quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Outono troika

Difícil o exercício de viver este Outono, saborosamente, recapitulando os mimos, os rituais e hábitos do costume. Não porque se tenha perdido o apetite à água-pé, à castanha assada e à batata doce. Não porque se tenha perdido o prazer de escutar uns clássicos ou uma música mais cool. Muito menos a vontade de vaguear por trilhos incertos, onde somos nós e os nossos pensamentos, ou a visita às praias agora desertas.
Creio até que estes apetites se avivaram, que estão à flor da pele. 
O difícil é desligar por momentos da constante e presente incógnita de como vai ser o amanhã, a próxima semana, o próximo mês, o ano que vem, porque as previsões já eram, e muito menos as certezas.
Não queria viver neste estado de ansiedade, como diria Variações. Confesso que tento desanuviar, e por vezes a coisa até se vai conseguindo, mas basta-me escutar um político, um comentador, um bancário, e volta tudo à estaca zero.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

português batráquio

Será que a malta ainda não se deu conta que isto não vai lá com paninhos quentes? Será que o pessoal não sente que não chegam as concentrações, as manifestações, as vigílias, os cartazes, os movimentos nas redes sociais, e outras formas mornas e pacíficas, que até parecem divertir a cambada do governo? Não subscrevo violência, embora seja adepto ao boicote como forma de luta. Unir as pessoas em torno de uma causa, pode fazer parar parte do sistema. Contudo, o povo, não está para aí virado, se lhes disserem para não abastecer o carro de combustível, irão a correr encher o depósito. Um povo que alinha na pouca-vergonha que aconteceu no último 1º de Maio, carregando o carrinho do super-mercado com coisas inúteis, é um povo que se deixa cozer em banho maria, como a rã, não se apercebendo que está a colaborar na sua própria extinção. Porque não tenhamos dúvidas, a troika veio e vem cá para extinguir uns quantos. É uma extinção de colarinho branco, mas que não deixa de ser selectiva, implacável, destruidora de vidas e famílias. Hoje como dantes, os meios justificam os fins. A malta porém, continua alegremente a nadar na água  morna. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

mudam-se os tempos

Recordo com alguma nostalgia, as noites no Baía. O espaço era pequeno, acolhedor, e quando cheio de bons convivas, perdia-se o tino das horas, entre mais um copo, uma cigarrada, e mais uma cantiga.

Os tempos mudaram. Primeiro chegou a proibição de fumar. Aplaudi. Como cantor residente, era muito mais que fumador passivo naquele canto que me era destinado. O que se ganhou a bem da saúde, admito, não tem preço. Perdeu-se a partir daí, aquele fio condutor do convívio à mesa. Aquele que muito fuma, por necessidade ou apenas por ser maria-vai-com-as-outras, inventa um novo hábito de sair para a rua, a antes, durante e depois da refeição.

Os tempos mudam ainda mais. Com a crise, a malta negoceia com o restaurante. Espremem o mais que podem. Exigem o prato, a entrada, a sobremesa, e a bebida, muita bebida, por uns poucos euros. É pegar ou largar. Querem filé mignon ao preço da salsicha izidoro. Instalam-se de armas e bagagens na sala, onde após os comes e os bebes, fazem sala, sem fazer um tostão de despesa, porque dali vão para a night. Por ali andam a segurar o copo da bebida do menú, a saír e a entrar por causa do cigarro, e a tirarem fotografias uns aos outros, em poses e sorrisos de extrema felicidade. Observo-os do meu canto das cantigas, e diria que não se divertem, que não são genuínos, que fingem.

Chamem-me bota de elástico, mas, no meu tempo era bem melhor.

domingo, 21 de outubro de 2012

a alma das coisas

Um dos prazeres que o Gaspar ainda não me tirou, foi o de tomar o pequeno almoço fora de casa, pelo menos aos domingos. Rumando a Azeitão onde busco outro prazer, bem modesto, diga-se, verifico que o local habitual do galão e do bolinho fechou para descanso.

