"Cavaco Silva anunciou a sua retirada política: que deixará a
presidência do PSD, depois do congresso do partido, e que não será candidato a
primeiro-ministro nas eleições legislativas em Outubro. Sobre a
eleição para a presidência da República, no ano que vem, não disse palavra. O
silêncio poderia significar que conservará essa carta de reserva, à espera de
que as circunstâncias venham a convertê-la em trunfo, mas o mais provável é ser
ele o refúgio que ainda resta a quem resiste a reconhecer o seu falhanço
político. Aliás, é duvidoso que depois da guerra de sucessão que vai principiar, com precários primeiros
vencedores e vencidos não resignados, um PSD dividido mal curado da longa
orfandade de Sá Carneiro, e agora sob o trauma de um abandono inesperado,
estivesse de humor pacífico para apresentar como seu candidato à presidência da
República alguém que, ou muito me engano, vais ser apontado como responsável de
todos os males presentes e futuros do partido. Nunca estimei este homem, mas confesso
que gostaria de conhecer o percurso mental, os movimentos de razão e de psique
que o levaram a tomar esta decisão. Caso singular: ao anunciar a sua retirada,
Cavaco Silva tornou-se num sujeito relativamente interessante…"
in Cadernos de Lanzarote - diário III - 24/01/1995
Saramago tinha quase sempre razão... :)
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