segunda-feira, 28 de maio de 2012

desigualdades

Fiz ontem parte, do elenco das pessoas responsáveis por animar uma festa de aniversário de um lar de idosos. Na primeira vez que ali toquei, fui cheio de pânico, dada a sensibilidade que há que ter com tão sénior grupo. Ontem, fui na desportiva, um pouco já integrado na família das gentes da casa, e de alguns residentes, que sendo resistentes, reencontrei na primeira actuação. Aparte todo o calor humano, e o sucesso do evento, não pude deixar de reavivar a memória, nas condições de cinco estrelas que este espaço proporciona aos que por direito próprio, ali poderão viver com todo o conforto e cuidados, até que a morte os encontre. Não pude também deixar de me lembrar de um outro espaço, que visitei, não na condição de músico, o que para o caso pouco interessa. Também este espaço tem o nome de lar de idosos, talvez das poucas coisas em comum com o primeiro. Este não tem capela, biblioteca, ginásio, cabeleireiro, como o outro. Mas tem velhos. Nem tão pouco, espaços envolventes lindamente ajardinados, festas, animações, actividades lúdicas, cinema. Mas tem velhos. O primeiro está certo, e o segundo errado. Vive-se no primeiro, e definha-se no segundo. O fosso entre as duas classes torna-se mais implacável nesta última fase da vida. Arriscaria a dizer que as pessoas com quem convivi ontem pedem para viver, e as que vi dias atrás, se não pedem para morrer, no mínimo esperam a morte. Porque não se lhes vê alegria, nem dignidade. Pelo andar da carruagem deste país, prevejo que aquilo que está certo, cada vez incomode mais aqueles que não estando errados, se sentem filhos de um deus menor. Um sénior vestido a rigor, engomadinho, com roupa de marca e sapato de vela, vai incomodar aquele que não têm sequer dinheiro para a sopa, e muito menos para o remédio. E isso, mais tarde ou mais cedo, vai-se pagar. Porque tudo tem um preço, e se cá se fazem, cá se pagam. Ou lá...

1 comentário:

  1. O problema, é que os segundos são mato e os primeiros não são suficientes, e são muitas vezes inatingíveis. É uma realidade amarga, mas é a nossa... Revolta, não é? A mim revolta-me as entranhas ao infinito, como deves calcular...

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