Encontro outro, ao acaso. Ao entrar, a atmosfera fez-me logo ver que não estava dentro de um qualquer "café", igual a tantos outros, impessoais, iguais, parecidos, semelhantes, modernos ou não, atá os clientes parecem iguais.

Este pequeno espaço, para além de um fartura de doces e salgados, de apetitoso aspecto, tem uma decoração original. Desde motivos ligados às touradas, a objectos de lavoura, talhas de azeite, telefones antigos, jarrões chineses, quadros, com o inesquecível retrato da criança com a lágrima, e sublimemente expostos, xailes de fadistas. Na aparelhagem, o som do rádio,no posto - Amália, pois então. Enquanto serve os clientes, o dono vai cantarolando os fados que se vão escutando. Sabe as letras todas e está afinadinho. Num canto da sala, descubro penduradas, uma guitarra de fado, e outra guitarra espanhola. Entre elas um poster. Aquela cara era-me familiar. Quando pedi a conta ao senhor, exclamei para mim - já sei quem é o gajo do poster. Gostei, senti que ali naquele cantinho existe uma alma muito nossa, que nos acolhe.

Em busca dos vinhos, para não destoar, sintonizei o rádio no FM. Amália.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

17 anos

Foi há 17 anos. Perdi o pai. Meses depois perco o avô. A hierarquia familiar pode ler-se por camadas. Quando temos camadas acima da nossa sente-se como que uma protecção, um tecto, que de certa forma e mesmo que fosse em sentido figurado, está ali, presente. Sabe-se onde estão. Por vezes um telefonema relembrava o respeito, a admiração, e o afecto tantas vezes escondidos. Mesmo que não pedidos, mesmo que não se concordando em pleno, os conselhos, as opiniões, as recomendações, eram discreta e silenciosamente guardados, pois afinal, a camada superior, para além do respeito merecido, tinha a experiência da vida, e nestes casos, a antiguidade é posto.

Foi há 17 anos, e quase de repente, o vendaval levou-me dois telhados. Não me parece ter passado tanto tempo. Talvez porque aquilo que muito nos marca fica tão presente, que por não se dissipar, ilude a passagem dos dias e dos anos. Se a tempestade do momento da perda, traz a dor e a revolta, a bonança que o passar dos anos, se encarrega de produzir, trás aquele sentir tão nosso, a saudade.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

a queda


Não fosse o caso dramático, seria até divertido observar a queda do PSD, em futuras eleições, consequência da demente actual governação. Desesperam os barões ppd's perante a evidência de tamanha queda, e logo eles, que tiveram algum trabalho e empenho, em, invocando o nome do malogrado Sá Carneiro, de roubar os votos ao PS. 

Não fosse o caso dramático, seria até divertido retornar a assistir à subida ao poder de um PS que nada mais fez do que merda, mas chegará ao poleiro, não pela sua competência, mas apenas, pela incompetência de outros.

Os delfins do poder central têm a justa fama de serem aldrabões. Das tangas de Passos, Sócrates e Portas bem se podia escrever um gordo livro. No entanto, tire-se o chapéu ao Passos, que conseguiu dizer-nos uma verdade: que se lixem as eleições. Prova que até um mentiroso consegue dizer uma verdade.

da vida

A dúvida é simples - como vamos assumir o conceito de esperança de vida a partir de agora? Escuto o médico na tv a falar da previsível possibilidade do aumento da idade na velhice, e olho para a minha previsão financeira e franzo o sobreolho. Porque quer se queira ou não, existe ligação entre as duas. O meu médico de família diz-me que tem perdido alguns clientes porque sabem não poder dar seguimento ao motivo da consulta - aviar a receita. Pelo que a maleita fica por curar. Logo, a esperança de vida, diminui. 

E falando dos mais novos, seguindo os actuais parâmetros impostos, qual a verdadeira esperança? É que a malta tem de entender que isto é coisa para quarenta anos. A ser verdade que a nossa segurança social só tem dinheiro para mais meia dúzia de anos, somando a tudo o que já se disse, como é que se pode falar conscientemente que a esperança de vida aumentou? Aqui, onde nos encontramos, não. Desespero talvez se aplique, vida, depende do que cada um entenda que ela seja.  Ultimamente, esta  não me sai da cabeça:

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Seixal, ou o retrato de Portugal


Decido-me em dar um giro pelo Seixal. Para além do benefício do caminhar, o fito eram os retratos. Contudo o melhor retrato daquele Seixal que tanto visito, é claramente  a semelhança com o meu país.

