segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Bruna

Longe vão os tempos da minha idade das borbulhas, e outras erupções, que a natureza trata de facultar naquela transição entre o infantil e o adolescente, em que se desperta para outros caminhos, em que a inocência passa à curiosidade e busca de outros interesses para além dos Legos, dos piões e dos bilas. Nessa fase, e naquele tempo, cada oportunidade de vislumbrar um pedacinho de nudez, era aproveitada ao limite, e valia de tudo, desde espiar os balneários das miúdas, nas aulas de ginástica, ou ficarmos em locais estratégicos em escadas, para observar o que as saias deixavam ver. Muito às escondidas, eram fanados os livros do Vilhena, aos pais daqueles que os compravam, em algum recanto da escola. Era a pornografia desenhada. Sorte grande tiveram os alunos do meu terceiro ano do Liceu, que apanharam aquela stora de inglês, que, consciente do efeito que provocava em nós, amordaçados projectos de homem, ao traçar as suas pernas, quando sentada na secretária, exibindo uma generosa área de alva pele, muito para cima do joelho, deixando doidinhos cada um de nós, quando chamados ao quadro. Era o erotismo a que se tinha direito. Não haviam revistas eróticas, e se as houvesse, duvido que se vendessem aos putos. Não havia VHS, e muito menos DVD, e acima de tudo não havia - google. Ao que parece, o pessoal preocupa-se com a nudez da Bruna, e ao que parece ninguém quer saber se ela é competente como docente. Ao que parece não consta que a Bruna tenha atentado contra o pudor no exercício das suas funções. Se as pessoas, neste Portugal, de Nossa Senhora de Fátima, e tal e tal, estão preocupadas que os meninos vejam os dotes (e muito bons dotes, diga-se) da Bruna, e por conseguinte, outros dotes, de outras Brunas que existem por aí, há que agir em conformidade. Pelo que seguindo esta tão puritana atitude, haveria de ter que se fazer uma total razia, nos actuais meios ao dispor da criançada, leia-se os telemóveis, e a internet, pois os ditos dotes, estão à distância de um clique no google. Desenganem-se todos aqueles que dizem - o meu menino não faria isso, não senhor. Fazem sim, e desenvolvem mecanismos e cumplicidades de ocultação e defesa. Contudo creio que dada a facilidade com que tudo se nos depara, as novas gerações embora não ficando indiferentes ao erotismo, não lhe darão mais que alguma importância. Lá diz o ditado - o fruto proibido...
Quanto à Bruna, tem de palminhar a calçada, e lembrar-se que o 25 de Abril afinal, não foi aquela coisa da liberdade. E acima de tudo ter em conta mais outro ditado - aquele sobre a mulher de César.

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