Fiz ontem parte, do elenco das pessoas responsáveis por animar uma festa
de aniversário de um lar de idosos. Na primeira vez que ali toquei, fui
cheio de pânico, dada a sensibilidade que há que ter com tão sénior
grupo. Ontem, fui na desportiva, um pouco já integrado na família das
gentes da casa, e de alguns residentes, que sendo resistentes,
reencontrei na primeira actuação. Aparte todo o calor humano, e o
sucesso do evento, não pude deixar de reavivar a memória, nas condições
de cinco estrelas que este espaço proporciona aos que por direito
próprio, ali poderão viver com todo o conforto e cuidados, até que a
morte os encontre. Não pude também deixar de me lembrar de um outro
espaço, que visitei, não na condição de músico, o que para o caso pouco
interessa. Também este espaço tem o nome de lar de idosos, talvez das
poucas coisas em comum com o primeiro. Este não tem capela, biblioteca,
ginásio, cabeleireiro, como o outro. Mas tem velhos. Nem tão pouco,
espaços envolventes lindamente ajardinados, festas, animações,
actividades lúdicas, cinema. Mas tem velhos. O primeiro está certo, e o
segundo errado. Vive-se no primeiro, e definha-se no segundo. O fosso
entre as duas classes torna-se mais implacável nesta última fase da
vida. Arriscaria a dizer que as pessoas com quem convivi ontem pedem
para viver, e as que vi dias atrás, se não pedem para morrer, no mínimo
esperam a morte. Porque não se lhes vê alegria, nem dignidade. Pelo
andar da carruagem deste país, prevejo que aquilo que está certo, cada
vez incomode mais aqueles que não estando errados, se sentem filhos de
um deus menor. Um sénior vestido a rigor, engomadinho, com roupa de
marca e sapato de vela, vai incomodar aquele que não têm sequer dinheiro
para a sopa, e muito menos para o remédio. E isso, mais tarde ou mais
cedo, vai-se pagar. Porque tudo tem um preço, e se cá se fazem, cá se
pagam. Ou lá...
O problema, é que os segundos são mato e os primeiros não são suficientes, e são muitas vezes inatingíveis. É uma realidade amarga, mas é a nossa... Revolta, não é? A mim revolta-me as entranhas ao infinito, como deves calcular...
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