segunda-feira, 22 de outubro de 2012

mudam-se os tempos

Recordo com alguma nostalgia, as noites no Baía. O espaço era pequeno, acolhedor, e quando cheio de bons convivas, perdia-se o tino das horas, entre mais um copo, uma cigarrada, e mais uma cantiga.

Os tempos mudaram. Primeiro chegou a proibição de fumar. Aplaudi. Como cantor residente, era muito mais que fumador passivo naquele canto que me era destinado. O que se ganhou a bem da saúde, admito, não tem preço. Perdeu-se a partir daí, aquele fio condutor do convívio à mesa. Aquele que muito fuma, por necessidade ou apenas por ser maria-vai-com-as-outras, inventa um novo hábito de sair para a rua, a antes, durante e depois da refeição.

Os tempos mudam ainda mais. Com a crise, a malta negoceia com o restaurante. Espremem o mais que podem. Exigem o prato, a entrada, a sobremesa, e a bebida, muita bebida, por uns poucos euros. É pegar ou largar. Querem filé mignon ao preço da salsicha izidoro. Instalam-se de armas e bagagens na sala, onde após os comes e os bebes, fazem sala, sem fazer um tostão de despesa, porque dali vão para a night. Por ali andam a segurar o copo da bebida do menú, a saír e a entrar por causa do cigarro, e a tirarem fotografias uns aos outros, em poses e sorrisos de extrema felicidade. Observo-os do meu canto das cantigas, e diria que não se divertem, que não são genuínos, que fingem.

Chamem-me bota de elástico, mas, no meu tempo era bem melhor.

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