domingo, 7 de outubro de 2012

Saramago sempre certeiro




"Cavaco Silva anunciou a sua retirada política: que deixará a presidência do PSD, depois do congresso do partido, e que não será candidato a primeiro-ministro nas eleições legislativas em Outubro. Sobre a eleição para a presidência da República, no ano que vem, não disse palavra. O silêncio poderia significar que conservará essa carta de reserva, à espera de que as circunstâncias venham a convertê-la em trunfo, mas o mais provável é ser ele o refúgio que ainda resta a quem resiste a reconhecer o seu falhanço político. Aliás, é duvidoso que depois da guerra de sucessão  que vai principiar, com precários primeiros vencedores e vencidos não resignados, um PSD dividido mal curado da longa orfandade de Sá Carneiro, e agora sob o trauma de um abandono inesperado, estivesse de humor pacífico para apresentar como seu candidato à presidência da República alguém que, ou muito me engano, vais ser apontado como responsável de todos os males presentes e futuros do partido. Nunca estimei este homem, mas confesso que gostaria de conhecer o percurso mental, os movimentos de razão e de psique que o levaram a tomar esta decisão. Caso singular: ao anunciar a sua retirada, Cavaco Silva tornou-se num sujeito relativamente interessante…"
in Cadernos de Lanzarote - diário III - 24/01/1995

1 comentário:

Sputnickadelas