sexta-feira, 5 de abril de 2013

nostalgias - era tudo menos, e tão mais

Descubro o Rio Alva, que me embalou tantas vezes, entre Cacilhas e o Terreiro do Paço, com as suas gentes apressadas, não tanto como hoje, antes corria-se menos. Nas viagens os habituais e quase permanentes engraxadores, e vendedores de rebuçados, e os seus pregões gráaaaaxa e ólhóspaladares, animavam o trajecto. Eu ficava-me pelos "paladares" que embora enrolados em cores diferentes, sabiam todos ao mesmo. Parece que ainda lhes sinto o sabor, e aquele pegar nos dentes. Transporto-me à época em que os problemas existiam, mas eram menores: Menor, também eu era, de infância meio atribulada mas mesmo assim, de cara alegre. Tinha a vida toda pela frente, não obstante os fantasmas que me atormentavam, os pais separados, coisa que na época era rara, e me deixava sempre desconfortável, principalmente entre colegas de escola. O meu vai-vem nos cacilheiros, devia-se à separação, que me fazia andar de casa em casa. Mas havia o tecto protector que me amparava, e tudo se compunha, havia sempre uma avó de cada lado do rio, que me acalentava e aninhava. E a muralha de aço que era um avô, capaz de resolver todos os obstáculos. Vejo na foto do Rio Alva, bem lá no fundo, atracado em Alcântara, um navio da CNN, talvez fosse o barco do avô, aquele que tudo resolvia. Hoje, para onde quer me me vire, não encontro os meus ancestrais . Todos partiram. E a sensação de não ter nenhuma camada protectora, faz-me aquele friozinho no estômago, assim tipo gauleses com medo que o céu lhes caia em cima. E ainda há quem diga que não se viaja nas fotografias. Então não. Viaja-se e navega-se.

1 comentário:

  1. Tão bom se pudessemos ficar sempre meninos :) :) crescer é mesmo uma grande porcaria! :,/

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Sputnickadelas