De um lado, o imponente edifício municipal, não integrado, deslocado, mamarracho, e carérrimo para sempre. Do mesmo lado outros edifícios, de menor luxo, mas também eles deslocados da vila, da população. O exemplo de que quando há dinheiro fácil, e se tem a rédea da decisão, se podem criar estes elefantes brancos. Uma foleira cascata artificial obviamente inactiva, seca de água, mas cheia de lixo, que rasga os relvados adjacentes, denuncia os sinais de degradação deste novo-riquismo.


Do outro, na vila, proliferam as casas de habitação, e os estabelecimentos votados ao abandono. Os cartazes anunciando a venda tentam a sua sorte, no meio daquele aglomerado de ruína e escombros. As gentes que por ali moram, envelhecidas como as casas vão co-habitando com as novas e recentes gentes que se tentam desenrascar na apanha ilegal da ameijoa. Por ali jazem também, vazios, os locais onde funcionavam os serviços agora instalados no "outro lado".

domingo, 14 de outubro de 2012

o silêncio dos culpados

Penalizo-me em parte por não rumar à manifestação de sábado, dado que existe o compromisso musical de fim de semana que me impede de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Considero vital toda a forma de contestação e luta contra os sucessivos saques a que estamos sujeitos. Considero uma obrigação de cada um que não se conforma em deixar de ter dignidade de simplesmente viver, ao fazer barulho, ao manifesto, qualquer que seja a forma. Há que incomodar, por enquanto pacificamente, pois no futuro, não se sabe se assim o será, porque os comportamentos humanos, em desespero, são imprevisíveis. E como diz o outro, perdido por cem...
Aos que calam, a todos os que assobiam para o lado, aqueles que por cobardia, ou acomodação, não abrem a boca, o meu desprezo. Tolos que são, pensando que, no futuro, no mínimo os seus não sofrerão as consequências. Culpados portanto, os calados. Porque os perdidos por cem serão cada vez mais, e certamente algo sobrará para cima dos ditos, os que calam.
Depois, existe uma outra espécie, os que estando confortavelmente instalados em bons salários, rendimentos e reformas, se fingem muito preocupados e indignados, mas isso é outra história, que faz lembrar o pós 25-Abril, onde muito vira-casaca, trocou o emblema na lapela.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

velhices

Somos, em parte, uns seres egoístas com os animais que nos rodeiam. Digo somos, referindo-me ao universo daqueles que entendem o animal como um ser, pois conheço muito boa gente, capaz de se ver livre de um animal, como se ele fosse um macaco-do-nariz, daqueles que na nossa infância, o captávamos da fossa nasal, e depois de devidamente enrolado, o atirávamos fora, com determinado prazer subversivo.

Sei há algum tempo, que duas das minhas canídeas companheiras, se encontram no limiar da idade. Os sinais são claros, como se não bastasse a cédula que inscreve uma data em forma de sentença. São os sinais da velhice, que estranhamente não gostamos de reconhecer nos animais, quem sabe porque, comodamente para os humanos, não são detectados, pela simples razão da sua oportuna saída antes dos ditos sinais. Ela são a falta de coordenação motora, a falta de firmeza nas patas, a surdez, a apatia, e o olhar vitreo, baço.

Não obstante, o amor, o carinho a devoção incondicional, e aquele abanar de cauda, permanecem como desde que as conheço. Uma está lá para fora, a outra descansa aqui aos meus pés. Apesar de mais velho,  o meu amor por elas, não mudou desde que as conheço. Também eu abano a minha cauda virtual quando as vejo. 

Resta-me a dúvida: apesar de, na minha condição de humano a minha esperança de vida ser superior à das minhas meninas, que, fazendo as contas 1x7 já ultrapassaram os oitenta anos, será que mesmo sem aquelas mazelas todas, lhes conseguirei sobreviver? É que elas têm uma grande vantagem, e todos aqueles que pagam contas, sabem qual é.

