quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Fado, Amália e a estranha forma de vida

Em tempos era considerado o Fado, boémio, marginal, coisa de gente de má laia. No regime da outra senhora, chamaram-lhe nacional-cançonetimo, os que depois da revolução dos cravos, o abordaram, ao Fado, com tentativas de o colocar na boca das massas. Escute-se o "novo fado alegre" ou o "fado da tristeza", cantados por Carlos do Carmo e Fernando Tordo, e por José Mário Branco, respectivamente. Deprimente era aquele fado do Tordo, o de Alcoentre. Mas, cada macaco no seu galho, e logo ali se quedaram as aspirações de esquerdizar ou revolucionar, o Fado. O Fado, é hoje, moda. Cai bem gostar-se de Fado, de gostar dos novos fadistas, alguns de verdadeira qualidade e sentido de tradição de uma linha, a do Fado, sem grandes desvios, sob pena de, este, o Fado, o deixar de ser. Passeia-se pelas zonas históricas de Lisboa, e escuta-se Fado, em cada pequena loja de souvenirs, lembranças, na lingua do Fado, Fado este, para estrangeiro ouvir, e acima de tudo, adquirir, nem que seja numa loja chinesa. Mas será que nós, os portugueses o sentimos? Afinal, nesta pátria destruída, devassada e despojada de valores, o Fado poderá ser o último bastião cultural que nos resta, dado que do restante, tudo é efémero, e carece de originalidade. O Fado é nosso, está-nos cá dentro, sentimo-lo como ninguém conseguirá senti-lo, por mais que se esforce. Na data em que perdemos quem tudo deu ao Fado, e lhe deu visibilidade nos quatro cantos mundo, faz todo o sentido dar um pouco de atenção ao nosso Fado, sem preconceitos ou maquilhagens. Fado apenas, simples e puro, porque todos nós, saibamos ou não, queiramos ou não, temos Amália na voz.

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