quarta-feira, 20 de junho de 2012

dormindo com o inimigo

Conheço a H há cerca de dois anos, ela e a F, seu braço direito e melhor amiga, gerem um pequeno lar de idosos, ali bem perto de onde toco todas as 6ªs feiras. Aos poucos foi-se tornando um hábito, elas chegarem cedo para jantar, e ficarem na minha mesa, onde me abasteço de energias para encarar a noite de músicas e cantorias. Muitas vezes à lareira, outras na esplanada, conforme a estação do ano. Exaustas de uma semana de trabalhos e cuidados aos velhinhos, descomprimiam ali a H e a F ao sabor de uns grelhados, bem regados de sangria, ou verde à pressão, serão fora, com direito a discos pedidos, de tal forma, que eu, já lhes sabendo os gostos, ia dedicando uma ou outra canção. De vez em quando vinham mais murchas, um velhote que partira. As pessoas não são imunes, criam laços. Este tipo de trabalho tem estes espinhos. Muitas vezes já na despedida, era bom receber o agradecimento, por lhes ter proporcionado tão descontraídos momentos. Eu retribuía, porque sem público, não há artista. Há dois dias atrás, foi a H regada pelo marido, com petróleo. Acto contínuo, pegou-lhe fogo. Por ciúmes, diz-se. Não me sai da cabeça o rosto alegre e rosado da H, a cantarolar na mesa, bem disposta, com o seu copinho na mão. 

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Sputnickadelas