainda assim, que aí o seja...

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  2. Não, não é assim, tenho pena dessas pessoas, muitas vezes o desespero leva gestos dramaticos, e é depois que vem arrependimento das familias, que se perguntam porque é que não deram ouvidos a esses pedidos silenciosos de socorro...

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