domingo, 15 de abril de 2012

100 anos








Precisamente no dia em que se afundava o Titanic, nascia o meu avô paterno, que curiosamente passou mais de metade da sua vida a navegar. O navio era muito mais o seu lar do que a sua casa em Lisboa. Embora amasse os seus, e quantas vezes o provou, o seu porto de abrigo vivia em mar alto, de cais em cais. Só me apercebi dessa felicidade não demonstrada em terra, quando fiz uma daquelas grandes viajens, a bordo da sua casa navegante. Foram quase dois meses de um outro avô que aqui nunca se revelou, quem sabe por lhe faltar o balanço do mar. Tempos antes da sua derradeira partida ainda pude juntar um bom rol de narrações das suas travessias, por mares navegados, mas com rotas que julgo quase impossíveis de repetir nos dias de hoje. Muitas conversas, entre garfadas nos petiscos que lhe fazia, e algumas confidências, me passou este calado Homem, que como bom lobo do mar, só abre palavra a quem bem entende. Foi um previlégio, este avô. Faria hoje cem anos. Mas a morte afundou-o. Duas vezes.

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Sputnickadelas