segunda-feira, 2 de julho de 2012

a vida dos outros

Das voltas de bicicleta impostas para depois do jantar, na eterna cruzada de contrariar o ócio do sofá, do pc, ou da cama, dou comigo em rotas repetidas, as que são mais seguras, dado que à noite, se todos os gatos são pardos, também o são, os ciclistas. E porque os caminhos se repetem, também se repete a paisagem urbana. Já confirmei que a dado momento está um velhote à janela, mais à frente rega-se o jardim, as varandas, e as marquises sem cortinas deixam desvendar as gentes entre paredes, que parecem repetir-se nas tarefas. Decerto que destes observados, alguns me observam também, bem como decerto pensarão, ao ver-me pedalar - lá vem aquele gajo outra vez armado em ciclista. E lá vou eu, e lá ficam eles, cada qual com os seus pensamentos, e os seus poréns, na rodinha da repetição. Porque se o sol nasceu hoje, certamente nascerá amanhã, e não havendo mudança de planos, quando a lua sair, lá estarão eles nos seus postos e eu passarei por eles, a pedalar.

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Sputnickadelas