sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ciclos



Partiu deste mundo, ontem, a minha última tia-avó. A última visita que lhe fiz, a pedido da minha mãe, considerei-a maravilhosa. Uma lição de vida de uma pessoa que sempre foi simples, dedicada aos seus, vivendo apenas com os mínimos recursos, como lhe ensinara afinal, disse-o ela, a minha avó. Neto babado que sempre fui, naquela derradeira visita ao Espinheiro, lá pelos lados de Alcanena, tão bem que soube escutar o rol de histórias de quem passou tanta privação numa terra que muitos anos atrás poucos ou nenhuns horizontes podia oferecer aos seus. Quase por imposição da senhora minha avó, lá rumou o casalinho a Lisboa, onde progrediram a pulso nos rumos das suas vidas. Sofrida, esta minha tia, entre sorrisos das lembranças das peripécias vividas, e o recordar da perda recente dos seus dois filhos, fez-me ver de que fibra são feitas as pessoas de coragem. Ontem, com a sua partida fechou-se um ciclo. Outros virão, outros fecharão. De muitas imagens dela, recordo-a equilibrando grandes cestos à cabeça, sem perder a postura elegante no andar. Ensinamento da minha avó, eximía nesta arte de equilibrar volumes à cabeça por aquela Lisboa fora. Hoje, imagino-as juntas, a reverem velhas histórias, lá, onde dizem que se vive para além desta vida.

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Sputnickadelas