sexta-feira, 17 de maio de 2013

Delírios

A sala estava particularmente atractiva, a meia luz, gente bonita espalhada pelas mesas redondas. O meu palco, acolhedor, com as violas alinhadas, à espera de serem tocadas. Na mesa mais próxima, mesmo ali à minha frente, cinco mulheres, irradiando  charme e distribuindo olhares. No misto que servia  de camarim, e de lavatórios, faço a barba, com duas máquinas de barbear, uma delas com duas cabeças enormes, que mais parecia uns binóculos. De vestido curto, justo ao corpo, uma das belezas da mesa próxima, levanta-se e dirige-se ao lavabo do meu lado. Pelo espelho trocamos olhares cúmplices. Já não sei se estou a fazer a barba ou a tocar, tal é a confusão. A tocar, estou a tocar, e a troca olhares e sorrisos ganha intensidade. Mas a viola não afina. Dela só saem os sons que não lhe pertencem. Aquele pi-pi-pi-pi, não pára. Onde estão os olhares que troquei? Ah, pois. O despertador. São 7:30. Vamos lá a levantar e fazer a barba. Sem plateia. Os sonhos são do caraças.
"Na terra dos sonhos podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal"
Jorge Palma

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Sputnickadelas