No que puder, farei com que estas cadelas vivam felizes até ao tal dia. É o mínimo que poderei fazer pelo tanto que já me deram.

Foto: acabadinha de tirar à Lady, nascida em Outubro de 1999.


superou-se

Este homem acaba de me surpreender. Quando pensava que dele, não mais haveria nada de novo, eis que, pimba, lá vem a tomada de posição, via España, dado que no dia 5 de Outubro, o que foi dito, foi nada, como de costume, um discurso autista, de circunstância, e desta vez à porta fechada. É assim como que falar para dentro. Falou via España, por dois motivos, digo eu. Por lhe faltar a coragem que deveria ter, a de falar aqui, e não lá. E porque pretende mais tarde dizer, eu falei!
Em vésperas de começarmos a ter de aprender a sério, inglês, alemão, francês, iraniano (diz-se que por lá se faz muito bom cinema) porque não há guito para as legendas, não virá mal ao mundo que o presidente português, vá botar discurso noutro país. Afinal se é de lá que nos chegam os limões, as batatas, e os cornfakes, porque não há-de vir este também, que para além de não nos alimentar, o alimentamos a peso de ouro?

domingo, 7 de outubro de 2012

Saramago sempre certeiro




"Cavaco Silva anunciou a sua retirada política: que deixará a presidência do PSD, depois do congresso do partido, e que não será candidato a primeiro-ministro nas eleições legislativas em Outubro. Sobre a eleição para a presidência da República, no ano que vem, não disse palavra. O silêncio poderia significar que conservará essa carta de reserva, à espera de que as circunstâncias venham a convertê-la em trunfo, mas o mais provável é ser ele o refúgio que ainda resta a quem resiste a reconhecer o seu falhanço político. Aliás, é duvidoso que depois da guerra de sucessão  que vai principiar, com precários primeiros vencedores e vencidos não resignados, um PSD dividido mal curado da longa orfandade de Sá Carneiro, e agora sob o trauma de um abandono inesperado, estivesse de humor pacífico para apresentar como seu candidato à presidência da República alguém que, ou muito me engano, vais ser apontado como responsável de todos os males presentes e futuros do partido. Nunca estimei este homem, mas confesso que gostaria de conhecer o percurso mental, os movimentos de razão e de psique que o levaram a tomar esta decisão. Caso singular: ao anunciar a sua retirada, Cavaco Silva tornou-se num sujeito relativamente interessante…"
in Cadernos de Lanzarote - diário III - 24/01/1995

miminhos do Outono

Assim tudo funcionasse neste cantinho como o clima. Em que outro reino destas bandas, se pode rumar à praia, usufruir de um sol radioso, de um céu azulão, de uma água a temperatura amena, e por ali ficar, apenas com as gaivotas, entre banhos, barriga para o ar, livro (ainda os cadernos do Saramago), e música nos ouvidos... 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

antes pelo contrário



Vislumbrou-se hoje, alguma coerência nos actos dos políticos que nos saqueiam. Ao contrário do que seria suposto numa nação saudável e de boa harmonia entre mandantes e súbditos, os políticos deste país, que tanto banho de multidão levam em épocas eleitorais, fecharam-se hoje a sete chaves, para ?celebrar? o 5 de Outubro. Não passa de uma consequência do resultado do trabalhinho sujo que andam a fazer. Diz o povo que quem tem cu tem medo. Ficou hoje comprovado, que o dito, todos estes, o têm. Provou-se hoje também, o desprezo. Gabo-lhes a atitude de enfim mostrarem ao país e ao restante mundo, a verdadeira posição de Portugal, simbolizada na bandeira. De pernas para o ar. Ao contrário. Do avesso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Genesis - The Carpet Crawlers

From Genesis to Revelation

Não, não é revivalismo. Se o amor é verdadeiro, não passa de moda, mantém-se para sempre. A minha devoção pelos Genesis, pode ter períodos de alguma letargia, mas permanece intacta, desde que os descobri, e mais ainda, desde que os vi, corria o quente ano de 1975. Quem diria que nesta foto, tirada ali para os lados do Guincho, estes quatro rapazolas fizessem obras primas, complexas, belas, de um rock sinfónico de cunho único. Nesta formação, cada macaco estava no seu galho. Genesis são foram Genesis até à saída de Peter Gabriel, tal como os Queen só o foram, enquanto Mercury comandou o palco. 

