segunda-feira, 23 de julho de 2012

outros povos, outras ideias

Um ano após o massacre na Noruega, realizou-se no local onde ocorreu a tragédia, uma simples e singela homenagem. Pelo que pude observar, para além da simplicidade realçava a partilha do momento, no qual, todos, sem excepção comungaram o mesmo sentimento. Não pude deixar de fazer um exercício de imaginação: e se isto tivesse acontecido aqui? como seria esta homenagem? 

Se é certo que em qualquer lugar do planeta pode aparecer um terrorista, é também certo que o cenário seria radicalmente diferente. A primeira coisa que o nosso governo iria fazer, a fim de se auto-promover, seria mais uma obra com assinatura público-privada, quando maior e mais espampanante melhor, tudo em nome das vítimas. Um mausoléu se ergueria na ilha, construído à pressa, e ignorando as derrapagens financeiras, e outras prioridades nacionais.

Ao cabo de um ano, viriam os governantes em peso, e os seus assessores, e as forças da ordem, e as forças armadas, mas só gente de topo, cada um no seu carro preto, alemão, claro está. Haveriam discursos pomposos e enfadonhos, em vez de sinceros e sentidos depoimentos. Paulo Portas, anunciaria quem sabe, a compra de um porta-aviões à China, ou a construção de uma prisão à prova de bomba nuclear, para combater o terrorismo.

Em vez de canções belas e simples, num palco também ele simples, teríamos um aparatoso e monumental espectáculo, ao estilo rock in rio, com artistas pagos a preço de ouro, para virem cantar e chorar lágrimas de crocodilo. Portugal marcaria, pelo menos para consumo interno, e mais uma vez a diferença, pela mania das grandezas, dos compadrios e do oportunismo. Talvez a Fátima Lopes, ou a Catarina Furtado fossem convidadas a entrevistar um ou outro familiar das vítimas, porque a dor em directo também capta votos.

Faríamos a coisa em grande, como é do nosso hábito fazer obras e aquisições sem nexo, e fora de qualquer contexto útil, seríamos recordistas e ridículos como sempre, contrastando como sempre dos povos que em qualquer circunstância, se mostra adulto e humilde. Porque não tenho a mínima dúvida que na Noruega, não existem mega-estádios de futebol ao abandono, panzers a enferrujar, estradas, e auto-estradas vazias, e submarinos inúteis, pelas mesmas razões que os levou, ontem, a relembrar as suas vítimas, simplesmente.

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