sexta-feira, 19 de outubro de 2012

17 anos

Foi há 17 anos. Perdi o pai. Meses depois perco o avô. A hierarquia familiar pode ler-se por camadas. Quando temos camadas acima da nossa sente-se como que uma protecção, um tecto, que de certa forma e mesmo que fosse em sentido figurado, está ali, presente. Sabe-se onde estão. Por vezes um telefonema relembrava o respeito, a admiração, e o afecto tantas vezes escondidos. Mesmo que não pedidos, mesmo que não se concordando em pleno, os conselhos, as opiniões, as recomendações, eram discreta e silenciosamente guardados, pois afinal, a camada superior, para além do respeito merecido, tinha a experiência da vida, e nestes casos, a antiguidade é posto.

Foi há 17 anos, e quase de repente, o vendaval levou-me dois telhados. Não me parece ter passado tanto tempo. Talvez porque aquilo que muito nos marca fica tão presente, que por não se dissipar, ilude a passagem dos dias e dos anos. Se a tempestade do momento da perda, traz a dor e a revolta, a bonança que o passar dos anos, se encarrega de produzir, trás aquele sentir tão nosso, a saudade.

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Sputnickadelas