sábado, 6 de agosto de 2011

a ponte dos 3 nomes

A ponte faz hoje anos. 45. Há 45 anos que, a meio do dia, regressando da habitual cruzada de leva e trás soldados, gentes, e tudo o que mais se possa imaginar, o navio Império entrou na barra de Lisboa e atracou em Alcântara. Ao passar por baixo da ponte o tripulante Trindade, senhor meu avô, decidiu que após o jantar, a família se meteria toda dentro do Opel de 1959, e passaria pela ponte, já que, naquele dia, após a inauguração, o trajecto era de borla. E lá foi o clã Trindade, representado por mim, meus avós, e meu pai (contrariado) rumo á nova ponte. Creio que foi o primeiro engarrafamento que presenciei. Do cimo da ponte nem para a frente nem para trás. A Lisboa automobilística trocara os seus passeios pela Marginal, Monsanto, Aeroporto, Campo Grande e eteceteras, pela travessia da ponte. Adeus velhos ferrys do Cais do Sodré a Cacilhas, adeus longas filas de desespero para entrar num barco e partilhar o espaço com as carroças. Dali em diante os cromados dos calhambeques e dos espadas fariam os seus reflexos na Ponte, rumo ao desconhecido, lado de lá. Pouco habituado ao pára-arranca, o Opel fumegou justamente em cima do tabuleiro da Ponte. O capot aberto, o vapor do radiador a sair, a cara do meu pai, capaz de fazer asneira, para o meu avô com cara de não me ralo, e não dou o braço a torcer, o ar de pânico da minha avó, ali no meio daquela altitude toda, não mais me sairam da lembrança. Alma caridosa nos arranjou alguma água para o fervente radiador, e dada a volta ao centro-sul, conseguiu-se rumar a Arroiois sem mais contratempos. Assim foi, há 45 anos, na ponte que já se chamou Salazar, que hoje se chama de 25 de Abril, e à qual eu chamo de Ponte sobre o Tejo, por mais que os cinzentos me digam que foi Salazar quem a pagou, e a pronto-pagamento, ou que os vermelhos a reclamem a como sua , vá-se lá saber porquê. Sobre o Tejo eu sei que está, e essa verdade, é muito mais verdade do que as outras o são.

2 comentários:

  1. :):):):) Que bela história! Beijinhos

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  2. So dei por ela quando tinha 7 anos, num passeio que dei até ao Cristo-Rei e quando a vi achei-a linda, enorme e inatingivel . Hoje quando a atravesso continuo a vê-la com os mesmos olhos, e para mim continua bela e altiva. Beijo

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Sputnickadelas