Lembrei-me por esta foto, que possuo uma considerável colecção de recortes sobre estes meninos, vamos ver se consigo dar com ela.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nostalgias, ou quem não tem cão...

... caça com gato.

Quando era miúdo, naqueles tórridos dias de verão, na falta de melhor, os meus mergulhos eram no tanque de lavar a roupa. O refresco era imediato, e a imaginação, que a sempre tive fértil, fazia o resto.

Em tempos de vacas magras, impossível que é pensar numa escapadela nem que seja a Marvão, dou comigo a navegar no google earth, e a revisitar alguns lugares , sem sair da cadeira. Foi assim que ontem, entre várias clicadelas, dei um pulo ao Luxemburgo, depois voei até Abidjan, de onde zarpei para Recife, dali a Varadero foi um pulo, e só parei em Corfu, antes de regressar, não sem antes fazer uma última paragem pelo Meco. Esta magnífica ferramenta permitiu-me estar virtualmente, nos hotéis, praias, avenidas, ruas, vielas, sem me levantar da cadeira. A imaginação,  que continua fértil, foi substituída pela memória, que sendo elefantina, fez o resto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

as 3 espécies de Tugas

Estou em crer que existem distintamente três grupos:
  • Uma minoria francamente de acordo com a actual situação do país, porque está inserida na máquina que nos gere, e daí tira largos dividendos, assegurando o próprio futuro financeiro e o dos seus. São os que gerem a política, a banca, as forças armadas, e a igreja. Tudo isto com as suas ramificações e os seus boys.
  • Uma segunda minoria, menos menor que a primeira, de gente que tenta não olhar para o terceiro grupo, assobiando para o lado, acomodados que estão com as sua confortável permanência na zona de conforto económico, porém, olhando de vez em quando para a nuvem que lhes paira em cima da cabeça, de um qualquer volte-face que lhes tire o tapete, ou do grande ponto de interrogação sobre como será o futuro dos seus filhos.
  • Uma grande maioria de gente, que sofre na pele as dores de ter de sustentar o primeiro grupo, e ajudar a sustentar o segundo, sem saber ao certo como vai ser o dia seguinte, muito menos como vai ser nos próximos meses, ou sequer, se vai ser. É o grupo que tende a aumentar por via da entrada de membros, vindos do segundo grupo, ao qual o texto de Brecht serve como uma luva. É o grupo dos que tendo a faca e o queijo na mão, não faz nada, por enquanto, para além de se manifestar, mais em passeio do que em verdadeira consciência de luta e de revolta. Porque enquanto os do primeiro grupo não levarem uns sustos, esta ordem não mudará.

Dia da Música - Incondicionalmente, dois ídolos

Dia da Música

Decerto que hoje em muitos lugares deste mundo se está a celebrar este dia. Desde programas organizados, a iniciativas pessoais. Isto porque a Música é respeitada e valorizada, porque faz parte da Cultura, porque se sabe ser essencial. Não o é porém, aqui por estas banda. Em Portugal, creio, as celebrações deverão ser de carácter individual, porque tal como os outros, gostamos de música, mesmo que alguns de gosto duvidoso, mas isso é com cada um. Oficialmente não se passa nada, porque para os surdos que poderiam decidir, insanos que são, não tendo o dom de escutar, não poderão dançar, nem bater palmas, a Música é pois, para estes, um filho de um Deus menor. Têm os nossos dirigentes o estranho dom de tentar fazer esquecer ou banalizar, vultos da nossa música, que os de lá de fora admiram. Tal com diz Saramago num dos seus cadernos, por ocasião da notícia de que as suas obras estavam a bombar em Itália, Alemanha e Espanha - de Lisboa, capital da Cultura, nada. Corria o ano de 93.