sábado, 27 de agosto de 2011

frase da noite

A noite nem estava quente, corria uma brisa que aconselhava a uma camisolita, mas mesmo assim a esplanada encheu, e com a ajuda das sangrias que desceram à mesas, lá consegui animar a malta. Andava eu entre o Palma, o Veloso e os Xutos, quando um castiço na audiência me pede uns fadinhos. Vou logo avisando que não sou fadista mas a malta quer lá saber...lá me aventuro nos tradicionais, aqueles que toda a gente conhece o refrão e assim é exito garantido. No entanto, e já com a viola no saco, o castiço que estava entre o sóbrio e o embriagado, vulgo atravessado não parava de me dizer que a noite tinha sido quase perfeita, não fossem uns quantos poréns que tratou de me apontar, na qualidade anunciada de homem da noite do fado alfacinha - algumas falhas nas escolhas dos fados, que a viola não era de fado, que fado não é assim, sentado, mas de pé, e que o fado se canta sem microfone, e só faltou exigir-me um xaile e mão na anca. E assim levou o atravessado castiço mais de vinte minutos a encher-me a paciência até que me saiu esta eloquente resposta - meu caro amigo, a perfeição para mim começa no auto-reconhecimento das nossas capacidades e acima de tudo das nossas limitações, por isso lhe garanto uma coisa, por mais anos que eu viva nunca terei o dom para cantar o fado. E foi assim que, concordando em absoluto, e sem mais argumentos, o castiço me deixou da mão, e foi ao bar acabar de se atravessar, enquanto eu respirava de alívio.

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Sputnickadelas