quarta-feira, 22 de setembro de 2010

New LooK - lá no bairro

O local, uma pacata rua de moradias, era calmo, quando a D foi para lá morar, junto com os seus dois filhos, e calmo ficou, com aqueles novos vizinhos. Estranhavam as mulheres da vizinhança, àvidas que sempre são, de se certificarem do cadastro alheio, a ausência de marido, ou companheiro que tardava, não aparecia. A D, não dirigia mais que o formal bom dia, fechando qualquer tentativa de invasão cusqueira. Porém, enfim, alguém que conhecia alguém que conhecia a D, desvendou o mistério, meses mais tarde. A D era viúva. Assunto esclarecido ao mulherio, prontamente divulgado nas reuniões de mini-mercado, ida à bica, ou vazar o lixo.
Aos homens da vizinhança, D passou despercebida, baixa, magra, sem appeal que se visse, D mostrava-se raramente, na sua cinza permanência, aos olhos dos machos locais.
Uns dias houveram, mais de um mês, assegura a atenta vizinha da frente, em que da D, e do seu carro cinza, não houve notícia. Mais um mistério portanto. Maior, na medida em que os filhos permaneciam em casa, sem aparente drama. Intrigadas andaram, até que de uma noite para o dia, o carro voltou. E lá de dentro sai uma borboleta, em todo o seu explendor, a C largara as roupas cinzas, cortara o cabelo, talvez tivesse ganhado formas nunca até então adivinhadas, vestia jovem, e justa, e mantendo o bom dia, apenas sorria. Da clausura, a C passou a partilhar um pouco mais a rua, o seu jardim, passeando de aqui a ali, para grande preocupação do mulherio residente nas redondezas, que já rosna - desavergonhada, uma viúva, vestir-se assim - entre dentes. Contentes estão os vizinhos, hoje é vê-los a despejar o lixo, a limpar o carro a toda a hora, a jardinar pelos seus canteiros, pois nunca se sabe a que horas se exibe a D, por aquelas bandas. Fala-se que a D costuma observá-los no recato das suas cortinas, mas não se sabe ao certo. Certo mesmo é que a D tem um corpinho violino, e a rua ganhou mais vida.


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Sputnickadelas