domingo, 18 de março de 2012

o trilho secreto

Os habitantes da aldeia próxima usam-no uma vez por ano. A convite, com muita honra, e porque o corpo me permitia, atravessei os seus cerca de doze quilómetros, primeiro a subir, e a subir, muito, depois, a descer, e a descer muito, até ao oásis, a praia. Merecida recompensa. Quando é permitido atravessá-lo, na sexta-feira santa, lá se vêm os grupos em peregrinação. Não é um caminho, é O Caminho. Durante o trajecto em que palmilhamos o seu enredo, não damos de caras com um único vestígio do bicho homem. Muitos dos trilhos são atapetados pelas folhas caídas, e é como que se esses pedaços estivessem alcatifados, de tão suaves que são. Em muitos locais, a vegetação é tão cerrada, que a luz difícilmente ali penetra. Mas bom mesmo, disse-me o amigo da aldeia, é ficar ali, sozinho, quieto, mudo, sem fazer um ruído, comungar com a passarada, e com sorte avistar a fauna residente, de preferência no início ou no final do dia. O problema é que do acesso ao trilho, poucos sabem. Hoje descobri-o. O Caminho. Palpita-me que em breve desvendarei mais do que os parcos metros que hoje lhe palmilhei. Sei que é proibido. Se por lá me acharem, que me prendam. Pelo menos como de borla durante uns dias.

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