sexta-feira, 20 de julho de 2012

Gritos Mudos

Creio não haver nada mais atroz do que a tomada de consciência de que, por via da doença implacável, se vai morrer em dias, meses, quando muito. Consciência essa que não larga o pensamento, de que tudo à volta se desmorona, e se olham as pessoas sempre com a sensação de ser a última. Bem como  na contemplação de tudo o que é belo redor, com o receio de que esse olhar seja o derradeiro. A sentença está dada, e a angustia da espera é do mesmo tamanho da alegria na conquista de mais um dia.

Esta traição da vida, presenciei-a em pessoas chegadas. Vi-as definhar dia a dia. Impotente nas palavras de ânimo ou conforto, dado que seria um insulto qualquer palavra acenando esperança, restava-nos o silêncio, e  quase certeza, de que aquele momento não se iria repetir.

A vida tem muitas formas de nos ser tirada. Quando não na doença, também pode ser reclamada aos pedaços, dia a dia, nas dificuldades que se nos deparam, tal como degraus que cada dia desses dias se vão transformando em muros. 

Não tenho a mínima dúvida de que a par da multidão que por via da doença aguarda o dia da sua partida. exista outra não menor multidão de gente, que assiste impotente e exausta ao definhar da sua vida, dia a dia, sem vislumbre de soluções ou alternativas.

Conta a História recente, das razias e massacres levadas a cabo pelos ditadores da época, que dizimaram milhares de pessoas. Contará a História futura de como gerações de governantes levaram ao desespero, com as piores consequencias, outros milhares de pessoas que, tal como aqueles cuja saúde lhes faltou, apenas queriam viver, com dignidade. 

1 comentário:

  1. (suspiro) é preciso encontrar alternativas e é preciso manter a força para o fazer e é preciso acreditar que somos capazes, e é preciso...

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