terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os Atrazados


Todos nós sentimos na pele, o efeito do atrazo. Os atrazos mais vulgares, direi até, institucionalizados, são os dos que de atrazados não têm nada, pois afinal eles são doutores. Agendar consulta num médico ou advogado, representa que temos obrigatóriamente de comparecer à hora marcada, sob pena de perdermos a vez. Cumprida a pontualidade, a nossa, os avisos das recepcionistas são previsíveis - o Doutor está muito atrazado, tem cinco pessoas à sua frente, o Doutor teve de atender... os delegados de propaganda médica.


Pior um pouco se necessitamos de determinado documento da complicada e burocrática máquina estatal. Um atrazo. De vida.


Estas pessoas que atrazam a nossa vida não são atrazadas. Elas são a personificação da falta de respeito, aos quais, eles, sentem que a podem aplicar impunemente. A educação e respeito pelos outros é limitada, parcial, tem uma escala de medida hierárquica. Todos os que nos tomam tempo indevido são pontualíssimos, mas desde que seja para interesse do próprio, ou se, com alguém hierarquicamente superior.


Sempre abominei os atrazos. Se me vou atrazar, a primeira atitude que tomo é a de avisar que vou chegar atrazado. É o mínimo que poderei fazer. Pois afinal estou a interferir no tempo dessa pessoa.
O relógio, embora possa ser um adorno, uma jóia, um objecto de colecção, é-o, em primeiro lugar, um relógio, logo, se usamos relógio, se nos regemos pelo sistema horário, se marcamos hora com alguém, faz sentido chegar na hora marcada. O contrário é que não faz sentido.


Pontualidade é respeito pelo próximo, mesmo sem relógio: Numa viajem que fiz ao Senegal, marquei encontro com um nativo de uma aldeia próxima do hotel, para a manhã do dia seguinte. A hora do encontro, segundo ele, seria quando o sol estivesse ali por cima daquela palmeira, e apontou a palmeira. No dia seguinta, à palmeira marcada, lá estava ele.

1 comentário:

Sputnickadelas