sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

o Rei

O Rei, assim era, e é, conhecido na rede social. Conheço-o desde a adolescência, desconheço-lhe o trajecto de vida. A rede fez, como em tantos outros casos com que nos reencontrássemos, na via virtual. Dado que ambos pertencemos a um grupo fechado dentro da rede, por ali fui sabendo das dificuldades do Rei. Com alguma regularidade surgiam pedidos de solidariedade, comida, dinheiro, uma oportunidade de trabalho, tudo seria bem vindo. Uma vez animou-se, arranjou um estágio, que depressa deixou de o ser. Afundou-se novamente, entre as contas por pagar, e o desânimo do ser humano que no limiar dos cinquenta anos, é apanhado na roda dentada criada pelo "sistema" democrático, como excedente, ou não essencial. Haviam dois dias que na rede ninguém sabia do Rei, nem o telemóvel atendia. Comentou-se na rede que se lhe acabara o dinheiro para a luz, e para o telefone. Mas não. Haviam dois dias completados, quando se descobriu que o Rei jazia frio na sua cama, morto, na espera das ajudas prometidas e de um subsídio atribuído pelo estado, que não chegou a tempo.

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