quinta-feira, 24 de maio de 2012

A ver os aviões

A ver navios, era uma expressão muito usada quando em tempos idos e dourados, os lisboetas contemplavam ali pela zona ribeirinha, a chegada e a partida, dos muitos navios. Assim estive eu hoje, de barriga para o ar, não a ver navios, mas sim aos aviões, a vê-los chegar e partir, porque por motivo que desconheço, a habitual estrada virtual aérea se mudou do Cabo Espichel para a Arrábida. Pela forma como evoluem, e pelo ruído dos reactores, sei quais os que sobem, bem como aqueles que descem. Tento vislumbrar-lhe as insígnias, e adivinhar-lhe as rotas. Imagino a rotina de bordo, tanto no vai, como no vem, imagino o tipo de passageiros que carregam, as alegrias, as excitações, as euforias, o tanto-faz, as tristezas, os dilemas, tudo isso cabe dentro de um avião, que para além de carregar as pessoas e as suas malas, também carrega as emoções. Relembro algumas vezes em que por ali passei, lá em cima, a olhar cá para baixo, sempre na tentativa de identificar os locais que me são familiares, e a imaginar que decerto estaria um gajo cá em baixo, deitado na sua toalha, de barriga para o ar, a interromper o seu Saramago, olhar o céu, pensar - mais um, deixa cá ver para onde vai, ou de onde vem, e ao mesmo tempo, assim como numa de nostalgia, pensar como seria bom, estar lá em cima, em vez de cá por baixo.

1 comentário:

  1. Sempre que vou a Lisboa fico encantado com as subidas e as descidas desses pássaros gigantes.
    Na Zona do Campo Grande é onde melhor consigo vê-los. O resto são segredos que não me acordam interrogações.
    Também gosto de ver passar os navios.
    São imagens muito românticas pelos passeios ou carregadas de dor do tempo em que parti num desses para África.

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