domingo, 21 de outubro de 2012

a alma das coisas

Um dos prazeres que o Gaspar ainda não me tirou, foi o de tomar o pequeno almoço fora de casa, pelo menos aos domingos. Rumando a Azeitão onde busco outro prazer, bem modesto, diga-se, verifico que o local habitual do galão e do bolinho fechou para descanso.

Encontro outro, ao acaso. Ao entrar, a atmosfera fez-me logo ver que não estava dentro de um qualquer "café", igual a tantos outros, impessoais, iguais, parecidos, semelhantes, modernos ou não, atá os clientes parecem iguais.

Este pequeno espaço, para além de um fartura de doces e salgados, de apetitoso aspecto, tem uma decoração original. Desde motivos ligados às touradas, a objectos de lavoura, talhas de azeite, telefones antigos, jarrões chineses, quadros, com o inesquecível retrato da criança com a lágrima, e sublimemente expostos, xailes de fadistas. Na aparelhagem, o som do rádio,no posto - Amália, pois então. Enquanto serve os clientes, o dono vai cantarolando os fados que se vão escutando. Sabe as letras todas e está afinadinho. Num canto da sala, descubro penduradas, uma guitarra de fado, e outra guitarra espanhola. Entre elas um poster. Aquela cara era-me familiar. Quando pedi a conta ao senhor, exclamei para mim - já sei quem é o gajo do poster. Gostei, senti que ali naquele cantinho existe uma alma muito nossa, que nos acolhe.

Em busca dos vinhos, para não destoar, sintonizei o rádio no FM. Amália.

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Sputnickadelas