segunda-feira, 29 de novembro de 2010

porque há outros amores


O título deste post, poderia ser algo do tipo - das colecções ou do colecionismo. Não ficaria mal, mas não seria em rigor, a definição, tal como a vejo, e vejo-a porque, ao meu formato, também coleciono, e vivi as colecções de que falo.
Quis o tão famoso destino, encarregar-me prematuramente, de desvendar as paternas colecções, e vendê-las. Dado que não são apenas pertença única, e do pessoal que ficou, ninguém se interessa pela continuação, determinou-se há mais de uma década, ser eu o executor do desmembramento. Eu poderia dizer, desventrar, porque por vezes é o que sinto que estou a fazer em cada caixa que abro. E dou com moedas, e notas, e selos e cintas de charuto, e medalhas, meticulosamente guardadas. Guardadas, porque havia um sonho, o sonho de, no aconchego da reforma alcançada, se permitir ao disfrute de as arrumar, catalogar, inventariar, contemplar. Mas não foi assim, ao o ganho da reforma, seguiu-se uma imediata perda, a da vida, e lá ficaram as caixas, os caixotes, os sacos e os saquinhos. Durante anos ponderei, adiei, até que, voz experiente me alertou para a degradação dos pertences, e lá me resolvi ao propósito. De catálogos e lupa em punho, tenho vindo a negociar peça aqui, peça acolá, e criando buracos nos albuns, deixando mais leves as caixas. Assisto com alguma nostalgia, e tristeza, ao desventrar do desvendado. Na forma como tudo encontrei, reconfirmei as muitas horas de dedicação, relembrei a minha cata à moedas de vinte e cinco tostões de 66, que eram difíceis de arranjar, e sempre aquele alerta - olha que tens de olhar sempre para as de dez tostões, as de 35 são raras, e não te esqueças dos selos das cartas. Foram anos e anos de recolha, e de estar alerta. Havia um núcleo familiar e de amigos que conspirava a favor de engordar aquelas caixas. Aos poucos vou revendo os episódios, e ao olhar para aquela confusão instalada lá no meu buraco, ganho a certeza de que se o meu pai foi feliz aos amores, também o foi com as colecções que criou, e deu-lhes muito amor. E como eu o entendo, pois dou-o ao meu harém de violas, que dado o número já lhe posso chamar de colecção.

1 comentário:

Sputnickadelas