quinta-feira, 27 de maio de 2010

back stage


Há meia dúzia de anos tive um saudável reencontro, alunos da mesma escola primária, reviram-se num numa espécie de lanche ajantarado. Acente que foi a poeira dos mega-projectos de viajens e eventos que nunca se chegaram a realizar, resultou um núcleo duro - eu, a Antígona, e o sabes quem sou, mantemos uma saudável e saborosa ligação, não dispensando uns jantarinhos a três, que, vez ou outra se fazem. Foi um bom regresso.
Ontem foi noite de mais um regresso. Num bar da Almada Velha, onde toquei em tempos, revejo pessoas que já nem lembrava. Caras, nomes, episódios, tudo foi jogado ali para cima da mesa, com uma alegria nostalgica, e aquele brilhozinho nos olhos de todos a cada memória que vinha ao de cima. Muito daquele pessoal fez escola. Sem que se saiba, no maior anonimato, longe das ribaltas, e sem qualquer motivo mais que a proximidade geográfica da nossa sala de ensaios de então, às primeiras exibições ao público que fomos ensaiando, antes de voos maiores, no bairro do Alfeite, criou-se uma legião de putos que a princípio só queriam estar lá, a ligar os cabos, a montar a bateria, a mudar as cordas, a zelar para que não faltassem as águas e as Sagres no palco, e acima de tudo, queriam esses putos, ir para a estrada. E foram. E muitos deles tornaram-se verdadeiros profissionais, da sombra, qual enfermeiro que apoia o médico, mas nunca aparece no final da obra. Dali saiu pessoal, os roadies , aos quais chamávamos pretos , e até os road manegers , para grupos como Madrdeus ou Trovante, por exemplo.
Eram aqueles putos que saiam da sala de ensaios na 5ª à noite, após o ensaio, se faziam à estrada, dormiam por cima do equipamento, no camião, rumo a Aveiro, para que na 6ªa, tudo estivesse pronto, para o ensaio de som, depois era o concerto, lá estavam eles, atentos, e depois era desmontar tudo, e dormir estrada fora, até ao Rossio ao Sul do Tejo, e repetir tudo de novo, para que no dia seguinte tudo estivesse a postos em Beja. Enquanto os músicos se regalavam em bons hoteis, e carros Avis, os pretos lá vinham todos rotos para Almada, mas felizes. E no próximo ensaio lá estavam eles, a ouvir, sem que para isso fossem contratados.
Ontem foi noite de os rever. Os planos estão por lá. Não faço ideia de quais são. Pediram-me apenas para tocar, quando for chamado. Assim farei. E agradecer. Da forma que sei. Tocar para eles.

1 comentário:

  1. Pena é que os "músicos", não saibam dar o devido valor a quem dá tudo por tudo, para que as coisas corram bem.
    :):)

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Sputnickadelas